Não é uma “doença das senhoras”, os homens também têm caroços no peito e cancro da mama
Luís Costa, paciente com cancro da mama (Fotografia: Rodrigo Cabrita)

Não é uma “doença das senhoras”, os homens também têm caroços no peito e cancro da mama

Texto
Daniela Costa Teixeira

Fotografia
Rodrigo Cabrita

Chegam com uma dúvida que desvalorizaram durante meses ou anos e descobrem uma doença que nem sabiam que podiam ter. O cancro da mama também afeta os homens. 22 mil por ano em todo o mundo - e muitos ainda sentem vergonha disso, fecham-se em si mesmos, não falam do assunto e chegam mesmo a debater-se com uma fragilidade mental até então desconhecida e que surge à boleia do ‘porquê eu’. Eugénio andou durante anos com um caroço no peito, que António também desvalorizou. Luís faz campanha pela “luta rosa”. Rogério nunca mais foi ao mar.

“Foi um choque grande, não estava minimamente preparado para a notícia”. António Rua tinha 53 anos quando, no início de 2016, recebeu a notícia mais inesperada de todas. Apesar de o corpo já ter dado um sinal meses antes, que ele desvalorizou tal como fazem tantos outros homens quando sentem mudanças na mama. “Tinha apenas um caroço junto ao mamilo, já andava com ele há algum tempo, mas desvalorizei.” 

Numa consulta com a médica de família, “por curiosidade”, António tocou no assunto. “Apareceu-me este carocinho ao lado do mamilo, não dói nem nada”, disse à médica. “Mostrei-o e, para ficarmos descansados, ela disse ‘Vamos fazer uma ecografia para perceber o que é’. Mas essa ecografia não foi reveladora. Depois de ela voltar a analisar disse que tínhamos de passar para o passo seguinte e fizemos uma biopsia”.

“E foi aí”, conta, que soube que tinha cancro. Seguiu-se o encaminhamento para o Hospital de Santa Maria, em Lisboa, onde fez a cirurgia de remoção do tumor e de parte da mama e, depois, radioterapia e quimioterapia.

Hoje, com 60 anos acabados de completar (“fiz anos no dia 30 [de dezembro]”, diz-nos ao telefone, orgulhoso), António confessa que para si era estranho um homem desenvolver um tumor na mama, mas o que o assustou mais foi a doença em si. “O facto de ser um cancro acabou por ser a grande preocupação”, garante. “A notícia que temos é que [o cancro] é incurável e que é uma sentença. Neste caso, fui feliz.”

Dos cerca de seis mil casos de cancro da mama que são todos os anos diagnosticados em Portugal, segundo os dados do estudo Visão Integrada do Cancro da Mama em Portugal, levado a cabo pelo Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Católica, apenas cerca de 60 afetam homens, um número que se mantém estável há mais de uma década e que esconde o desconhecimento e o estigma que ainda existem relacionados com a doença. O cancro da mama costuma ser pintado de cor-de-rosa e pode ser avassalador para as mulheres, mas esta doença não escolhe cores ou géneros - e o impacto no homem é também mental.

António Rua foi diagnosticado com cancro da mama no início de 2016. Hoje já não faz qualquer tratamento.

“O cancro da mama no homem é uma doença muito rara, corresponde a 1% dos cancros da mama e 1% de todos os cancros que podem aparecer no homem”, começa por explicar Fátima Cardoso, diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud.

1% parece um número pequeno, mas, se olharmos para o panorama geral, não é. “A cada ano, há 2,2 milhões de novos casos de cancro da mama, 1% de 2,2 milhões ainda são muitos doentes. É importante para eles conversarem, para que nós também possamos desmistificar e dizer que o homem pode ter cancro da mama e não é menos homem por causa disso”, sublinha a médica e investigadora.

Por ser uma doença “muito rara”, continua, “é uma doença que é desconhecida da maior parte das pessoas, e dos próprios homens, que muitas vezes não sabem que podem ter um cancro da mama, e até de profissionais de saúde menos ligados a esta área, o que leva a que haja muitas vezes atraso no diagnóstico”.

