Trump conquista os sete estados mais decisivos mas houve menos eleitores a irem às urnas. Os números das presidenciais de 2024

CNN , Análise de Zachary B. Wolf (com JAV)
10 nov, 09:27
Donald Trump durante uma visita a uma exploração de petróleo (Evan Vucci/AP)

Confirmada a vitória do republicano no estado do Arizona, o derradeiro dos sete onde a contagem final de votos terminou este domingo, só falta saber se o partido de Trump conquistou a Câmara dos Representantes para além do Senado. Resultados finais da votação popular só deverão ser anunciados em dezembro. É provável que o Presidente eleito reivindique uma "vitória esmagadora", mas não é isso que a História dos EUA mostra

Donald Trump pode reivindicar muita coisa com a sua vitória eleitoral em 2024: é um regresso que fica para a História, com um Presidente a passar de pária por ter tentado reverter os resultados de umas eleições a Presidente eleito nas seguintes; houve uma viragem à direita que lhe dá um mandato para começar a “refazer o governo dos EUA” como prometeu que faria ao longo da campanha; e se os republicanos conseguirem conquistar também a Câmara dos Representantes, e já confirmada a vitória do partido no Senado, Trump terá o controlo de toda a estrutura governativa dos EUA para implementar as mudanças que pretende.

Aquilo que Trump não pode reivindicar, contudo, é uma vitória esmagadora, embora seja provável que a descreva assim, sobretudo depois de, este domingo, se ter confirmado que venceu no Arizona, completando o ramalhete dos sete estados mais decisivos nestas presidenciais.

Na manhã deste domingo, Trump também seguia à frente de Kamala Harris no voto popular com pouco mais de 74,5 milhões de votos, contra quase 71 milhões para a rival democrata, apesar de haver ainda milhões de votos por contabilizar nos estados da Califórnia, de Washington e do Utah, entre outros. Os resultados finais da votação popular só deverão ser conhecidos em dezembro.

Quando perdeu para Joe Biden em 2020, Trump conquistou pouco mais de 74 milhões de votos – e sendo verdade que muito do país virou à direita nestas eleições, também é verdade que houve alguma apatia eleitoral, com a taxa de participação nestas presidenciais a ficar aquém da que foi registada há quatro anos.

Isso não significa que a participação eleitoral este ano tenha sido baixa. Segundo o Election Lab da Universidade da Florida, a taxa deverá rondar os 62,3% da população elegível para votar, abaixo dos 66,4% em 2020 mas, ainda assim, acima de outras eleições contemporâneas – vejam-se os casos de 1996 e 2000, em que pouco ultrapassou os 50% de eleitores registados.

Em termos do Colégio Eleitoral, e com o Arizona no bolso, Trump alcançou 312 votos eleitorais, uma vitória sólida mas inferior à registada em metade das eleições presidenciais dos EUA. O valor corresponde a uma prestação melhor do que a sua própria em 2016 ou do que a de Joe Biden em 2020 (cada um conquistou 306 votos no Colégio, de um mínimo de 270 necessários para vencer). Também é superior ao que George W. Bush conquistou em 2000 e 2004, mas bem menos do que os 365 votos eleitorais conquistados por Barack Obama em 2008 e os 332 em 2012.

Bill Clinton, por exemplo, nunca alcançou 50% do voto popular, porque as duas eleições presidenciais a que se candidatou envolveram um terceiro candidato muito forte, Ross Perot – mesmo assim, conquistou 370 lugares no Colégio Eleitoral em 1992 e 379 em 1996. E até essas grandes vitórias são ensombradas pela de Ronald Reagan em 1984, essa sim verdadeiramente esmagadora. Nesse ano, Reagan só perdeu no Minnesota, estado-natal do seu rival democrata, Walter Mondale, e em Washington DC, varrendo todos os outros estados – num total de 525 votos no Colégio Eleitoral e mais de 58% de votos populares.

Tanto Richard Nixon em 1972 como Lyndon B. Johnson em 1964 ultrapassaram os 60% do voto popular nas suas campanhas a um segundo mandato, algo que parece impossível no atual clima político. Também é incrível pensar que duas vitórias esmagadoras tiveram lugar no espaço de oito anos – veja-se a corrida de Nixon a um segundo mandato consecutivo, na qual o seu rival democrata, George McGovern, perdeu até no seu estado-natal da Dakota do Sul e só conseguiu ganhar no Massachusetts e em Washington DC.

Nesses anos, era muito mais provável que os eleitores dividissem os seus votos, ou seja, votassem num partido para a presidência e noutro para o Congresso. Enquanto Johnson, um democrata, gozou de uma forte maioria democrata na Câmara dos Representantes após a sua vitória esmagadora em 1964, os eleitores que deram a Nixon e a Reagan todos os estados, exceto um, também lhes deram uma Câmara controlada pelos democratas.

A tendência mais recente é a de os eleitores alinharem os seus votos para a Câmara, o Senado e a Casa Branca – uma tendência que tem conduzido a um período em que a Casa Branca e o Congresso mudam de mãos de forma mais frequente, apesar de os democratas terem mantido vários assentos do Senado numa série de estados conquistados por Donald Trump este ano.

A vitória de Trump em 2024 marca as terceiras presidenciais consecutivas em que os eleitores norte-americanos “chumbaram” o partido no poder – da última vez que tal teve lugar foi no final do século XIX, em três eleições consecutivas, na mesma altura em que Grover Cleveland se tornou o primeiro Presidente a ser eleito para um segundo mandato não-consecutivo. Este ano, Trump foi o segundo a consegui-lo.

O Presidente eleito nunca mais vai constar de um de boletim de voto, dados os limites impostos pela Emenda 22 da Constituição, que proíbem mais do que dois mandatos para um mesmo chefe de Estado. Ainda assim, os eleitores terão uma oportunidade de avaliar o próximo mandato de Trump e dos republicanos nas intercalares de 2026.

Os últimos três Presidentes, incluindo Trump no seu primeiro mandato, perderam sempre o controlo da Câmara dos Representantes após os primeiros dois anos no poder. Se os republicanos conseguirem mesmo conquistar as duas câmaras do Congresso para além da Casa Branca, Trump terá muito trabalho pela frente para manter os eleitores do seu lado na ida às urnas dentro de dois anos.

E.U.A.

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