O Psicólogo Responde: Como se deve lidar com o stress na tomada de decisões importantes?
Decisões

O Psicólogo Responde: Como se deve lidar com o stress na tomada de decisões importantes?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Daniel Teixeira Coelho
Psicólogo e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Para abordar um tema como este iremos começar por definir do que é que falamos quando falamos de stress. 

O stress é uma resposta do indivíduo a situações/ambientes que exigem um nível de esforço relevante, é um estado de ativação prolongado em resposta a acontecimentos que são percebidos como sendo ameaçadores. Este estado é desencadeado pelo sistema nervoso, envolvendo a libertação de hormonas (por exemplo a adrenalina). O stress pode ser desencadeado por uma ampla variedade de situações e estímulos.  

Normalmente envolve diferentes dimensões que são percebidas como sendo: fisiológicas (aceleração do batimento cardíaco, tensão muscular), emocionais (irritabilidade, ansiedade), cognitivas (agitação, pessimismo) e comportamentais (alteração de hábitos) 

O stress é uma resposta adaptativa, isto é, permite à pessoa mobilizar recursos para ultrapassar situações adversas e tem a característica de motivar para a ação. O stress permite assim fazer face ao meio ambiente e evoluiu ao longo do tempo no ser humano como um mecanismo que permite às pessoas mobilizar recursos e consequentemente estarem mais adaptadas e sobreviver ao longo da evolução. 

É importante salientar que as respostas de stress que foram adaptativas ao longo da evolução humana em ambientes anteriores (desde há milhões de anos) podem não ser adequadas nos dias de hoje, numa época em que o meio e os estímulos a que estamos sujeitos são totalmente diferentes daqueles com que nos deparámos ao longo da nossa evolução. Assim se verifica que o stress crónico, ativado em resposta a desafios contínuos e complexos da vida ocidental atual, pode levar a problemas de saúde psicológica.  

Deste modo, enquanto o stress tem valor adaptativo em contextos específicos, a sua gestão adequada é essencial para o bem-estar na sociedade contemporânea. É comum, neste contexto, distinguir entre dois tipos distintos de stress:  Eustress e Distress. 

O Eustress proporciona um aumento da motivação e da ação positiva, podendo, por exemplo, provocar um aumento do foco e da produtividade do indivíduo. Ocorre essencialmente em ocasiões não muito prolongadas no tempo, em situações que são desafiantes, mas exequíveis de concretizar (por exemplo: estudar para um exame). Pode melhorar o desempenho e a eficiência, ajudando as pessoas a alcançar objetivos e enfrentar desafios.  

O Distress origina sentimentos de ansiedade e preocupação, podendo resultar numa sensação de sobrecarga por parte do sujeito. Pode ser de curta duração ou longa duração. Pode causar uma variedade de problemas de saúde, incluindo dores de cabeça, problemas digestivos, distúrbios do sono, e condições mais graves como hipertensão e doenças cardíacas. Tem clara interferência no bem estar psicológico. 

Deste modo, o stress está presente em todas as situações de vida e tem um papel importante no modo como nos adaptamos, sendo por isso determinante o modo como o gerimos. Existem estratégias gerais para lidar com o stress, aplicáveis ao dia-a-dia, nas quais se incluem em primeiro lugar os hábitos de autocuidado promotores de saúde psicológica.  

Ter particular atenção a uma higiene do sono adequada, adotando hábitos como horário regular para dormir e acordar, evitar o consumo de álcool à noite, dormir em quarto sem luz, sem ruido e com temperatura adequada, roupa da cama confortável e própria para dormir, ausência de tecnologia do quarto e não utilizar a cama para trabalho intelectual ou de lazer.  

Praticar exercício físico regularmente. Manter-se “em forma”, de acordo com o seu nível de expectativa, não só promove mais robustez e maior resistência ao cansaço, como origina a libertação regular de endorfinas, hormonas associadas ao bem-estar e ao humor.  

Evidentemente a tomada de decisões importantes é uma situação potencialmente desencadeadora de stress. Assim, apresentamos alguns aspetos mais concretos que se podem utilizar para lidar com situações e momentos específicos, como a tomada de decisões que são importantes. 

Estratégias de tomada de decisão

Já anteriormente abordámos os processos de tomada de decisão, a propósito do tempo necessário para os concluir. Não cabendo no espaço e contexto desde texto, a adoção de estratégias de tomada de decisão explícitas, introduzindo racionalidade no processo, facilita a gestão do stress, tornando claros os processos através dos quais estamos a conduzir a resolução de problemas e a tomada de decisões.  

Técnicas de relaxamento

Para além de uma prática regular de relaxamento e meditação (e é necessária alguma aprendizagem e prática) estas técnicas podem poder ser úteis quando estamos perante situações específicas. Deste modo, fazer exercícios de respiração profunda, centrada no diafragma (situado no abdómen), inspirando pelo nariz e expirando pela boca, ajuda a relaxar e a reduzir a ansiedade.  

Gerir as emoções

A regulação das emoções é uma competência essencial para a saúde psicológica, estando muito relacionada com a autoeficácia. Sendo uma competência transversal, pode ser particularmente útil em situações específicas de tomada de decisão, as quais envolvem invariavelmente emoções (por exemplo associadas a relações com outras pessoas) que influenciam o julgamento e a racionalidade. Aqui referimo-nos a gerir ou mudar a forma como pensamos as nossas experiências emocionais. Deste modo, será importante, por exemplo, conhecer os nossos sinais pessoais corporais de elevação das emoções e o que os desencadeia.  

Partilhar emoções

Por último, pode parece óbvio, mas é frequentemente negligenciado. Partilhar problemas, comunicar, falar com alguém de confiança sobre o que sentimos (familiares, amigos, colegas). Em situações específicas de tomada de decisão, a partilhar o que sentimos iremos obter uma perspetiva diferente do problema e muitas vezes conseguir relativizar as emoções que estamos a sentir. 

Tudo o que foi acima dito se encaixa num fator essencial para a saúde psicológica: o autoconhecimento. Somos todos diferentes e é essencial percebermos como funcionamos. Como dormimos? Que exercício físico melhor se encaixa nas nossas características e modo de vida? Que enviesamentos podem estar presentes nas nossas decisões? Existem algumas situações mais específicas perante as quais sintamos mais stress? Como reagimos a essas situações?  

As respostas a esta e a outras questões semelhantes serão o primeiro passo para sermos pessoas mais saudáveis e adaptadas, assim queiramos mudar. 

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