O que são desordens alimentares e porque mais de 20% das crianças de todo o mundo mostram sinais disso

CNN , Madeline Holcombe
26 fev 2023, 17:00
A intervenção precoce é útil para pessoas que apresentam sinais de desordem alimentar e distúrbios alimentares, defende a terapeuta Jennifer Rollin, fundadora do The Eating Disorder Center em Rockville, Maryland. HighwayStarz/Adobe Stock

Mais de uma em cada cinco crianças e adolescentes em todo o mundo mostram sinais de desordens alimentares [não confundir com distúrbios alimentares], de acordo com um novo estudo.

O estudo destaca um grave problema de saúde pública que muitas vezes é subnotificado e subestimado, de acordo com a meta-análise publicada na revista JAMA Pediatrics.

Os investigadores reviram e analisaram 32 estudos de 16 países e descobriram que 22% das crianças e adolescentes apresentavam desordens do comportamento alimentar. Estes números foram mais elevados entre as raparigas, adolescentes mais velhas e aquelas com maior índice de massa corporal, ou IMC, de acordo com a investigação.

A desordem alimentar é semelhante em comportamento a um distúrbio alimentar - pode incluir regras alimentares rígidas sobre quanto uma pessoa pode comer, o que está a comer e quantidade de exercício em relação à alimentação, explicou a terapeuta Jennifer Rollin, fundadora do The Eating Disorder Center em Rockville, Maryland, nos Estados Unidos.

Para alguém ser diagnosticado com um distúrbio alimentar, existem sintomas semelhantes juntamente com um nível mais elevado de rigidez, angústia e comprometimento das funções vitais, acrescentou. Os comportamentos alimentares desordenados podem progredir para um diagnóstico de distúrbio alimentar.

"No entanto, é importante notar que tanto a alimentação desordenada como os distúrbios alimentares são graves e merecem tratamento e ajuda profissional", defendeu Rollin.

O comportamento alimentar desordenado pode ser desvalorizado porque as crianças podem esconder os seus sintomas ou evitar procurar ajuda devido ao estigma, segundo o estudo.

Da mesma forma, o estudo pode ter sido limitado na sua capacidade de retratar toda a realidade porque se baseou em dados nos quais as crianças e os adolescentes fizeram o próprio relato do seu comportamento, disse o autor do estudo, José Francisco López-Gil, investigador pós-doutorado no centro de saúde e investigação social da universidade de Castilla-La Mancha, em Espanha.

"A prevalência de desordem alimentar poderia ser ainda maior se as crianças fossem questionadas sobre sintomas de compulsão alimentar ou de exercício em excesso e incluíssem estudos durante a pandemia", indicou Jason Nagata, professor assistente de pediatria na universidade da Califórnia em São Francisco. Nagata não esteve envolvido na investigação.

Os investigadores precisam agora de aprofundar o que está a causar os comportamentos alimentares desordenados, sublinhou López-Gil. Mas, enquanto isso, os especialistas esperam que as instituições e famílias se concentrem em identificar e ajudar as crianças que estão a mostrar sinais de comportamentos alimentares desordenados.

Estes comportamentos são perigosos e podem levar a graves complicações médicas em órgãos como o coração, o cérebro, fígado e rins, alertou Nagata.

"A alimentação desordenada é um problema significativo entre crianças e adolescentes, e a deteção e intervenção precoces são cruciais para prevenir consequências de saúde a longo prazo", considerou López-Gil. "Os resultados podem ajudar profissionais de saúde, educadores e pais a compreender a magnitude do problema e desenvolver estratégias de prevenção e intervenção."

Os sinais de desordem alimentar

Os adultos devem estar atentos aos sinais de desordem alimentar tanto em si mesmos como nos seus filhos, observou López-Gil.

Esses comportamentos podem incluir uma obsessão com o peso ou a forma do corpo, autoimagem distorcida, regras alimentares rígidas, compulsão alimentar e de purga, indicou.

O exercício físico realizado de forma a piorar a qualidade de vida também ser um sinal de aviso, disse Nagata.

"Outras linhas vermelhas incluem o jejum, a restrição calórica significativa, vómitos, uso de laxantes ou comprimidos dietéticos para perder peso", acrescentou.

A alimentação desordenada pode também estar na restrição de grupos de alimentos que uma pessoa está disposta a comer, no sentimento de ansiedade ou vergonha se as regras alimentares forem quebradas, e no nível de afetação do humor ou comportamentos alimentares, limitando a participação em eventos sociais ou levando os alimentos que seguem as regras a eventos para controlar a sua alimentação, considerou também Rollin.

Este tipo de comportamentos pode motivar alguém a afastar-se das suas atividades habituais, o que é outro sinal de aviso a ter em conta, segundo Nagata.

Embora os números tenham sido mais elevados em adolescentes e pessoas com um IMC mais alto, os distúrbios alimentares afetam as pessoas de todos os géneros, etnias, orientações sexuais e tamanhos, enfatizou Nagata.

E os distúrbios alimentares podem ser particularmente subdiagnosticados em rapazes, pessoas LGBTQ, pessoas de cor e pessoas com corpos maiores, acrescentou.

"Não se pode dizer que alguém tem um distúrbio alimentar com base apenas na aparência", argumentou Nagata.

Como encontrar ajuda

Se vir sinais de desordem alimentar no seu filho, procure ajuda de um profissional de saúde ou de um especialista em saúde mental, indicou López-Gil.

A intervenção precoce é importante para que a desordem alimentar não progrida para um distúrbio alimentar totalmente diagnosticado, disse Rollin.

As famílias podem oferecer apoio aos seus filhos, começando de uma forma positiva e sem julgamentos, sugeriu López-Gil.

E os adolescentes que estão preocupados com o seu próprio comportamento podem falar com um familiar, profissional de saúde, conselheiro escolar ou professor, propôs Nagata.

A melhor forma de ajudar a tratar um distúrbio alimentar ou uma desordem alimentar inclui várias pessoas, desde profissionais de saúde mental a nutricionistas, lembrou Nagata.

"O distúrbio alimentar e a desordem alimentar podem prejudicar ou limitar a qualidade de vida de alguém, pois ambos enchem a sua cabeça de pensamentos sobre a comida e o corpo", afirmou Rollin, acrescentando que estes comportamentos muitas vezes o afastam de outras coisas que valoriza na vida. "A liberdade é possível e você merece viver uma vida plena - não uma que seja consumida por comida, exercício e peso."

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