Trump explica decisão de autorizar a CIA a operar na Venezuela mas recusa dizer se vais atrás de Maduro

CNN , Kevin Liptak
16 out, 11:03
Donald Trump (EPA)

Presidente dos Estados Unidos atualizou as competências da CIA aproximadamente na mesma altura em que assinou uma norma secreta em que ordenava às forças armadas que começassem a atacar cartéis de droga latino-americanos, no início do verão

O presidente Donald Trump revelou na quarta-feira que autorizou a CIA a operar dentro da Venezuela para travar os fluxos ilegais de migrantes e drogas provenientes daquele país sul-americano, mas recusou-se a dizer se a agência teria autoridade para afastar o presidente Nicolás Maduro.

As declarações são os comentários mais extensos de Trump sobre a sua decisão de expandir os poderes da CIA para realizar ações letais e operações encobertas na região, conforme noticiado pela CNN na semana passada.

O presidente atualizou as competências da CIA aproximadamente na mesma altura em que assinou uma norma secreta em que ordenava às forças armadas que começassem a atacar cartéis de droga latino-americanos, no início do verão, segundo fontes.

Trump associou a autorização aos seus esforços para combater o tráfico de droga.

“Temos muitas drogas a entrar vindas da Venezuela, e muitas das drogas venezuelanas chegam por via marítima, por isso é possível vê-las, mas vamos travá-las também por terra”, afirmou Trump no Sala Oval.

Sem declarar abertamente que pretendia destituir Maduro, Trump afirmou que sentia que os líderes venezuelanos estavam sob pressão.

“Acho que a Venezuela está a sentir a pressão. Mas acho que muitos outros países também estão a sentir a pressão. Não vamos deixar que este país, o nosso país, seja destruído porque outras pessoas querem largar, como dizem, o pior que têm”, afirmou, referindo-se à sua alegação falsa de que alguns países esvaziaram prisões e instituições psiquiátricas para enviar pessoas para os Estados Unidos.

Pouco depois das declarações de Trump, o ministro dos Negócios Estrangeiros da Venezuela, Yvan Gil, afirmou em comunicado que o governo rejeita as “declarações belicistas e extravagantes” de Trump, que classificou como uma violação do direito internacional.

“Vemos com extrema preocupação o uso da CIA, bem como as movimentações militares anunciadas nas Caraíbas, que constituem uma política de agressão, ameaça e assédio contra a Venezuela”, lê-se no comunicado publicado no Telegram.

Em declarações na televisão nacional, Maduro condenou ainda os Estados Unidos pelas suas “declarações discriminatórias e xenófobas” que comparavam venezuelanos ao grupo criminoso Tren de Aragua, o qual afirmou ter sido “erradicado na Venezuela”.

Numa mensagem dirigida ao povo americano, Maduro declarou: “Não à guerra, sim à paz”, em comentários transmitidos pela televisão estatal venezuelana VTV.

O presidente venezuelano Nicolas Maduro fala durante uma conferência de imprensa em Caracas, Venezuela, no dia 15 de setembro. Miguel Gutierrez/EPA/Shutterstock

As declarações surgiram um dia depois de Trump ter anunciado que as forças armadas dos EUA realizaram mais um ataque contra um barco alegadamente envolvido no tráfico de drogas ao largo da costa venezuelana, matando seis pessoas a bordo. Esse foi pelo menos o quinto ataque anunciado pelos EUA, aumentando as tensões com Maduro, que indicou estar a preparar-se para declarar o estado de emergência para proteger o país em caso de ataque militar norte-americano.

Nem Trump nem a sua administração apresentaram provas de que as embarcações visadas transportavam drogas, mas elaboraram um parecer jurídico classificado que justifica ataques letais contra uma lista alargada de cartéis e suspeitos de tráfico, segundo várias fontes familiarizadas com o assunto.

Questionado por jornalistas sobre porque não utilizava apenas a Guarda Costeira para intercetar carregamentos de droga, Trump afirmou que os esforços anteriores, ao longo dos últimos 30 anos, foram “totalmente ineficazes” e “nunca resultaram” quando feitos de forma “politicamente correta”.

Alguns democratas questionaram esta quarta-feira a legalidade das medidas, sugerindo que o presidente estava a ultrapassar a sua autoridade e apontando que o Congresso fazia pouco para o travar. O senador democrata Peter Welch, do Vermont, disse à CNN que o Congresso estava a “abandonar a sua responsabilidade ao não exercer fiscalização”.

“Questionámos qual é a base legal para fazerem isto? Nenhuma resposta. Portanto, o que temos é uma situação em que o chefe do executivo toma decisões sozinho, sem qualquer supervisão, sem qualquer responsabilização sobre quem é morto. E isso não é aceitável”, afirmou.

O senador republicano Rand Paul, do Kentucky, também criticou. Mas outros membros do Partido Republicano defenderam Trump. O senador Jim Risch, o republicano de topo na Comissão de Relações Externas do Senado, afirmou esta quarta-feira que Trump “está a fazer exatamente o que deve fazer”.

Entretanto, a líder da oposição venezuelana María Corina Machado, que foi distinguida na semana passada com o Prémio Nobel da Paz de 2025, apelou a um maior apoio dos EUA para travar o que descreveu como uma “guerra” de Maduro contra o seu próprio país.

Numa entrevista à CNN com Christiane Amanpour, na quarta-feira, Machado repetiu a posição da administração Trump, chamando a Maduro o líder de uma “estrutura criminosa de narcoterrorismo”, e pediu a Trump “mais ajuda” para o afastar do poder.

Pelo menos um ataque militar norte-americano nas Caraíbas, nos últimos dois meses, também teve como alvo cidadãos colombianos num barco que partira da Colômbia, segundo duas pessoas informadas pelo Pentágono sobre as operações. O facto de os colombianos terem sido deliberadamente visados, algo até agora desconhecido, sugere que a campanha militar dos EUA contra grupos suspeitos de tráfico de droga nas Caraíbas é mais ampla do que se pensava.

*Contribuíram para este artigo Kit Maher, Natasha Bertrand, Zachary Cohen, Arlette Saenz, Ellis Kim, Billy Stockwell e Laura Sharman

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