Investigação CNN: “Estavam a disparar diretamente contra os jornalistas”
Frame vídeo exército israelita. Investigação CNN à morte de Shireen Abu Akleh

Investigação CNN: “Estavam a disparar diretamente contra os jornalistas”

Novas provas sugerem que Shireen Abu Akleh foi morta em ataque direcionado pelas forças israelitas

Investigação
Zeena Saifi, Eliza Mackintosh, Celine Alkhaldi, Kareem Khadder, Katie Polglase, Gianluca Mezzofiore e Abeer Salman

Vídeo
Livvy Doherty e Oscar Featherstone

Atenção: Esta reportagem inclui imagens que podem ser pertubadoras

Vários tiros ecoam em sucessão rápida, cortando uma manhã de primavera clara e azul em Jenin, na Cisjordânia. Crack, crack, crack, crack, crack, crack, crack.

O operador de câmara que filma a cena recua para se abrigar atrás de uma parede baixa de betão. Em seguida, um homem grita em árabe: “Ferido! Shireen, Shireen, Shireen! Ambulância!”

Quando o operador de câmara se agacha na esquina, a jornalista do canal Al Jazeera, Shireen Abu Akleh, pode ser vista deitada, imóvel, virada para o chão, enquanto outra repórter palestiniana, Shatha Hanaysha, se agacha ao seu lado, usando um tronco de árvore como cobertura. Hanaysha estende a mão e tenta acordá-la, à medida que os tiros continuam. Não obtém resposta. Ambas as mulheres estão a usar capacetes e coletes de proteção azuis marcados como “Imprensa”.

Nos momentos que se seguem, um homem com uma t-shirt branca faz várias tentativas para mover Abu Akleh, mas é forçado a recuar repetidamente devido aos tiros. Finalmente, após alguns longos minutos, ele consegue tirar o corpo de Shireen da rua.

Investigação CNN: “Estavam a disparar diretamente contra os jornalistas

O vídeo tremido, filmado pelo operador de câmara Majdi Banura, da Al Jazeera, capta a cena quando Abu Akleh, uma palestino-americana de 51 anos, foi morta com uma bala na cabeça, por volta das 6:30 da manhã do dia 11 de maio. Ela tinha estado com um grupo de jornalistas perto da entrada do campo de refugiados de Jenin, onde tinham ido fazer a cobertura de um ataque israelita. Embora as filmagens não mostrem que Abu Akleh foi alvejada, testemunhas oculares disseram à CNN que acreditam que as forças israelitas na mesma rua dispararam deliberadamente contra os repórteres, num ataque intencionado. Todos os jornalistas vestiam coletes azuis de proteção que os identificavam como membros dos meios de comunicação social.

“Estivemos em frente aos veículos militares israelitas durante cerca de cinco a dez minutos, antes de nos movermos, para garantir que eles nos viam. E isto é um hábito nosso, enquanto jornalistas, deslocamo-nos como um grupo e estamos à frente deles, para que saibam que somos jornalistas e, depois, começamos a avançar”, disse Hanaysha à CNN, descrevendo a sua abordagem cautelosa em relação à escolta do exército israelita, antes do início dos tiros.

Como Shireen Abu Akleh foi morta

Uma análise de áudios e vídeos mostra que a jornalista palestino-amercicana foi alvejada a partir de uma distância de cerca de 200 metros. Israel alega que ela poderá ter sido atingida por militantes palestinianos, ou por um soldado israelita em resposta a um ataque durante uma rusga ao campo de refugiados de Jenin. Mas testemunhas dizem que não havia palestinianos armados ou confrontos nas rendondezas.

Quando Abu Akleh foi baleada, Hanaysha disse ter ficado em estado de choque. Não conseguia compreender o que estava a acontecer. Após Abu Akleh ter caído no chão, Hanaysha pensou que poderia ter tropeçado. Mas quando olhou para a repórter que tinha idolatrado desde a infância, ficou claro que esta não respirava. O sangue estava a acumular-se debaixo da sua cabeça.

“Assim que ela [Shireen] caiu, sinceramente, não me apercebi de que ela [tinha sido baleada]... Ouvia o som de balas, mas não me estava a aperceber de que elas estavam a vir na nossa direção. Na verdade, não percebi nada o tempo todo”, disse ela.

“Pensei que estavam a disparar, por isso, ficámos para trás, não pensei que estivessem a tentar matar-nos”.