Tal como acontece com tantos outros homens, também António Rua, que ainda trabalha na construção civil e diz-se grato por “não ter ficado com qualquer limitação”, não ficou alarmado com o caroço junto ao mamilo, algo que, numa mulher, teria um efeito completamente oposto. Este é o cenário mais comum em consulta: os homens chegam com uma dúvida que desvalorizaram durante semanas, meses ou anos.

Uma cirurgia depois, com sessões de radioterapia e cinco anos a fazer quimioterapia através de comprimidos, António Rua, residente na Charneca da Caparica, mostra-se são e feliz: “está tudo bem, mantenho as consultas anuais”. E diz que não há que ter vergonha: também os homens devem estar atentos às suas próprias mamas.

A falta de conhecimento sobre a possibilidade da doença e a ausência de rastreios, leva a que muitos homens apenas procurem ajuda meses após o corpo dar sinais. António tinha um caroço junto ao mamilo, mas desvalorizou. 

 

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Terreno pouco conhecido

Ao contrário do que acontece com as mulheres, em que os casos de cancro da mama tendem a aparecer cada vez mais cedo, nos homens são as pessoas mais velhas as que correm maior risco de desenvolver a doença, esclarece a médica Ana Ferreira, responsável da Oncologia Médica na Clínica de Mama no IPO Porto. E há vários fatores em jogo, sobretudo a genética. 

Na mulher, existem três grandes tipos de cancro da mama. Fátima Cardoso enumera-os: “hormonodependente (65-70%), HER2 Positivo (nome de uma proteína/receptor muito importante) e triplo negativo (sem receptores hormonais nem HER2)”. No homem, o cenário é completamente diferente: “98% dos casos são hormonodependentes, praticamente não há cancro do triplo negativo e HER2 Positivo existe apenas em cerca de 10% dos casos”. 

Ainda assim, o estudo do cancro da mama no homem continua refém da raridade dos casos e da importância de manter o foco nos verdadeiros alvos desta doença, que são as mulheres - dos seis mil casos anuais, 1.500 (25%) não resistem à doença e morrem.

Mas a diretora da Unidade da Mama do Centro Clínico Champalimaud defende que os homens devem fazer parte da investigação científica, até porque só assim se consegue um conhecimento amplo e fiável da doença, uma maior literacia e diagnósticos atempados. 

“Eu liderei o programa internacional para o cancro da mama no homem e o objetivo foi estudar ao pormenor a biologia do cancro da mama no homem, ver as diferenças e se essas diferenças têm alguma implicação nos tratamento. Descobrimos que há um subtipo especial que só existe nos homens, mas ainda estamos no início desse entendimento e não sabemos se tem implicações a nível do tratamento”, revela Fátima Cardoso.

Com historial de cancro na família, Luís Costa foi diagnosticado com cancro da mama de origem genética, mutação que também a sua filha mais velha acusou
Com historial de cancro na família, Luís Costa foi diagnosticado com cancro da mama de origem genética, mutação que também a sua filha mais velha acusou

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“Isto nunca acontece a nós”

Luís Costa, de 73 anos, foi traído pela genética. Depois de ter perdido um irmão com cancro no estômago, um filho com cancro no esófago e a mãe com cancro na cara, no final de 2018 chegou o seu diagnóstico: cancro da mama. O histórico familiar sempre lhe soou como uma bomba-relógio e, mesmo assim, a notícia “foi uma surpresa”. “Foi um murro grande no estômago. Pensei ‘vou já a seguir’”.

“Já tinha detectado há dois anos um caroço, achava que era um quisto sebáceo e não liguei”, conta-nos Luís, lembrando que foi numa consulta para a sua mulher que falou do assunto com o médico.

