O Psicólogo Responde: Ataques de Pânico e crises de ansiedade - Como distinguir?
Ataque de pânico

O Psicólogo Responde: Ataques de Pânico e crises de ansiedade - Como distinguir?

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Ana Nunes da Silva
Psicóloga e membro do Conselho de Especialidade de Psicologia Clínica e da saúde das Ordem dos Psicólogos Portugueses

Quando falamos de ataques de pânico e de crises de ansiedade por vezes estes termos podem ser usados no senso comum como sinónimos, mas na realidade são coisas diferentes. Apesar de serem diferentes os mesmos estão relacionados e podem ter sintomas parecidos.

Uma Crise de Ansiedade é uma resposta emocional intensa a uma situação de stresse, preocupação ou medo. Pode ir-se intensificando aos poucos. Geralmente tem um gatilho claro, como problemas no trabalho, na saúde, nas relações, etc. Normalmente os sintomas são mais persistentes e prolongados, e podem incluir: preocupação constante ou exagerada; tensão muscular; irritabilidade; dificuldades de concentração; insónia; batimentos cardíacos acelerados; e/ou sensação de aperto no peito. Pode durar horas ou dias e a tensão pode ir-se acumulando ao longo do tempo. A pessoa, embora aflita, costuma manter algum grau de controle da realidade e de si.

Um Ataque de Pânico é uma onda súbita de medo intenso ou desconforto extremo, que atinge o pico em minutos. Muitas vezes os ataques de pânico são descritos como “aparecendo” sem aviso ou sem um gatilho claro, havendo uma súbita manifestação de medo intenso, acompanhado de sintomas físicos alarmantes, mesmo sem uma ameaça real. É agudo, surge de repente, atinge o pico em 10 minutos e pode durar até 30 minutos. A pessoa sente que vai morrer, enlouquecer ou desmaiar, e muitas vezes procura ajuda médica pois acredita estar a ter um ataque cardíaco. Um ataque de pânico pode acontecer mesmo em repouso.

Segundo o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico das Perturbações Mentais), um ataque de pânico é definido como um surto súbito de medo ou desconforto intenso que atinge um pico em minutos. Durante esse pico, quatro ou mais dos seguintes 13 sintomas devem estar presentes:

Palpitações, coração acelerado ou batimentos cardíacos fortes

Sudorese

Tremores ou abalos

Sensações de falta de ar ou sufocamento

Sensação de asfixia

Dor ou desconforto no peito

Náusea ou desconforto abdominal

Tontura, instabilidade, sensação de desmaio ou cabeça leve

Calafrios ou ondas de calor

Parestesias (sensações de dormência ou formigamento)

Desrealização (sensação de irrealidade) ou despersonalização (sentir-se fora de si)

Medo de perder o controle ou “enlouquecer”

Medo de morrer

Como estes sintomas aparecem de forma súbita e muitas vezes sem aviso, podem ser muito assustadores para quem os experiencia. Os sintomas consistem na resposta de luta ou fuga do sistema nervoso simpático, mas esta resposta acaba por ser ativada fora do contexto de uma ameaça real identificável. Os ataques de pânico podem ser transversais a diversas perturbações. Muitas vezes falamos em perturbação de pânico, se existir preocupação persistente com a possibilidade de novos ataques de pânico (medo de voltar a sentir aquela sensação) ou das suas consequências ou ainda se há alteração significativa não adaptativa na vida da pessoa relacionada com os ataques de pânico. Algumas condições que mantêm esta perturbação são a hipervigilância aos sintomas, a interpretação catastrófica dos sintomas (estou a ter um ataque cardíaco/vou morrer/vou ficar louco/não suporto passar novamente por aquela sensação), e evitar situações em que sinta que possa ter um ataque de pânico.

Do ponto de vista clínico uma “Crise de ansiedade" não é um diagnóstico formal. O termo é comumente usado na linguagem popular, e também em contexto clínico, mas não aparece como uma categoria diagnóstica oficial nem no DSM-5-TR nem na CID-11 (Classificação Internacional de Doenças). Assim, uma “Crise de ansiedade” é uma descrição de um episódio de ansiedade intenso, mas não constitui em si um diagnóstico. Por outro lado, Ataque de Pânico é um termo formalmente definido como descrito acima.

Na prática clínica, se um paciente relatar “Tive uma crise de ansiedade muito forte”, é importante compreender sintomas e natureza dos mesmos, o contexto da crise e enquadramento mais geral na vida da pessoa: É uma manifestação aguda de outra perturbação de ansiedade, como por exemplo a ansiedade social (medo excessivo de situações sociais)? Foi um ataque de pânico? Foi um episódio isolado? É uma resposta situacional, não patológica, mas intensa? Há alguma condição física que justifique os sintomas?

Independentemente das suas diferenças, quem já passou por ataques de pânico ou crises de ansiedade sabe o quanto pode ser desgastante, e/ou assustador. Se já experienciou qualquer uma destas situações, pode procurar ajuda de um profissional que possa explorar e melhor enquadrar essa manifestação de ansiedade.

Deixo aqui algumas sugestões que podem ajudar tanto no momento de uma crise quanto a longo prazo:

Durante um ataque de pânico

Respiração consciente (também conhecida como 4 por 4)

Inspire pelo nariz contando até 4, sustenha por 4, expire pela boca por 4. Repita por alguns minutos. Foque-se na respiração. Isso ativa o sistema parassimpático e ajuda a reduzir os sintomas físicos.

  • Técnica 5-4-3-2-1 (Ancoragem)

Ajuda a sair da espiral de pensamentos e focar-se no momento presente, identifique à sua volta:

5 coisas que consegue ver

4 coisas que consegue tocar

3 coisas que consegue ouvir

2 cheiros que consegue identificar

1 gosto que consegue perceber

Pode ser uma forma de se voltar a focar na realidade, principalmente se tem manifestações de despersonalização e desrealização.

  • Fale consigo mesmo com compaixão

Diga a si mesmo: “Isto vai passar. Eu já passei por isto antes e sei que vai passar.”

Tente lembrar-se que, mesmo que pareça grave, o corpo está apenas a reagir ao stresse.

  • Saia do ambiente que o está a ativar (se possível)

Às vezes, mudar de lugar pode ajudar — um local mais calmo, arejado, com menos estímulos.

  • Use estímulos físicos

Passar água fria no rosto ou mãos

Tirar os sapatos/meias e colocar os pés numa superfície fria

Estratégias a longo prazo

  • Intervenção psicológica e Psicoterapia

Procurar um psicólogo clínico poderá ajudar a compreender melhor os seus sintomas e a encontrar soluções adequadas ao enquadramento específico das suas dificuldades.

Uma estratégia focada no Autocuidado pode também ajudar, como:

Exercício físico regular: Caminhadas, dança, ginásio, ioga... Movimentar o corpo ajuda a reduzir a ansiedade acumulada.

Higiene do sono: Sono regular e de qualidade tem impacto direto na ansiedade.

Meditação e mindfulness: Praticar atenção plena diariamente reforça a competência de regulação emocional e reduz a reatividade.

Evitar gatilhos (quando possível): Se identifica situações, ambientes ou hábitos que provocam crises, vale a pena refletir sobre como lidar ou ajustar a sua relação com os mesmos.

Cada pessoa é única. Se não compreende a sua ansiedade, um psicólogo pode ajudar.

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