O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt
Se pensarmos na saúde mental como uma condição para a perceção de um estado de felicidade e bem estar, qualidade de vida, capacidade e funcionalidade, autorregulação e autodeterminação, podemos considerar que se pode ser determinante na forma como construímos o nosso percurso, propósito e objetivos, e também a forma como os filhos, pares ou pessoas mais próximas são influenciados(as) pelas nossas decisões, atitudes e forma de estar.
De uma forma muito simples, no dia-a-dia, e atendendo ao tempo que efetivamente se destina ao “estar em família”, o mais normal é que exista um espaço de partilha, muitas vezes sob a forma de desabafo, dos encontros e desencontros, das dinâmicas no local de trabalho, dos contactos sociais mais ou menos funcionais, dos testes e outras tarefas escolares dos filhos, das contas, dos problemas, das rotinas. Nesta partilha, pensar no que se vai dizer nem sempre é uma prioridade.
Paralelamente, a nossa comunicação não verbal traz um conjunto de emoções ao nosso discurso que são absorvidas e aprendidas por aqueles que nos ouvem.
Num pequeno vídeo que circulava há uns anos na internet, com o título “Children see, children do”, era possível verificar o impacto da modelagem do comportamento dos pais, que é visto e aprendido como “o que é normal”, e que era assumido e praticado por crianças como se de adultos se tratassem. Sendo o pai ou a mãe a sua pessoa preferida (permitam-me a expressão), todos eles queriam fazer o mesmo que o pai ou a mãe faziam, da melhor forma que conseguiam, pois queriam assim ser motivo de orgulho e quem sabe até ouvir “É tão parecido com a mãe/pai”. Aqueles comportamentos eram tão habituais que se tinham tornado automáticos.
Agora pensemos em famílias onde existe doença mental. Se partirmos do princípio que a qualidade de vida das crianças e dos adolescentes é influenciada pela saúde mental dos pais, na medida em que a saúde permite a vivência de um contexto familiar equilibrado, assente numa comunicação aberta, em experiências positivas, na resiliência, empatia e capacidade de reação e adaptação aos desafios de forma funcional e eficaz mas que, na realidade oposta, sintomas como a ansiedade, a privação de sono, as alterações de humor, a indisponibilidade para o afeto e contacto, os comportamentos de risco, entre outros, existe sim a possibilidade de existir impacto no desenvolvimento psicoemocional dos filhos.
Da mesma forma, as estratégias que os pais utilizam, assim como a forma como lidam com a doença (seja ela mental ou física) também capacita as crianças para lidar com a adversidade, com os desafios, ou com as barreiras que lhes poderão ser colocadas no futuro, assim como os sensibilizam para a diferença, para a saúde, para a doença, para temas como a inclusão, a justiça, a tolerância, entre outros.
O ser humano vive em relação com o outro. A forma como os pais interagem com os filhos determinará certamente um conjunto significativo de comportamentos dos mesmos no futuro. Será através desta aprendizagem relacional que a criança e o jovem se desenvolverão enquanto pessoa e construirão as bases sólidas da sua própria forma de estar com e na sociedade.
Vejamos esta questão, tão pertinente, tão atual e tão geradora de preocupação no seio de muitas famílias, noutra perspetiva: pais saudáveis, resilientes, compreensivos e compassivos, solidários, responsáveis, comunicativos e assertivos, contribuirão para uma educação e formação socioemocional mais consciente, humana, sustentável e saudável. A doença mental não deve ser um tabu, em momento ou espaço algum, a procura de ajuda, a terapêutica e a vivência com a doença devem ser normalizadas, tal como o são a gripe, as alergias e (as bem conhecidas pelos pais) as viroses!
Sugestões
Se tem dúvidas de como abordar a saúde ou a doença mental, peça ajuda ao psicólogo da escola do seu filho.
Façam uma reflexão sobre os recursos de que dispõem para fazer face aos desafios familiares de forma resiliente e preventiva.
Fale abertamente sobre emoções, explorem o assunto em família e façam uma gestão da informação que chega através das redes sociais ou comunicação social.
Ouçam os vossos filhos com curiosidade, sem julgamento e com tempo e disponibilidade.
Procurem estar informados utilizando fontes fidedignas de informação. A Ordem dos Psicólogos Portugueses dispõe, na sua página on-line, de recursos e campanhas de promoção da saúde para a comunidade em geral.
Se sentir que é necessário, procure ajuda! Por si, pela sua família.
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