Luís Costa foi submetido a testes genéticos e descobriu que tinha uma mutação no gene BRCA2 – tal como o BRCA1, o BRCA2 é um gene supressor de tumor e, na presença de uma mutação, assume uma ação contrária: ao invés de travar o crescimento de células cancerígenas, estimula, aumentando entre 10% a 20% a probabilidade de a pessoa desenvolver um cancro. E não foi o único na família: a filha mais velha também possui o mesmo gene e, assim que soube, decidiu submeter-se a uma dupla mastectomia, para prevenir males maiores. Luís também preferiu ser cuidadoso. “Tiraram-me a segunda mama por precaução.”

Agora, reformado, Luís foi o único homem a fazer parte da campanha 'Luta Rosa, Pensa Rosa', uma ação desenvolvida todos os anos, desde 2019, pelo canal AXN White para assinalar as vítimas e sobreviventes de cancro da mama. Quer dar voz aos homens nesta luta, uma voz que os próprios tendem a silenciar, seja pela vergonha de terem uma 'doença de mulheres' ou pela doença em si, que se faz sentir para lá do físico.

“Não tinha sintomas. Pensava sempre que isto nunca acontece a nós, só aos outros”, lamenta. E por não acontecer apenas aos outros – “olhe o Marco Paulo”, atira –, Luís Costa quer alertar os homens para a importância de valorizarem qualquer sinal que o corpo dá.

“Vão ao médico na hora! Isto é uma doença silenciosa, se não ligarmos nenhuma, é até à morte. Quando dermos por ela já não temos remédio”, assegura, aconselhando os homens a fazerem apalpação da mama “quando estão a tomar banho”, rejeitando qualquer constangimento que isso possa trazer. “Não sei que vergonha possam ter, é um cancro como os outros”, frisa.

Tal como aconteceu com Luís, e por haver um fator de risco genético, “um homem ter cancro da mama é um sinal de alarme para verificar se existe na família a mutação do gene do cancro da mama (BRCA)”, adianta Fátima Cardoso. No entanto, “nem todos os cancros da mama no homem são hereditários” e ainda há muito por descobrir sobre esta doença.

Além da genética, há outros fatores de risco nos homens, como as hormonas e a ginecomastia, uma hipertrofia do tecido glandular mamário. “Há também alterações hormonais relacionadas com a cirrose hepática que levam a alterações na produção de hormonas”, aumentando o risco de cancro na mama “em cerca de cinco vezes”. “Mas, tal como nas mulheres, nem sempre encontramos uma causa”, reconhece Fátima Cardoso.

O estilo de vida também pode ter alguma influência positiva ou negativa. Susana Sousa, coordenadora da Unidade da Mama do Hospital CUF Porto, diz que é “claro” que a obesidade é um fator de risco e, “pelo contrário, a prática de exercício físico regular é um fator de proteção para desenvolvimento do cancro da mama”. 

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Anos a desvalorizar os sinais

Se ainda hoje são muitos os homens que desconhecem que o cancro da mama não é uma doença apenas de mulheres e que estão a ler pela primeira vez sobre o assunto, na década de 90, a informação era ainda mais escassa. Foi por isso que Eugénio Martins demorou anos a procurar ajuda.

Agora com 71 anos e a residir em Sintra, Eugénio tinha 39 anos quando lhe foi diagnosticado cancro da mama. “Comecei a sentir um caroço no peito, mas não sabia o que se passava.” Este foi o primeiro sinal de alerta. Corria o ano de 1984 e emigrou para a Arábia Saudita “já com um carocito” ao qual continuou a não prestar muita atenção, embora ele tivesse crescido. “Depois, emigrei para a Dinamarca e a coisa ficou um bocadinho mais alterada”, conta-nos. Mas foi apenas em Palma de Maiorca que percebeu que era necessária uma avaliação. Lá visitou um médico “que era alemão” e que “falou com um colega” e o colega aconselhou-o a vir para Portugal para ser tratado. Mas foi só numa férias passadas no Algarve que o cenário mudou.

“Foi quando o mamilo desapareceu e comecei a deitar um líquido”, lembra Eugénio. “Mas aquilo não me dava dor”, diz, quase em tom de justificação. “Foi a minha mulher que me chamou a atenção e disse ‘O que tens aí?’. E fiquei a pensar”. O episódio levou-o ao médico de família, que o encaminhou de imediato para o IPO no Porto, onde foi operado, em Agosto de 1990.

