A vitória de Trump nessas últimas eleições americanas foi esmagadora. Esse resultado nos leva a pôr em causa a postura de grande parte da grande imprensa internacional e dos principais institutos de pesquisa de opinião pública que passaram os últimos meses divulgando que havia um “empate técnico” na apuração das intenções de votos porque a margem de diferença seria muito pequena. Trump e os republicanos conquistaram não só a presidência, mas também o Senado (que tinha maioria democrata) e a Câmara dos Deputados; além disso, a Suprema Corte, onde Trump já havia indicado três magistrados, terá direito a mais três de nove, totalizando seis indicados. Outro fato que merece relevância nesse cenário é a proximidade que foi construída entre o presidente eleito e Elon Musk nos últimos meses.
Essa composição de forças interna favorece que Trump resolva os problemas domésticos em menos tempo antes de se dedicar à política externa e combater a queda do dólar como moeda de lastro que vem sendo manipulada pelos breaks (criptomoedas).
Apesar disso, deixo algumas provocações para 2025:
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No cenário económico, Trump apresenta uma solução simples para um problema complexo; proteger e estimular a indústria nacional através de tarifas de importação. Vai dar certo?
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Trump foi inconstante em seu primeiro mandato, trocou várias vezes ministros, assessores e até mesmo de opinião; algumas vezes, demonstrou não confiar no próprio esquema de segurança. Será que vai mudar isso?
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A geopolítico internacional apresenta duas guerras que estão inseridas num processo de anomia internacional; em sua campanha, ele prometeu acabar com elas rapidamente. Será possível?
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Internamente, nos últimos anos, os Estados Unidos estiveram marcados por uma forma de articulação política que explora emoções primárias que levaram a divisões sociais e reivindicações identitárias, algumas imaginárias e outras justas. Essa eleição de Trump evidencia que os Estados Unidos apresentam um contexto de ódio contra as elites, contra o pensamento de esquerda identitário e contra a classe política em Washington; é o que se chama se política do ressentimento. Será suficiente para reconstruir o país?
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A violência na Venezuela tem agravado a onda de imigrantes ilegais para os Estados Unidos e, grande parte da comunidade internacional, incluindo Trump, já reconheceu a derrota de Nicolás Maduro e a vitória de Edmundo Gonzalez Urritia nas últimas eleições. O Hezbolah está fortemente instalado no país e bastante integrado com as FARC da Colômbia; além disso, os principais aliados atualmente são a Rússia, China, Cuba e Irão. Certa vez Trump disse que gostaria de invadir a ditadura venezuelana e acabar com Maduro, não fez isso porque não tinha maioria no Congresso. Será que vai mesmo?
A verdade é que, em menos de 36 horas após a divulgação do resultado das eleições o Hamas já solicitou fim imediato da guerra contra Israel, Putin se declarou aberto ao diálogo, a moeda iraniana teve uma baixa histórica e a China declara que surgiu a esperança de uma era de “coexistência pacífica”.
Em relação ao Brasil, parece que com essa nova composição de forças interna dos Estados Unidos e a proximidade de Elon Musk com Trump, algumas questões envolvendo a Suprema Corte de Brasília vão ganhar maior relevância. A Corte Interamericana de Direitos Humanos, que é financiada em mais de 60% pelo governo americano, vai ter de dar atenção às opiniões de Trump. Em relação à Convenção Americana sobre Direitos Humanos, o Brasil e os Estados Unidos são signatários do Pacto de San José da Costa Rica. Assim sendo, se o Brasil não cumprir com o que acordou, poderá ser punido e obrigado a pagar indenizações em pecúnia pelos abusos cometidos contra os Direitos Humanos. Em Washington, a sede da Organização dos Estados Americanos (OEA), cuja maior parte do orçamento vem do governo americano, tem recebido inúmeras denúncias contra o Supremo Tribunal Federal (STF) do Brasil. Os deputados republicanos Maria Elvira Salazar e Chris Smith, que solicitaram a suspensão dos vistos de ministros do STF devido a graves denuncias de violações de Direitos Humanos, foram reeleitos e vão aumentar a pressão. O Secretário de Estado Antony Blinken, que comanda o serviço de imigração e controle dos vistos americanos para entrada nos Estados Unidos, será substituído por uma pessoa indicada por Trump que, provavelmente atenderá aos pedidos de cancelamento de vistos dos ministros brasileiros. Trump, que também pretende se debruçar num projeto de suspensão dos vistos, dessa forma, também poderá pressionar os países da União Europeia a também suspender os vistos dos ministros brasileiros. Se isso acontecer, serão inviabilizados eventos como o “Lide Brazil” (2022) de Nova York, “12.ª Forum Jurídico de Lisboa”(2024) (conhecido como Gilmarpalooza), “Forum Jurídico- Brasil Ideias” de Londres, dentre outros; será que essas atividades passarão a ocorrer em Teerã, Pequim ou Moscou?
* Fernando Montenegro escreve a sua opinião em Português do Brasil