No dia das filmagens, o porta-voz militar israelita, Ran Kochav, disse à Rádio do Exército que Abu Akleh tinha estado “a filmar e a trabalhar para um meio de comunicação social entre palestinianos armados. Estão armados com câmaras, se me permitem dizê-lo”, de acordo com o The Times of Israel.

O exército israelita diz não ser claro quem disparou o tiro fatal. Num inquérito preliminar, o exército disse haver a possibilidade de Abu Akleh ter sido atingida ou por tiros palestinianos indiscriminados, ou por um atirador israelita posicionado a cerca de 200 metros de distância, numa troca de tiros com atiradores palestinianos, embora nem Israel nem mais ninguém tenha fornecido provas que demonstrem a existência de palestinianos armados com uma clara linha de fogo em direção a Abu Akleh.

As Forças de Defesa de Israel (FDI) disseram, a 19 de maio, que ainda não tinham decidido se deveriam prosseguir com uma investigação criminal sobre a morte de Abu Akleh. Na segunda-feira, o principal advogado dos militares israelitas, o Major-General Yifat Tomer-Yerushalmi, afirmou num discurso que, segundo a política dos militares, uma investigação criminal não é automaticamente iniciada se uma pessoa for morta no “meio de uma zona de combate ativa”, a menos que exista uma suspeita credível e imediata de um delito criminal. Os legisladores dos Estados Unidos, as Nações Unidas e a comunidade internacional apelaram a uma investigação independente.

No entanto, uma investigação da CNN apresenta novas provas, incluindo dois vídeos do tiroteio, de que não houve combate ativo, nem quaisquer militantes palestinos, perto de Abu Akleh nos momentos que antecederam a sua morte. Os vídeos obtidos pela CNN, corroborados pelo depoimento de oito testemunhas oculares, um analista de áudio forense e um perito em armas explosivas, sugerem que Abu Akleh foi abatida a tiro num ataque direcionado pelas forças israelitas.

Shireen Abu Akleh, jornalista do canal Al Jazeera

As filmagens mostram uma cena calma, antes dos repórteres se encontrarem debaixo de fogo nos arredores do campo de refugiados de Jenin, perto da rotunda principal de Awdeh. Hanaysha, quatro outros jornalistas e três residentes locais disseram que tinha sido uma manhã normal em Jenin, onde vivem cerca de 345 mil pessoas,  11 400 das quais vivem no campo. Muitos estavam a caminho do trabalho ou da escola, a rua estava relativamente sossegada.

Houve um frisson de excitação quando a jornalista veterana, um nome familiar em todo o mundo árabe pela sua cobertura de Israel e dos territórios palestinianos, chegou para relatar o ataque. Cerca de uma dúzia de homens, alguns vestidos com camisolas e chinelos de dedo, tinham-se reunido para observar Abu Akleh e os seus colegas a trabalhar. Estavam por perto, a conversar, alguns a fumar cigarros, outros a filmar a situação nos seus telefones.

Num vídeo de 16 minutos de um telemóvel partilhado com a CNN, o homem que filma caminha em direção ao local onde os jornalistas se tinham reunido, fazendo zoom sobre os veículos blindados israelitas estacionados à distância, e diz: “Olha os atiradores furtivos”. De seguida, quando um adolescente começa a tentar subir a rua, ele grita: “Não brinques... achas que é uma brincadeira? Não queremos morrer. Queremos viver”.

Os ataques israelitas ao campo de refugiados de Jenin tornaram-se uma ocorrência regular desde o início de Abril, na sequência de vários ataques de palestinianos que mataram israelitas e estrangeiros. Alguns dos suspeitos desses ataques eram de Jenin, de acordo com os militares israelitas. Os residentes dizem que os ataques levam geralmente a feridos e mortos. No sábado, um palestiniano de 17 anos foi morto e um de 18 foi gravemente ferido pelos tiros israelitas durante um ataque, disse o Ministério da Saúde palestiniano.

Salim Awad, uma residente no campo de Jenin de 27 anos, que filmou o vídeo de 16 minutos, disse à CNN que não havia palestinianos armados ou quaisquer confrontos na área e que não esperava que houvesse tiros, dada a presença de jornalistas nas proximidades.

“Não houve qualquer conflito ou confronto. Éramos cerca de dez tipos, mais ou menos, a andar por ali, a rir e a brincar com os jornalistas”, disse ele. “Não estávamos com medo de nada. Não esperávamos que acontecesse alguma coisa, porque, quando vimos jornalistas por perto, pensámos que seria uma zona segura”.