Ana Ferreira, responsável da Oncologia Médica na Clínica de Mama no IPO Porto, admite que “o facto de ser homem dificulta um pouco o diagnóstico” desta doença. Não só porque “não há rastreios”, mas sobretudo porque “só fazemos um diagnóstico quando existem sintomas e os sintomas podem ser uma escorrência mamilar, uma tumefação mamária, uma tumefação axilar. Sintomas que nos alertam que podemos estar na presença de uma patologia da mama”.

A oncologista reconhece que “a maior parte” dos homens “fica muito surpreso” com o diagnóstico de cancro da mama. E depois há sempre a não aceitação, a desconfiança, a vergonha. “Ainda recentemente tive um doente que não aceitou o diagnóstico, entrou em negação completa. Saiu-lhe tão fora do entendimento que achou que era a maior catástrofe, mas, felizmente, para a maioria não é assim”, assegura, em tom esperançoso.

Eugénio Martins, de 71 anos, foi diagnosticado em 1990, cerca de seis anos depois dos primeiros sinais.

Muitas vezes, os homens têm um pior prognóstico da doença do que as mulheres, “não porque a biologia do cancro da mama no homem seja pior, mas porque o cancro é diagnosticado em estadios mais avançados”, explica Fátima Cardoso, da Fundação Champalimaud.

“Se fizermos um ajuste para o estádio da doença ao diagnóstico, o prognóstico é o mesmo em homens e mulheres. Mas diagnosticamos mais tarde e a idade em que aparece nos homens é uma idade mais tardia, cerca de 10 anos mais tarde do que nas mulheres. É uma idade em que as pessoas já têm outras doenças e comorbilidades, e, estas características todas juntas resultam num pior prognóstico. Mas com características iguais, a mesma idade, mesmo estádio e mesmas doenças, o prognóstico é o mesmo”, assegura.

Relativamente aos tratamentos, são usados no homem aqueles que apresentam eficácia nas mulheres, “apesar de já sabermos que há diferenças moleculares e biológicas entre o cancro da mama no homem e na mulher”, diz Susana Sousa, Coordenadora da Unidade da Mama do Hospital CUF Porto. Isto acontece devido à escassez de estudos e ensaios direcionados apenas para homens com esta doença.

Hoje, Eugénio mostra-se feliz por ter ultrapassado a doença. “Sinto-me bem, faço o serviço que tenho de fazer, faço tudo normalmente. Já não faço medicação e não tenho nenhuma limitação física, mas todos os anos faço uma mamografia ao peito esquerdo para saber como está”, relata. Eugénio é o primeiro a ‘quebrar o gelo’ em alguns exames e consultas médicas. “Nos exames em que tenho de tirar a camisa digo ‘não fique admirado’”, conta, a rir-se.

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Cicatrizes

“A cicatriz não me incomoda de modo algum, mostro-a e ando em tronco nu com amigos e na praia”. António Rua mostra à vontade com a marca que a doença deixou em si, Eugénio, Luís e Rogério (nome fictício) preferem não tirar a camisola em público.

“Na praia foi onde fiquei um pouco mais retraído, vou à praia mas não ando com o peito à mostra, sinto-me mais protegido. Não tenho a necessidade de andar exposto. Se o fizesse, ninguém levaria a mal”, conta Eugénio. Já Rogério nunca mais voltou a mergulhar no mar.

“Nunca mais tomei banho no mar. Vou à praia e levo sempre a t-shirt, não me sinto à vontade, não que tenha vergonha, mas não gosto de publicitar. É uma coisa minha, muito minha”, conta, pedindo para manter o anonimato. Está 'curado' mas a cicatriz continua lá, no peito e na mente, uma memória que jamais esquecerá.

