Hipótese surge numa fase de tensão entre os EUA e o Brasil depois de Trump ter imposto tarifas de 50% a produtos brasileiros
Um alto responsável do Governo dos Estados Unidos disse esta quarta-feira que estão em curso negociações para organizar um encontro entre o Presidente norte-americano e o seu homólogo brasileiro durante a Cimeira da Associação das Nações do Sudeste Asiático (ASEAN).
“O Presidente Trump expressou interesse em encontrar-se com o Presidente Lula na sequência da sua conversa amistosa” no início do mês, durante a Assembleia-Geral das Nações Unidas, disse à agência noticiosa France-Press (AFP) um alto responsável norte-americano.
“Estão em curso discussões para viabilizar a realização de tal encontro durante a estadia do Presidente Trump na Malásia", acrescentou.
Lula da Silva estará esta semana na Ásia, primeiro na Indonésia e, depois, em Kuala Lumpur, onde se reunirá com os dois chefes de Estado asiáticos para diversificar os fluxos comerciais e expandir os investimentos entre ambos os países.
Para além disso, na sexta-feira e no sábado participará também na cimeira da ASEAN como atual presidente do grupo de economias emergentes BRICS, um papel no qual o Brasil procura reforçar a sua posição nos fóruns internacionais e aprofundar as relações com os países da região e onde poderá ter um encontro com o Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, em Kuala Lumpur.
Embora fontes do Itamaraty tenham insistido que o encontro ainda não está confirmado, não descartaram essa possibilidade, uma vez que ambos os líderes estarão na capital malaia nas datas referidas e “há espaço” na agenda.
Caso se concretize, o encontro ocorrerá em meio a tensões comerciais entre os dois países, depois dos EUA terem imposto tarifas de 50% a produtos brasileiros na sequência do julgamento em que o ex-Presidente Jair Bolsonaro foi condenado a 27 anos e três meses de prisão.
Após o inusitado breve encontro nos corredores das Nações Unidas por poucos segundos, a “boa química” entre os dois líderes evidenciada por Donald Trump fez com que os dois países reabrissem as linhas diplomáticas, fechadas há meses numa crise sem precedentes.
A 6 de outubro, numa conversa telefónica, o Presidente brasileiro pediu ao homólogo norte-americano a retirada das tarifas aplicadas a produtos brasileiros e as sanções a autoridades brasileiras.
De acordo com a Presidência brasileira, a conversa entre os dois líderes demorou cerca de 30 minutos, na qual Lula da Silva "solicitou a retirada da sobretaxa de 40% imposta a produtos nacionais e das medidas restritivas aplicadas contra autoridades brasileiras".
Já nessa ocasião, segundo a presidência brasileira, "ambos os líderes acordaram encontrar-se pessoalmente em breve" com Lula a propor a possibilidade do encontro realizar-se durante a cimeira da ASEAN.
Também Donald Trump enalteceu a "excelente conversa telefónica" e disse que os dois se iriam reunir "num futuro não muito distante".
Já depois disso, na semana passada, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Mauro Vieira, deslocou-se a Washington para se encontrar com o seu homólogo norte-americano, Marco Rubio, e apelidou este encontrou como o início de "um processo auspicioso" pela reversão das tarifas impostas pelos Estados Unidos, voltando a reiterar a possibilidade de um encontro presencial entre os dois presidentes.
Os Estados Unidos e o Brasil vivem uma crise diplomática sem precedente desencadeada, numa primeira fase, pela presidência brasileira nos BRICS, mas, principalmente, pelo processo que levou à condenação a 27 anos e três meses de prisão do ex-Presidente Jair Bolsonaro, aliado político de Donald Trump.
Donald Trump, que vê o julgamento como uma "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro, já foi avisado várias vezes por Lula da Silva de que a soberania brasileira não está na mesa de discussões entre os dois países.
Para além das tarifas, os Estados Unidos restringiram os vistos a várias autoridades políticas e judiciárias do Brasil, como os juízes do Supremo Tribunal Federal, e impuseram a Lei Magnitsky ao juiz Alexandre de Moraes, relator do processo contra Jair Bolsonaro.