Mas a situação mudou rapidamente. Awad disse que os tiros começaram cerca de sete minutos após a sua chegada ao local. O seu vídeo capta o momento em que foram disparados tiros contra os quatro jornalistas, Abu Akleh, Hanaysha, outro jornalista palestiniano, Mujahid al-Saadi, e o produtor do Al Jazeera, Ali al-Samoudi, que ficou ferido no tiroteio, enquanto caminhavam em direção aos veículos israelitas. Nas filmagens, Abu Akleh pode ser vista a afastar-se dos militares. As filmagens mostram uma linha de visão direta em direção à escolta israelita.

A jornalista palestiniana Shatha Hanaysha, fotografada na cidade de Ramallah, na Cisjordânia, a 12 de maio, um dia depois de ela e Abu Akleh se encontrarem debaixo de fogo

“Vimos cerca de quatro ou cinco veículos militares naquela rua com armas de fogo apontadas para fora deles e uma delas disparou contra a Shireen. Estávamos ali mesmo, vimo-lo. Quando tentámos aproximar-nos dela, dispararam contra nós. Tentei atravessar a rua para ajudar, mas não consegui”, disse Awad, acrescentando que viu que uma bala atingiu Abu Akleh no espaço entre o seu capacete e o colete de proteção, perto da orelha.

Um jovem de 16 anos, que estava no grupo de homens e jovens na rua, disse à CNN que “não houve disparos, não atiraram pedras, nada”, antes de terem disparado contra Abu Akleh. Ele contou que os jornalistas lhe disseram para não os seguir, à medida que se dirigiam para as forças israelitas, por isso, ele ficou para trás. Quando o tiroteio acabou, ele disse que se tinha escondido atrás de um carro, a três metros de distância, de onde viu o momento em que ela morreu. O adolescente partilhou um vídeo com a CNN, filmado às 6:33, logo após os jornalistas terem ido para o hospital, que mostrava cinco veículos militares israelitas a passar devagar pelo local onde Abu Akleh morreu. A escolta vira depois à esquerda, antes de abandonar o campo através da rotunda.

A CNN viu um total de 11 vídeos que mostravam o local e a escolta militar israelita de diferentes ângulos, antes, durante e depois de Abu Akleh ter sido morta. Testemunhas oculares, que estavam a filmar quando a jornalista foi morta, também estavam na linha de fogo e afastaram-se quando o tiroteio começou. Portanto, não conseguiram capturar o momento em que a bala a atingiu.

As provas visuais analisadas pela CNN incluem um vídeo de uma bodycam divulgado pelo exército israelita, que capta soldados a correr através de uma ruela estreita, com espingardas de assalto e variantes das mesmas, à medida que saíam para a rua onde os veículos blindados estavam estacionados. Uma fonte no exército israelita disse à CNN que ambos os lados estavam a disparar armas parecidas com espingardas de assalto M16 e M4 naquele dia.

Imagens das soldados mostram-nos no fim da rusga no campo Jenin, a cerca de 200 metros de Shireen Abu Akleh. O vídeo mostra uma escolta de veículos israelitas com aberturas que as testemunhas dizem que estavam a ser usadas por snipers.

Nos vídeos, cinco veículos israelitas podem ser vistos alinhados na mesma estrada onde Abu Akleh foi morta, a sul. O veículo mais próximo dos jornalistas, marcado com um número um branco, e o veículo mais afastado, marcado com o número cinco, estão ambos posicionados perpendicularmente na rua. Na parte de trás dos veículos, diretamente acima dos números, está uma estreita abertura retangular no exterior do veículo.

Os militares israelitas referiram essa abertura, numa declaração sobre a sua investigação inicial sobre o tiroteio de Abu Akleh, dizendo que a jornalista pode ter sido atingida por um soldado israelita que disparou de um “buraco de tiro designado num veículo das Forças de Defesa Israelitas (IDF), com uma mira telescópica” durante uma troca de tiros. Várias testemunhas oculares disseram à CNN que viram espingardas de atiradores furtivos a sair das aberturas antes dos disparos, mas que eles não foram precedidos por qualquer outro tiroteio.

Jamal Huwail, professor na Universidade Arab America, em Jenin, que ajudou a arrastar o corpo sem vida de Abu Akleh da estrada, disse acreditar que os tiros vinham de um dos veículos israelitas, que descreveu como “um novo modelo que tinha uma abertura para atiradores furtivos”, devido à elevação e direção das balas.