Apesar de o tratamento cirúrgico não ser “tão mutilante como é com uma mulher”, a médica Ana Ferreira reconhece que a cicatriz no homem acaba “por ser mais perceptível. Qualquer homem operado fica com cicatriz e sem mamilo, é impossível estar na praia sem isso ser notório”, o que muitas vezes mexe com a autoestima, com o bem-estar emocional.

Embora mostre o seu corpo para a objetiva do fotógrafo Rodrigo Cabrita, Luís tenta não se expôr. “Não me incomodam as cicatrizes, mas não vou para a praia em tronco nu, não gosto que as pessoas olhem”.

Luís mostrou-nos as suas cicatrizes e quer mostrá-las a quem o lê, mas continua retraído, a não mostrar ao mundo a doença que lhe levou parte do corpo. Na praia continua a usar camisola.

Depois de combater a doença, muitos homens sentem-se inseguros com o corpo. “Quando o homem faz uma mastectomia”, diz Fátima Cardoso, “os cirurgiões não pensam tanto na necessidade estética, mas estes doentes muitas vezes deixam de ir à praia, não tiram a camisa, não só por causa da cicatriz de mastectomia mas também porque a radioterapia elimina definitivamente os pêlos, o que agrava a parte do aspecto físico. Há homens que ficam muito traumatizados e nem falam sobre o assunto”.

Rogério, agora com 74 anos, foi diagnosticado em 2011. Na altura tinha o “mamilo recolhido”, algo ao qual não ligou muito, até que um amigo seu, “que tinha outros problemas de saúde”, um dia lhe disse “até o cancro da mama me apareceu”. E, então, fez-se luz, apesar do ceticismo. “Esta doença é das senhoras”, chegara a pensar na altura.

“Fiquei alarmado. Fui ao médico, que me mandou fazer uma ecografia, onde se detectou um nódulo muito pequenino. Fiz a cirurgia e depois o tratamento com comprimidos durante cinco anos”, relata.

Agora, sabe que é também uma doença de homens e acredita que podem ser bem mais do que 1% os afetados. “Deve haver muitos [homens] que não sabem. Pensam que esta doença é a doença das senhoras e o homem passa ao lado disso”, lamenta.

Tal como António, Rogério foi acompanhado no Hospital de Santa Maria, em Lisboa, mas antes, o médico italiano que o seguia, e que “não conhecia o sistema [de saúde] cá”, encaminhou-o para a Maternidade Alfredo da Costa. “Fiz todos os exames lá, mas não havia cama de internamento para homens. Então, passados uns meses, fui para o Santa Maria”, onde foi tratado e onde encontrou as suas ‘amigas do peito’.

Na ‘Amigas do Peito’, instituição de solidariedade social fundada em 2008 no Hospital de Santa Maria para dar apoio a pacientes com cancro da mama, onde chegou a ser o único homem, Rogério diz que encontrou apoio, um apoio sobretudo psicológico, como nos diz António Rua, que também quis fazer parte da associação, embora por pouco tempo. “Tenho uma vida muito ocupada, mas cheguei a ir às sessões. Foi interessante em termos psicológicos, por darem uma força. Foi útil”, reconhece António.

Numa doença em que são poucos os homens afetados e menos ainda aqueles que falam abertamente sobre o assunto, as sensações de injustiça, de vergonha e de não pertença podem ser comuns. Mas há formas de atenuar esse desconforto, considera Ana Ferreira, destacando que o segredo está em não olhar a géneros, como se faz no IPO Porto.

“Chamamos os pacientes de forma anonimizada e ninguém sabe se o doente é homem ou mulher, ninguém sabe o nome do doente”, conta-nos, revelando que a pessoa pode ser chamada pelo sobrenome ou pela hora a que a consulta estava marcada. Além disso, continua, “de todos os homens que tratei, só um ia sozinho à consulta, todos os outros iam acompanhados”.

Nas salas de espera, Luís assumiu sempre o que tinha. “Nunca tive vergonha nenhuma. A minha mulher começou a chorar e eu disse ‘Não vale a pena, estou aqui para me tratar’. E fui tratado. Bem tratado”.

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