JD Vance "não acrescenta nada". Republicanos estão "preocupados" com escolha de Trump agora que será Kamala a disputar a presidência

CNN Portugal , JAV
27 jul 2024, 14:59
JD Vance (Associated Press)

Várias fontes do partido dizem que o senador do Ohio foi "a pior escolha possível" para a vice-presidência, facto ainda mais notório após a desistência de Joe Biden da corrida à Casa Branca

Um jornalista da revista Atlantic disse esta semana que aliados do ex-presidente Donald Trump estão a questionar a sua escolha para a vice-presidência, o jovem senador do Ohio JD Vance, sobretudo agora que será Kamala Harris, e não Joe Biden, a disputar a Casa Branca pelo Partido Democrata.

Publicamente, Trump continua a defender a sua escolha, alegadamente orientada pelos dois filhos, com o seu diretor de comunicações, Steven Cheung, a desmentir notícias de que está a ponderar substituir Vance por outro parceiro na corrida presidencial.

"O presidente Trump está entusiasmado com a escolha do senador Vance, eles são a equipa perfeita para retomar a Casa Branca”, garantiu Cheung à revista Newsweek na sexta-feira. “Qualquer notícia em contrário não é nada mais do que fake news, vinda ou de fontes inexistentes ou de indivíduos que não fazem ideia do que se passa.”

Segundo fontes do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, citadas pelo site The Hill, há muito descontentamento interno sobre a escolha de JD Vance para a vice-presidência, sobretudo desde a desistência de Joe Biden no domingo.

Sob anonimato, as fontes disseram ao The Hill que as preocupações se prendem com as posições de Vance em tópicos de política externa, bem como a sua falta de experiência e incapacidade de expandir a coligação Trump para lá da base de apoio do ex-presidente.

Entre essas fontes contam-se legisladores veteranos, moderados e conservadores alinhados com a doutrina de Ronald Reagan, mais favoráveis a uma postura musculada dos EUA em matéria de política externa. Todas dizem que a preocupação é generalizada entre os republicanos.

“[JD Vance] foi a pior escolha entre todas as opções”, diz um dos republicanos da câmara baixa do Congresso. “É tão má que nunca achei que fosse possível. Anti-Ucrânia, um populista, não acrescenta nada ao bilhete Trump. Energiza as mesmas pessoas que já adoram Trump.”

“Acho que se perguntarem a muita gente neste edifício, nove em cada 10 do nosso lado vão dizer que ele foi a escolha errada”, adianta outro representante republicano. “Ele é a única pessoa que pode causar sérios danos” à candidatura.

Uma terceira fonte do partido fala numa “grande discórdia” em relação a JD Vance e diz que, se Trump perder para Kamala Harris em novembro, a culpa será da seleção que fez para a vice-presidência. “O sentimento predominante é que, se Trump perder, é por causa desta escolha. Não o ajuda.”

Kamala obteve finalmente o apoio formal do casal Obama e, numa semana, bateu dois recordes de angariação de fundos, um deles entre mulheres caucasianas que pode vir conseguir "roubar" aos republicanos nas urnas (Chip Somodevilla/Getty via CNN Newsource)

Ascensão de Kamala complica candidatura republicana

Consultados pelo Business Insider, quatro cientistas políticos confirmam que os republicanos têm razões para estar preocupados.

No artigo da Atlantic, é referido que a saída de Biden da corrida presidencial está a forçar a equipa de Trump a repensar a sua estratégia, pondo em causa a escolha de JD Vance. Inicialmente, os aliados do ex-presidente ficaram satisfeitos com o plano da campanha, que estava desenhado para derrotar o atual presidente. Mas agora, a luta política mudou de figura.

A escolha de Vance pretendia galvanizar ainda mais a base MAGA que apoia Trump, com o objetivo de reforçar as intenções de voto no candidato republicano e não de atrair eleitores indecisos. Sendo agora esse o objetivo, com as sondagens mais recentes a darem uma margem residual entre Trump e Harris, JD Vance é a escolha errada, dizem os especialistas.

Essa escolha, indica Thomas Gift, diretor do Centro de Política Americana da University College London, “pode ter sido demasiado confiante, dirão alguns”. Ao fazer uma “aposta dupla” em vez de optar por equilibrar a sua candidatura, como fez para o seu primeiro mandato ao escolher o tradicionalista Mike Pence, Trump pode ter deitado tudo a perder.

“Uma aposta dupla na mobilização da base MAGA para um candidato que já tem essa base a comer da palma da sua mão nunca pareceu a melhor jogada tática”, aponta Gift.

Angelia R. Wilson, autora de “The Politics of Hate” e professora de política na Universidade de Manchester, repete a mesma ideia de que a fraqueza da candidatura Trump-Vance ficou a descoberto com a saída de cena de Biden. Com o atual presidente, os candidatos republicanos podiam continuar a focar-se na idade e nas aptidões atuais do democrata, mas com Harris como candidata, têm de mudar o foco para outros assuntos. E o facto de a campanha republicana continuar apostada em explorar as divisões de raça e género na sociedade norte-americana pode levá-la “a perder votos entre as mulheres dos subúrbios” e outras faixas demográficas.

Na última semana, a internet recuperou um vídeo de 2021 em que Vance descreve Harris como uma “daquelas mulheres com gatos e sem filhos” que vivem “miseráveis” por não terem descendência e, por isso, não poderem ter uma palavra a dizer sobre o futuro da América. (De referir que Harris tem dois enteados, filhos do seu marido, Doug Emhoff.)

As declarações geraram um coro de críticas, incluindo de celebridades como Jennifer Aniston, com Vance a vir defender-se – e a voltar a meter o pé na argola. “Não queria insultar os gatos”, disse na sexta-feira em entrevista à conservadora Megyn Kelly. “Obviamente era um comentário sarcástico. As pessoas estão a focar-se muito no sarcasmo e não na substância do que eu realmente disse.”

Para Colin Talbot, professor emérito de política na Universidade de Manchester, esta e outras declarações que Vance tem feito para pintar os democratas como sendo “anti-família” podem alinear “o voto de mulheres centristas registadas como independentes”, um dos grupos demográficos que mais deverá pesar nestas presidenciais.

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