“Se me denuncias és um traidor, e os traidores são baleados.” O culto do Trumpismo dividiu esta família

5 ago 2022, 21:50
Donald Trump

Caso está longe de ser único nos Estados Unidos

Apesar de já não ser presidente há um ano e meio. Donald Trump e o culto em seu redor continuam a dividir famílias nos Estados Unidos.

Esta semana, a justiça americana condenou Guy Reffitt a sete anos de prisão. Reffitt foi um dos milhares que se deslocou até à capital dos Estados Unidos e participou no ataque ao Capitólio do dia 6 de janeiro de 2021. Viajou do Texas para Washington D.C. para tentar impedir a certificação dos resultados das eleições presidenciais entre Joe Biden e Donald Trump. À família, confessou querer “arrastar para fora do Capitólio” a Presidente da Câmara dos Representantes, a democrata Nancy Pelosi.

Antes de Guy viajar para o Capitólio, o seu filho, Jackson, contactou o FBI para denunciar o pai. Guy ameaçou-o. “Se me denuncias és um traidor, e os traidores são baleados.”

Apesar de sentir remorsos por tê-lo feito, Jackson confessou também ter medo dos planos do pai e não se arrepende de o ter entregado à Justiça.

“Não estou feliz de todo, nunca estive feliz durante esta situação, nem ninguém na minha família. Mas se dissesse que estou surpreendido estaria a mentir. Ele é a sua própria pessoa e a sua ação têm consequências”, diz Jackson à CNN Internacional, reconhecendo, apesar de tudo, que o pai acabou por ser “manipulado a fazer essas escolhas”.

Questionado sobre se o pai merece esta sentença, Jackson diz que sim. “Absolutamente. Precisa de um tempo para reabilitar a sua saúde mental. Ele merece muitas redes de segurança”. No entanto, confessa ter receios. “O sistema prisional deste país pode ser muito duro por muitas razões”.

Mas nem toda a gente na família está do mesmo lado de Jackson. “Não importa se és liberal, independente ou republicano, isto não é correto. É perseguição política. Nós somos patriotas, o Guy foi patriota nesse dia e sê-lo-á sempre. Tudo o que posso dizer é que vocês podem ir para o Inferno e eu irei de volta para o Texas”, disse Nicole, mulher de Guy.

Também as irmãs de Jackson se manifestaram à porta do tribunal onde foi decretada a sentença do seu pai. “Rotularem o meu pai como uma pessoa violenta quando alguém [Trump] ainda pode ser eleito outra vez não me parece correto”, afirmou Sarah Reffitt. “Se o meu pai estará na prisão durante este tempo, Donald Trump deveria ser condenado a prisão perpétua”, atirou, por sua vez, Peyton.

Sobre a relação com as irmãs e a mãe, Jackson afirma que os últimos dois anos têm sido “muito difíceis”. “Temos visões polarizadoras e distintas sobre o nosso pai e as comunidades em que se envolveu. Mas não vejo isto como um assunto político, é mais sobre o que é moralmente correto e sobre o que eu meu pai foi manipulado a fazer e o que o levou a considerar aquela maneira como a mais correta de o fazer. Ele decidiu, como adulto, fazer aquelas escolhas. Se a minha família o vê de forma diferente tem um efeito [na relação]”, considera.

“O que o meu pai fez está muito longe da política, é violência completamente descontrolada. Se teve um motivo político não interessa. O meu pai foi usado como fantoche, assim como milhares de famílias”, reforça o filho de Guy, agora com 19 anos.

Apesar de trágico, a CNN Internacional afirma que este caso está longe de ser único. “A carnificina resultante da retórica, mentiras e conspirações de Donald Trump é incalculável. O Trumpismo é uma droga poderosa, que consegue mesmo fazer com que um pai ameace o seu filho”, sublinha a jornalista da CNN Internacional S.E.Cupp no programa ‘Unfiltered’.

E.U.A.

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