A Bíblia de Donald Trump

Enviado-especial aos EUA
31 out 2024, 07:42

Elevation! Com letreiros neon lemos na fachada do edifício: Elevation! A muita distância podíamos ser guiados na direção certa da igreja que procurávamos. E ele, o pastor, aspirante às coisas do alto, com dois metros de altura e voz cava de afro-americano do Sul, logo virou para o olhar sereno mas não menos táctico e respondeu: “Well…”.

Eu, antevendo o obstáculo a chegar, depressa atalhei: “O nosso objectivo não é saber se a vossa igreja orienta o voto do rebanho que vos segue. Só queremos perceber até que ponto a religião pode influenciar o resultado eleitoral de 5 de novembro.”

Impassível, lá de cima, o interlocutor deixou cair novo “Well…”

Para de seguida acrescentar, pausado, sempre pausado, que “o melhor é falar com o responsável máximo da nossa congregação. Ele é a pessoa indicada para responder, só que agora não está cá. Mas telefonem-lhe.”

Igreja Elevation - A fé nos outros e dos outros

Saímos do templo, com contornos de casa de espectáculos, de mãos e microfones a abanar. Claro!

No entanto, insistimos. Fomos pregar a missão de informar noutras paragens. Não apenas por dever de profissão. Sobretudo por causa da bíblia de Donald Trump.

Pois é, sim, é! Se não sabia, fica a saber que o ex-presidente tem uma bíblia. Titulou-a de “God bless America” e nela inscreveu o hino da sua campanha com letra e música do cantor country Lee Greenwood. O God Bless the USA. A música que é presença assídua nos comícios do republicano.

Apesar de considerada uma blasfémia por líderes religiosos evangélicos, o candidato a voltar à Casa Branca ainda vende o livro. Lá dentro a par do Génesis e do Êxodo, por exemplo, podemos ler a Declaração de Independência dos EUA ou o “ Pledge of Allegiance”, o compromisso de lealdade para com os Estados Unidos da América.

“Se os eleitores cristãos votarem com a bíblia a vitória será esmagadora”.

Paulo Brintley

A declaração fê-la Paulo Brintley, pastor, também. Orientador de um rebanho que se espalha por 15 países, na próxima semana ruma à Polónia, onde inaugura o seu primeiro templo na terra de Karol Voytila, conhecido por papa João Paulo II.

Além de líder religioso, Paul faz parte da organização “Faith and Freedom Coalition” da Carolina do Norte. Pergunto-lhe, afinal, quem teria a vitória esmagadora. “Os cristãos e Donald Trump”, foi a resposta.

Há muito que o ex-presidente corteja este eleitorado imenso. Estima-se que hoje haja mais de 480 mil igrejas evangélicas nos EUA. A maioria com uma agenda muito conservadora e por vezes reacionária.

Há uma semana, também na Carolina do Norte, Trump recebeu o apoio de vários líderes evangélicos, garantindo, depois de agradecer a Deus ter-lhe salvado a vida no atentado que quase lha tirou, que só ele será o protector da fé e da liberdade religiosa.

Milhares, se não milhões, acreditam nisto, e por isto votarão.

E se assim for a nova Elevation de Trump a presidente, estará mais próxima.

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