Ataque ou brincadeira? As orcas na costa estão mais atrevidas e põem em risco a vida de quem anda no mar
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Ataque ou brincadeira? As orcas na costa estão mais atrevidas e põem em risco a vida de quem anda no mar

Não se sabe ao certo porquê, mas o certo é que os incidentes entre orcas e velejadores na costa portuguesa têm aumentado. Nos últimos três anos, há registo de dois naufrágios provocados por este animal.

Nos últimos três anos, duas embarcações naufragaram na sequência de encontros com orcas na costa portuguesa

 

Sofia Marvão

27 mai 2023
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Tomás Barradas, 41 anos, é apaixonado por veleiros desde muito jovem. Comprou o seu primeiro barco para competir, mas os custos de manutenção levaram-no a procurar opções mais rentáveis. Agora, pilota um Yatch Dufour 360 Grand Large, um veleiro com 11 metros e capacidade para oito passageiros. À frente do projeto “Sail La Vie”, Tomás dedica os seus dias a passeios turísticos pela costa portuguesa. 

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No final de agosto do ano passado, regressava do Algarve para Lisboa e “estava um dia de sonho”. “Pouco vento e o mar chão”. Por volta do meio-dia, aproximou-se do Cabo Sardão, em Odemira. Cansado da viagem, deixou o barco em piloto automático e dormitou por alguns minutos. Não esperava ser surpreendido.  

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O barco teve de ir para reparação e não pôde realizar passeios durante sete meses. Os prejuízos rondaram os 20 mil euros, sem contar com a perda de vários clientes. Continuou a pagar para manter o lugar reservado na Doca de Santo Amaro, em Lisboa, que acumulou com os custos de um “estacionamento a seco” para manter o barco fora de água. 

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Luís Oliveira começou a velejar com 10 anos, aos 28 tornou-se profissional. Hoje, com 36, apresenta-se como “skipper”. É “capitão” de uma embarcação. Não tem um veleiro próprio, mas o seu trabalho passa por transportá-los de um ponto para outro. Há muito que ouvia falar das interações de orcas com embarcações nas águas portuguesas. Sentia-se preparado para um encontro desses.

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Circulava num veleiro de 12 metros ao largo do Cabo Espichel, a um domingo, em setembro de 2022. Vinha de Portimão e ia em direção a Cascais. Estava a controlar o barco, enquanto um colega descansava. Havia boias de pescadores à volta e era preciso estar atento. De repente, uma pancada no barco alertou-o. E outra. Não era uma boia.

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Leme partido (não usar)
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Luís não sabe, ao certo, quais os prejuízos causados pela interação. O veleiro em que seguia não era seu. Mas explica que o resto do leme ainda foi aproveitado. Os estragos não foram significativos. No espaço de uma semana, o barco estava pronto para regressar à água.

Imagem: Luís Oliveira

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O Instituto de Conservação da Natureza e da Floresta (ICNF) começou a registar em 2020 interações entre orcas e embarcações, maioritariamente veleiros, na costa portuguesa e nas zonas espanholas do Estreito de Gibraltar e da Galiza. 

Imagem: Tomás Barradas

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Registaram-se 52 interações durante esse ano, na Península Ibérica, sobretudo entre a primavera e o verão, período em que a atividade náutica é maior. Em 2021, foram reportados 197 incidentes, e, no ano seguinte, 207. Num total de 456 interações registadas neste período, 142 aconteceram em território português.

Imagem: Luís Oliveira

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Não são conhecidas as motivações destes animais. A bióloga do ICNF Marina Sequeira explica que as interações ao início estavam relacionadas com algumas orcas juvenis. Mas, atualmente, estes comportamentos já são observados em grupos de 15 a 16 animais que incluem elementos adultos.

Imagem: Luís Oliveira

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As orcas, ou “Orcinus orca”, também conhecidas como “baleias assassinas”, são, na verdade, mamíferos da família dos golfinhos. São facilmente identificáveis e são consideradas uma das espécies de cetáceos mais inteligentes. Um macho adulto pode atingir os nove metros de comprimento, as fêmeas normalmente atingem oito. Um pouco menos compridas do que os veleiros onde seguiam o Tomás e o Luís. As crias nascem com cerca de dois metros.

Imagem: Orcas avistadas em Lagos. Twitter @SeaBookings

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Estes animais são predadores no mar. A sua dieta varia entre peixe, outros mamíferos marinhos. Algumas populações alimentam-se de baleias. Vivem em grupos familiares e desenvolvem fortes laços sociais, podendo inclusivamente ensinar técnicas de caça às gerações mais jovens.

As orcas que surgem na costa portuguesa são as mesmas da população do Estreito de Gibraltar, composta por cerca de 40 animais.

Imagem: Orcas avistadas em Alvor. Twitter/@mattrenier

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O ICNF elaborou um protocolo de segurança com conselhos para os velejadores. Desligar o motor, bem como todos os instrumentos (exceto os de localização), baixar as velas e parar o barco são algumas das sugestões. Os navegadores salientam à manobra “à ré”, que acontece quando o barco é dirigido em marcha-atrás. E alguns chegam a recorrer a técnicas mais violentas.

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A utilização de explosivos para espantar os animais é ilegal e tem impacto negativo no ambiente. As orcas são uma espécie protegida, pelo que colocar a vida destes mamíferos em risco é punível por lei.

Imagem: Twitter/@mattrenier

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