O Psicólogo Responde: A vontade de comer em excesso pode resultar de causas emocionais?
Comida

O Psicólogo Responde: A vontade de comer em excesso pode resultar de causas emocionais?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Cristina Pereira
Psicóloga e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Comer não é apenas uma necessidade física. Muitas vezes, está ligado às nossas emoções. Quando nos sentimos ansiosos, tristes, ou até aborrecidos, é comum recorrermos à comida como forma de nos sentirmos melhor. Mas será que a vontade de comer em excesso pode, realmente, estar relacionada com as nossas emoções?

O que é a "alimentação emocional"?

A "alimentação emocional" acontece quando comemos para lidar com os nossos sentimentos, em vez de comer por fome. Ao invés de seguirmos as necessidades do nosso corpo, procuramos na comida uma forma de conforto. Este comportamento pode ser uma forma de aliviar desconforto, frustração, ou até preencher um vazio emocional.

Por exemplo, quando estamos stressados, o corpo liberta uma hormona chamada cortisol, que pode aumentar o desejo por alimentos ricos em gordura e açúcar. Esses alimentos dão-nos uma sensação momentânea de prazer, mas é temporária, o que pode levar a um ciclo de comer sempre que as emoções nos dominam.

Como o stress e a ansiedade influenciam?

Muitas pessoas que enfrentam níveis elevados de stress diário ou que vivem com ansiedade têm mais dificuldade em controlar o que comem. Isso deve-se ao impacto que o stress tem no cérebro, afetando o nosso "sistema de recompensa" e tornando-nos mais propensos a procurar alívio emocional através da comida.

Quando esta resposta se torna um hábito, pode resultar em problemas de saúde, como o ganho de peso ou outras complicações relacionadas com a alimentação descontrolada.

A relação com a autoestima

A forma como nos sentimos connosco próprios também influencia o nosso comportamento alimentar. Pessoas com baixa autoestima ou que não têm uma relação saudável com o seu corpo podem usar a comida como uma forma de compensação emocional.

Comer para preencher este vazio emocional pode, no entanto, levar a sentimentos de culpa, o que apenas intensifica o ciclo de comer em excesso.

O que pode ajudar a quem passa por isto?

  • Identificar os estímulos emocionais desencadeantes (autoconhecimento)

    Perceber que emoções estão por trás do impulso de comer em excesso é o primeiro passo. Manter um diário onde se anotam os sentimentos e as refeições pode ajudar a identificar padrões.
     
  • Gerir o stress

    Práticas como a meditação, exercícios de respiração ou até atividade física regular podem ajudar a reduzir o stress e a diminuir a vontade de comer por razões emocionais.
     
  • Procurar apoio psicológico

    Falar com um psicólogo pode ser muito útil. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) ajuda a trabalhar a ligação entre emoções e comportamentos alimentares, promovendo formas mais saudáveis de lidar com os sentimentos.
     
  • Falar sobre o assunto

    Partilhar o que se sente com amigos ou familiares de confiança pode aliviar a pressão emocional e reduzir a tendência de recorrer à comida para se sentir melhor.
     
  • Praticar a alimentação consciente

    Estar presente no momento das refeições, prestando atenção aos sinais de fome e saciedade, pode ajudar a reduzir a tendência de comer por impulso.
     
  • Criar uma rotina alimentar equilibrada

    Ter horários regulares para as refeições evita picos de fome que podem levar a excessos alimentares.

Lidar com a alimentação emocional pode ser um desafio, mas com o apoio certo e pequenas mudanças no dia-a-dia, é possível transformar esta relação com a comida e com as emoções.

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