“Estavam a disparar diretamente contra os jornalistas”, disse Huwail.

Huwail, antigo deputado e membro do Partido Fatah palestiniano, em Jenin, conheceu Abu Akleh há duas décadas, quando Israel lançou uma grande operação militar no campo, destruindo mais de 400 casas e desalojando um quarto da sua população. Quando falou brevemente com a jornalista, naquela manhã de 11 de maio, na rotunda de Awdeh, ela tinha-lhe mostrado um vídeo de uma das suas primeiras entrevistas, de 2002. Quando a voltou a ver de perto, ela estava morta.

Shireen Abu Akleh deitada de barriga para baixo na rua, depois de ter sido baleada na cabeça

Em vídeos do ataque do exército ao campo de Jenin, no início da manhã, soldados israelitas e militantes palestinianos podem ser vistos a lutar entre si com espingardas de assalto M16 e variantes das mesmas, de acordo com Chris Cobb-Smith, um perito em armas explosivas. Isso significa que ambos os lados teriam disparado balas de 5,56 milímetros. Para localizar a bala que matou Abu Akleh até ao cano de uma arma específica, provavelmente seria necessária uma investigação israelo-palestiniana conjunta, uma vez que os palestinianos têm a bala que matou Abu Akleh, enquanto a investigação da CNN sugere que os israelitas têm a arma. Nenhum deles se disponibilizou prontamente. Enquanto Israel pesa se deve iniciar uma investigação criminal, a Autoridade Palestiniana excluiu a colaboração com os israelitas em qualquer investigação.

Um alto oficial da segurança israelita negou categoricamente à CNN, a 18 de maio, que as tropas israelitas tivessem matado Abu Akleh intencionalmente. O oficial falou sob a condição de anonimato, para discutir detalhes sobre uma investigação que, formalmente, continua aberta.

“Em caso algum, a IDF visaria um civil, especialmente um membro da imprensa”, disse o oficial à CNN.

“Um soldado da IDF nunca dispararia uma M16 em modo automático, disparam bala a bala”, disse o oficial, em contraste com a afirmação de Israel de que os militantes palestinianos disparavam “de forma imprudente e indiscriminada”, enquanto os seus soldados realizavam o ataque em Jenin.

Numa declaração enviada por e-mail à CNN, a IDF disse que estava a realizar uma investigação sobre o assassinato de Abu Akleh. Apela “à Autoridade Palestiniana que coopere com um exame forense conjunto, com representantes norte-americanos, para determinar de forma conclusiva a origem da trágica morte”.

E acrescentou: “as afirmações relativas à origem do tiroteio que matou a Sra. Abu Akleh devem ser feitas cuidadosamente e sustentadas por provas sólidas. É isto que a IDF pretende alcançar”.

Mesmo sem acesso à bala que atingiu Abu Akleh, há formas de determinar quem a matou, analisando o tipo de armas, o som dos tiros e as marcas deixadas pelas balas no local.

Cobb-Smith, um consultor de segurança e veterano do exército britânico, disse à CNN que acreditava que Abu Akleh tinha sido morta com tiros discretos, não com disparos de tiros automáticos. Para chegar a essa conclusão, olhou para imagens obtidas pela CNN, que mostram as marcas das balas deixadas na árvore onde Abu Akleh caiu e onde Hanaysha se estava a abrigar.

“O número de marcas de tiros na árvore onde Shireen estava prova que não foi um tiro aleatório, ela era o alvo”, disse Cobb-Smith à CNN, acrescentando que, em nítido contraste, a maioria dos tiros dos palestinianos capturados em câmara naquele dia foram “sprays aleatórios”.

O jornalista palestiniano Mujahid al-Saadi, que estava com Abu Akleh quando foi morta, aponta para marcas de bala na árvore em Jenin, onde esta morreu

Como prova, ele mencionou dois vídeos que mostravam atiradores palestinianos a disparar aleatoriamente por ruelas, em diferentes partes de Jenin. Os vídeos foram distribuídos pelo gabinete do Primeiro-Ministro israelita, Naftali Bennett, e pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros de Israel, com a locução em árabe: “Acertaram num, acertaram num soldado. Ele está no chão”.

