O Psicólogo Responde: Como promover um ambiente emocionalmente seguro para os filhos?
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O Psicólogo Responde: Como promover um ambiente emocionalmente seguro para os filhos?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Carolina Garraio
Psicóloga e bolseira de doutoramento

Não existem estratégias infalíveis nem um livro de receitas com todos os passos para garantir que o seu filho cresce num ambiente emocionalmente seguro. Vamos admitir que, por vezes, daria muito jeito! O desejo de dar o melhor de si, de ser o melhor pai ou a melhor mãe possível traduz-se, muitas vezes, em dúvidas, inseguranças, e momentos de desespero.

A massificação de informação sobre parentalidade – o que fazer, como fazer, tudo contado ao milímetro – com intenção de ajudar, torna esta tarefa ainda mais complexa para pais e mães que andam com um pequenino coração nas mãos e querem fazer sempre o melhor pelos seus filhos.

Apesar de não existirem estratégias à prova de bala, há já reunida muita evidência científica sobre o que pode criar este ambiente seguro e, por consequência, promover um desenvolvimento saudável da criança.

Em vez de começarmos pelo presente, comecemos pelo passado. Antes de se tornarem pais e mães, foram filhos/as, antes do "nós", existiu o "eu". Os pais e mães transportam aos ombros não apenas o peso da responsabilidade da parentalidade, mas também a herança de quem foram – como homens, mulheres, companheiros, filhos e filhas. Herdeiros de uma história que inevitavelmente molda a forma como veem e desempenham agora o seu papel de pais e mães.

Os pais e mães sentem-se seguros? Apesar de esta pergunta parecer não estar relacionada com o tema principal desta rubrica, é na verdade uma questão que a deveria anteceder. Ser-se pai e mãe não é fácil. Se a transição para a parentalidade é uma fase que abre um grande espaço a novas aprendizagens, é também um momento privilegiado para, consciente e, maioritariamente, inconscientemente, se replicarem padrões de interação (verbal e não verbal) a que assistia quando era criança.

Para promover um ambiente emocionalmente seguro aos seus filhos, os pais e mães deverão também eles sentir-se seguros. Sentir-se seguro não é barrar-se das dúvidas e rejeitar os erros. Pelo contrário: é, por entre a incerteza, reconhecer que o erro é inevitável e conseguir reagir para o reparar, identificar a origem das suas reações e agir para mudar. Olhar para trás e para o nosso interior pode trazer desconforto, mas pode ser nesse desconforto que reside o espaço para o crescimento emocional. É no reconhecimento das próprias vulnerabilidades e na disposição para a mudança que se constrói um ambiente seguro para os filhos — um espaço onde a imperfeição não é sinónimo de falha, mas de crescimento.

Já alguma vez parou para se questionar quem quer ser enquanto pai, enquanto mãe? Para refletir sobre o impacto que as experiências do seu passado têm na forma como é pai e mãe e o que gostaria de fazer diferente ou, por outro lado, aquilo que realmente aprecia e gostaria de transmitir na relação com os seus filhos?

Tal como as aulas de preparação para o parto ajudam a antecipar desafios físicos e práticos da chegada de um bebé, a preparação emocional para a parentalidade é igualmente essencial. A forma como os pais e mães se conhecem e lidam com as suas próprias emoções influencia diretamente o ambiente que criam para os filhos e a relação que estabelecem. Refletir sobre o impacto das próprias experiências permite distinguir

entre reações automáticas e escolhas conscientes. Afinal, criar um ambiente emocionalmente seguro começa antes mesmo do nascimento, na disponibilidade dos pais e mães para acolher não só o bebé, mas também as transformações que essa experiência traz consigo.

Um recém-nascido é um ser completamente imaturo e dependente dos seus cuidadores. Enquanto os adultos já acumulam todo um reportório de experiências de vida (e, ainda assim, por vezes reagem de forma impulsiva, teimam sem razão aparente e demonstram a sua própria quota de imaturidade), um bebé começa a construir a sua visão do mundo e de si próprio sem qualquer experiência prévia. Os seus cuidadores, os pais e as mães, são a sua referência.

Retomando a ideia da massificação da informação, importa regressar ao mais básico e fundamental: a relação. É na qualidade da relação entre pais/mães e filhos que reside o potencial para que uma criança se desenvolva de forma saudável. Por qualidade da relação entendemos a capacidade dos pais e mães responderem prontamente aos pedidos de apoio e proximidade do bebé/criança que começam por se manifestar através do choro ou irritabilidade. É importante não esquecer: um bebé/criança não tem competências para se regular sozinha e precisa do apoio do adulto para o fazer através do toque, do abraço, da voz, do colo. E por muito que possa parecer inconveniente, as necessidades do bebé não se ajustam às rotinas do adulto. Por isso, estes pedidos surgem sem hora marcada. Progressivamente, o bebé/criança vai desenvolvendo uma representação interna positiva do outro, que percebe como sendo de confiança. E de si própria, como alguém que merece receber apoio. Na prática, isto significa que, quando precisa de ajuda (prática ou emocional), vai pedi-la e sabe que a receberá. Criamos assim um contexto para que o bebé/criança desenvolva relações seguras e saudáveis, baseadas na confiança e na previsibilidade do cuidado recebido.

Afinal, por que razão é tão imperativo que os pais e mães criem um ambiente emocionalmente seguro para os seus filhos? Essencialmente porque as experiências de vinculação primárias não só promovem o bem-estar imediato da criança, como são um modelo para as relações que os seus filhos irão cultivar ao longo de toda a vida!

Sugestões:

  • Cuide do seu próprio bem-estar emocional: A segurança emocional dos filhos começa com pais emocionalmente disponíveis. Reflita sobre as suas emoções e experiências e como estas influenciam a sua parentalidade.
     
  • Prepare-se emocionalmente para a parentalidade: Tal como se prepara fisicamente para a chegada de um bebé, é essencial estar disponível para as mudanças internas e emocionais que acompanham essa transformação.
     
  • Aceite a imperfeição: Na parentalidade todas as pessoas enfrentam momentos de dúvida ou decisões que, mais tarde, repensam. O importante é estar disponível para refletir, ajustar e aprender com cada experiência.
     
  • Valorize a qualidade da relação: Lembre-se de que a criança depende do adulto para aprender a regular-se. O colo, o toque e a presença atenta são fundamentais para o seu desenvolvimento saudável.
     
  • Peça ajuda profissional: Ser pai ou mãe é desafiante, e nem sempre é fácil lidar com tudo. Procurar o apoio de um/a psicólogo/a pode ser um passo importante para compreender melhor as suas emoções, quebrar ciclos e fortalecer a relação com os seus filhos. Cuidar de si também é cuidar dos seus filhos.

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