Como sobreviver ao sono com uma pessoa que fala a dormir

CNN , Sandee LaMotte
30 mai, 10:00
Ilustração dormir durante o sono (Agne Jurkenaite/CNN)

Fala enquanto dorme ou tem um ente querido que o faz? É um problema comum do sono para muitos, dizem os especialistas.

Cerca de 50% das crianças falam a dormir – e tipicamente ultrapassam isso – enquanto apenas cerca de 5% dos adultos são tagarelas noturnos, de acordo com a Academia Americana de Medicina do Sono. Contudo, entre 60% a 65% dos adultos experienciam pelo menos um episódio de fala noturna no seu tempo de vida, refere a academia.

Os solilóquios do sono podem ocorrer em qualquer fase do sono, não apenas durante o sono REM (Movimento Rápido dos Olhos), a fase em que ocorrem os sonhos, dizem os especialistas. Estas conversas unilaterais são normalmente inofensivas e podem incluir murmúrios, gemidos e palavras sem sentido, bem como linguagem vulgar e gritos.

Quando ocorrem, o parceiro de cama pode deixar de achar piada à conversa e começar a procurar formas de proteger o seu próprio sono, diz o especialista em distúrbios do sono Carlos Schenck, professor e psiquiatra sénior do Hennepin County Medical Center da Universidade do Minnesota.

“Há algumas coisas que um parceiro de cama pode fazer para salvar o seu sono”, diz Schenck. “Mas primeiro é preciso garantir que não há problemas ocultos que possam estar a causar o distúrbio.”

Falar durante o sono, ou sonilóquio, pode estar relacionado com problemas de saúde mental como perturbação do stress pós-traumático (PTSD), depressão e ansiedade. Os medicamentos para tratar a depressão e outras doenças do foro mental, a tensão arterial elevada, as convulsões, a asma e, estranhamente, outros distúrbios do sono também podem levar uma pessoa a falar durante o sono, de acordo com a Clínica Cleveland.

“Se o seu parceiro nunca falou durante o sono e de repente começa a fazê-lo após os 50 anos de idade, e o problema se torna cada vez mais sonoro e frequente, então deve mesmo procurar um médico para uma avaliação neurológica”, diz Schenck. “Isso pode ser o primeiro sinal de uma doença neurodegenerativa, como Parkinson’s.”

A apneia obstrutiva do sono – um distúrbio do sono grave em que as pessoas param de respirar entre 10 segundos e dois minutos trinta ou mais vezes por hora – também pode fazer com que o cérebro fique parcialmente acordado e comece a tagarelar. Os parceiros de cama são, muitas vezes, os primeiros a aperceberem-se da apneia do sono, observando uma paragem total da respiração, seguida de um suspiro de ar.

O refluxo ácido ou o seu primo mais grave, a doença do refluxo gastroesofágico (GERD), também podem causar uma estimulação parcial que pode espoletar o cérebro para a falar, diz Schenck.

Dicas para lidar com o falar durante o sono

Um gerador de ruído branco ou uma ventoinha barulhenta são uma óptima defesa, diz Jennifer Mundt, professora assistente de medicina do sono, psiquiatria e ciências comportamentais na Feinberg School of Medicine da Northwestern University, em Chicago.

“Tampões para os ouvidos ou headphones confortáveis que cancelam o ruído também podem ajudar”, diz. Existem tampões de vários formatos: espuma expansível, versões pré-moldadas e moldes customizados, que são criados para encaixar de forma precisa no formato e tamanho do canal auditivo.

“Depois, pode tentar adormecer antes da pessoa que fala durante o sono para não ser acordado tão facilmente. É aí que o gerador de ruído branco ou uma ventoinha barulhenta podem ser muito, muito úteis”, diz Schenck.

Chegados aqui, é altura de algum trabalho de detetives. Trabalhe com o seu parceiro de cama para descobrir os fatores que desencadeiam a fala durante o sono, como o stress, o consumo de álcool, a privação de sono, o não cumprimento de um horário normal de sono ou mesmo dormir num ambiente novo, dizem os especialistas.

Para algumas pessoas, algo tão benigno quanto estarem de férias ou dormirem num sítio novo pode causar um episódio, diz Mundt.

“Nestas alturas o cérebro fica um pouco mais vigilante, porque estamos num ambiente novo, e isso significa que há mais probabilidade de se ter um despertar parcial, em que uma parte do cérebro está acordada e a outra está a dormir”, adianta Mundt.

No final de contas, é responsabilidade da pessoa que fala durante o sono assumir o seu distúrbio e encontrar soluções para parar de perturbar o sono do parceiro, diz Schenck.

“A pessoa que fala durante o sono tem de ter muita consideração pelo seu parceiro”, diz Schenck. “Se dormir de costas piora a situação, então arranje um pijama onde possa colocar uma bola de ténis nas costas para não dormir nessa posição.”

E se consumir álcool for um fator desencadeante, isso também deve ser interrompido ou diminuído, acrescenta. “Corte com o álcool para poder partilhar a sua consideração pelo seu parceiro de cama que é perturbado pelas suas conversas durante o sono.”

O que nos faz falar durante o sono?

Falar a dormir é uma parassónia que integra a mesma categoria dos terrores noturnos, do comer a dormir, da paralisia do sono e do sexo durante o sono. Todas são perturbações de estimulação, em que uma parte do cérebro acorda enquanto o resto dorme.

As parassónias são frequentemente de família, e é mais provável sofrer de uma se se tiver tido uma em criança. Se mais do que um parente de primeiro grau tiver uma parassónia, então é muito mais provável que os comportamentos de sono na infância se mantenham ou voltem a ocorrer na idade adulto, diz Schenck.

“Não há uma forma de prever se se vai desenvolver uma parassónia. Algumas pessoas que falavam ou andavam durante o sono em crianças voltam a ter esse comportamento na idade adulta, mas muitas outras não”, adianta.

Falar durante o sono ocorre muitas vezes espontaneamente “de uma forma bastante imprevisível”, explica Scenck, ainda que, por vezes, possa acontecer quando se tem febre ou se sofre de stress emocional. Contudo, “falar durante o sono deve ser distinguido da catatrenia, um distúrbio respiratório associado ao sono que é tipicamente caracterizado por gemidos quando se dorme.”

Muitas pessoas que falam durante o sono não precisam de tratamento médico, mas se a perturbação for grave, há tratamentos disponíveis, como a terapia cognitivo-comportamental, concebida para ajudar a identificar e a reduzir os fatores de stress e os pensamentos negativos durante o sono.

Uma boa higiene do sono, como ir para a cama e acordar todos os dias à mesma hora, evitar cafeína depois das três da tarde e eliminar todas as luzes do quarto, incluindo de ecrãs de smartphones, portáteis e televisões, também pode ajudar.

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