Como não foi comunicada a morte de soldados israelitas a 11 de maio, o gabinete de Bennett afirmou que o vídeo sugeria que “foram os terroristas palestinianos a matar a jornalista”. A CNN geolocalizou os vídeos partilhados pelo gabinete de Bennett a Sul do campo, a mais de 300 metros de Abu Akleh. As coordenadas dos dois locais, que foram verificadas utilizando o Mapillary, uma plataforma de imagens de rua de origem pública, e imagens da área, filmadas pelo grupo israelita de direitos humanos B'Tselem, demonstram que o tiroteio nos vídeos não podia ser o mesmo que atingiu Abu Akleh e o seu produtor, Ali al-Samoudi. A CNN também não conseguiu verificar quando é que as imagens foram filmadas.

De acordo com o inquérito inicial do exército israelita, na altura da morte de Abu Akleh, um atirador israelita estava a 200 metros de distância dela. A CNN pediu a Robert Maher, professor de engenharia elétrica e informática, na Universidade Estatal de Montana, especialista em análise de áudio forense, para avaliar as filmagens do tiroteio de Abu Akleh e estimar a distância entre o atirador e o operador de câmara, tendo em conta a espingarda utilizada pelas forças israelitas.

O vídeo que Maher analisou capta duas salvas de tiros. Testemunhas oculares dizem que Abu Akleh foi atingida na segunda vaga, uma série de sete “sons” altos. O primeiro som, a onda de choque balística da bala, é seguido, aproximadamente 309 milissegundos mais tarde, pelo “estrondo” relativamente silencioso da explosão do cano da arma, de acordo com Maher. “Isso corresponderia a uma distância entre 177 e 197 metros”, disse ele num e-mail à CNN, o que corresponde quase exatamente à posição do atirador israelita.

A 200 metros, Cobb-Smith disse que não havia “nenhuma hipótese” de que disparos aleatórios resultassem em três ou quatro tiros disparados numa configuração tão rigorosa. “A partir das marcas na árvore parece que os tiros, um dos quais atingiu Shireen, vieram do fundo da rua, da direção das tropas da IDF. O agrupamento relativamente rigoroso das munições indica que Shireen foi visada intencionalmente com tiros premeditados e não vítima de tiros aleatórios ou balas perdidas”, disse o perito em armas de fogo à CNN.

Mural na cidade de Gaza em homenagem a Shireen Abu Akleh e retrata Shatha Hanaysha agachada ao seu lado, após a sua morte

A árvore é agora referida em Jenin como a “árvore da jornalista” e tornou-se um santuário improvisado para Abu Akleh, com fotografias da amada repórter coladas ao tronco e cachecóis kaffiyeh palestinianos atados aos seus ramos.

Awad, um dos habitantes de Jenin que inadvertidamente captou o assassinato de Abu Akleh em câmara, disse que a primeira vez que a viu pessoalmente foi em 2002, quando ela estava a cobrir a Intifada, ou a insurreição, em Jenin. “Ela é, naturalmente, amada por muitos, mas tem uma memória muito especial no nosso campo, especificamente por causa do trabalho que aqui realizou. As pessoas estão muito tristes pela sua morte”, disse ele.

No mês passado, Abu Akleh celebrou o seu aniversário em Jenin, onde estava para cobrir um ataque militar israelita, recordou o seu colega de longa data, o operador de câmara Majdi Banura. Banura e Abu Akleh começaram no canal Al Jazeera, no mesmo dia, há 25 anos, e passaram juntos grande parte das suas carreiras em campo.

Banura ainda está perturbado por ter visto Abu Akleh, que já tinha filmado inúmeras vezes, morrer diante dos seus próprios olhos. Mas quando o tiroteio começou, ele sabia que tinha de continuar a gravar, dizendo que era importante ter um “registo contínuo” da sua morte.

“Para ser sincero, enquanto estava a filmar, tinha esperança de que ela estivesse viva. Mas soube, ao vê-la imóvel, que ela tinha sido morta”, disse Banura.

“A imagem dela não deixa a minha vida e a minha memória. Em tudo o que digo ou faço ou toco, vejo-a”.


Eliza Mackintosh, da CNN, em Londres escreveu e relatou. Zeena Saifi relatou de Abu Dhabi, Celine Alkhaldi de Amã e Kareem Khadder de Jerusalém. Katie Polglase e Gianluca Mezzofiore relataram de Londres. Richard Allen Greene, Abeer Salman, Hadas Gold e Atika Shubert contribuiram para este artigo. Design e edição visual de Natalie Croker e Henrik Pettersson.

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