
O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt
Irritação, impaciência, frustração, indignação, humilhação, ressentimento, hostilidade, raiva, ódio, fúria. São palavras que podemos usar para designar diferentes níveis de intensidade de uma mesma emoção – a RAIVA.
O que é a raiva?
A raiva é considerada pela ciência psicológica uma emoção básica. Quem mais contribuiu para essa definição foi Paul Ekman, um psicólogo e investigador da Universidade da Califórnia em São Francisco.
Como características fundamentais da raiva, Ekman identificou:
- Os estímulos
Quando percebemos que fomos desrespeitados, injustiçados ou traídos por outra pessoa ou encontramos obstáculos ao que desejávamos.
- As reações fisiológicas
Aumento do ritmo cardíaco e respiratório, tensão muscular (sobretudo no maxilar) e aumento da pressão arterial.
- A expressão facial
Olhos e sobrancelhas franzidas, lábios contraídos e narinas dilatadas.
- Os comportamentos
Agressão física ou verbal, ou então o famoso “amuar”.
A universalidade da raiva ultrapassa as diferentes culturas e parece estar inscrita na história evolutiva da humanidade, servindo o propósito de defesa face a uma ameaça (real ou percebida) à nossa sobrevivência. Portanto, essa resposta emocional está na nossa biologia, na forma como automaticamente reagimos a situações à nossa volta.
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Porque é que a raiva é má?
A raiva é essencial uma resposta do nosso organismo a uma situação de ameaça ou perigo. Mobiliza energia para podermos agir. Não é a emoção que é má, mas antes os comportamentos que muitas vezes usamos para a expressar, e na medida em que podem ser prejudiciais para nós, o outro ou a relação entre ambos.
Com o avanço civilizacional passou a ser cada vez menos aceitável a expressão natural da raiva (como por exemplo: agredir, gritar, insultar, invadir o espaço do outro, tremer, atirar com portas ou objetos, e por aí fora) e foi necessário aprender e utilizar estratégias de autorregulação que amorteçam o seu impacto negativo nos outros e em nós próprios (como por exemplo: comunicar assertivamente, definir e manter limites, refletir e planear uma resolução, e por aí fora).
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O que se passa com os adolescentes e a raiva?
Os adolescentes estão num período desenvolvimental que poderíamos considerar de desequilíbrio. Por um lado, movimentam-se progressivamente com mais liberdade e autonomia num contexto onde muitas das situações que vivem lhes parecem novas ou mais complexas que o habitual. Têm por isso que tomar decisões sem supervisão e a maior parte das vezes sem tempo para refletir.
Por outro lado, as estruturas que suportam essa decisão, nomeadamente a função executiva do sistema nervoso central, não estão ainda totalmente desenvolvidas, o que potencia comportamentos impulsivos e reativos.
No fundo é como se tivessem mais acelerador que travão! Vão por isso reagir a situações de forma que nos parece exagerada. Expressões de raiva excessivas serão apenas uma dessas possibilidades.
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Quando é que é normal e quando é que é um sinal de alerta?
Para distinguir estes dois estados é importante que considere a linha de base. O/a adolescente que tem aí em casa tende a reagir de forma mais explosiva, ou mais contida? Isto quer dizer, que o que pode ser sinal de alerta num/a adolescente, pode ser considerado espectável para outro/a.
A partir dessa base, esteja com atenção aos seguintes sinais que podem ser de alerta:
- Alterações no padrão de resposta
Face a uma adversidade, sempre foi capaz de encontrar uma solução ou alternativa e agora fica mais desorganizado/a e com menos abertura para receber sugestões.
- Intensidade da resposta
Quando confrontado/a com uma contrariedade expressa essa zanga ou frustração de forma intensa e desproporcionada ao valor “real” da situação.
- Permanência no tempo
Estas respostas que lhe parecem desadequadas têm-se mantido ao longo do tempo (semanas ou meses) e não só não estão a passar como parecem aumentar. Como se o “rastilho” fosse cada vez mais curto.
Se estes três indicadores se manifestam em simultâneo, então é altura de fazer alguma coisa.
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O que pode fazer?
Abrir espaço de diálogo e mostrar preocupação. Devolver o que tem sentido que está a acontecer e mostrar preocupação com o seu impacto. Por exemplo: “tenho notado que nas últimas semanas estás mais vezes zangada e que muitas vezes ficas frustrada com coisas que parecem pequenas. Estou preocupada que possa estar a acontecer alguma coisa contigo. Podemos falar sobre isso?”
Ajudar com algumas técnicas de relaxamento e autorregulação. Ensinar um/a adolescente a recuperar a calma antes de responder é um excelente ensinamento para o momento e para o futuro. Mostre-lhe que é possível diminuir a agitação, definir um plano de resposta e executá-lo, por vezes ainda melhor no dia seguinte. Por exemplo: “vamos primeiro acalmar os dois e agora vamos pensar numa alternativa. Da próxima vez o que poderias fazer diferente?”
Sugerir algumas leituras ou outros materiais online. Nas livrarias encontra cada vez mais facilmente livros sobre as emoções e inteligência emocional. Façam uma visita em conjunto e procurem esse material de acordo com as suas preferências. Pode também encontrar online muitos recursos gratuitos. Por exemplo no site da Ordem dos Psicólogos Portugueses eusinto.me
Procurar um especialista. Se esse panorama de alerta se mantiver e sentir que os seus recursos para lidar com isso de forma positiva não estão a ser suficientes, procure ajuda de um/a profissional. No site Encontre uma Saída tem acesso a uma lista extensiva de profissionais por área geográfica.
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