A guerra da Ucrânia significou “uma mudança de paradigma” para o Japão

26 abr 2022, 14:56

Novo embaixador de Portugal em Tóquio apresentou esta terça-feira as credenciais ao Imperador Naruhito e falou com a CNN Portugal sobre a nova atitude da terceira maior economia do mundo na frente diplomática

Vítor Sereno, novo embaixador de Portugal no Japão, considera que há “indiscutivelmente” uma “mudança de paradigma” do Japão do ponto de vista da política externa desde o início da guerra na Ucrânia.

No dia em que apresentou ao imperador do Japão as cartas credenciais, o novo representante de Portugal em Tóquio falou com a CNN Portugal sobre a nova atitude japonesa no palco da diplomacia internacional, mas também da longa história de relações bilaterais, que remonta a 1543, quando os portugueses foram os primeiros europeus a chegar às ilhas do Japão.

Nesta entrevista, Vítor Sereno fala também da experiência de apresentar credenciais ao único chefe de Estado em todo o mundo que tem o título de imperador - o que “envolveu, nestes últimos dias e semanas, todo um conjunto de protocolos e rituais muito interessantes”.

No momento em que começa a representar em Tóquio “um país com 900 anos de história, que está há 500 ligado ao Japão”, Vítor Sereno aponta para a importância do longo passado das relações bilaterais, mas sobretudo para um futuro em que quer mostrar no Japão “um Portugal moderno, competitivo e bom parceiro de investimento”.

A terceira maior economia do mundo está apenas em 31.º lugar enquanto destino de exportações portugueses. “É necessário colocar o Japão no mínimo no top 10”, diz o embaixador, que conta no seu currículo com uma distinção como “diplomata do ano”, recebida em 2019.

Para além da sua importância enquanto potência económica, o Japão parece apostado em ganhar mais voz na geopolítica internacional. Desde o início da guerra na Ucrânia o país tem sido muito vocal na condenação da Rússia e no apoio aos ucranianos - tanto na ajuda aos refugiados como no apoio material à resistência à invasão, com o envio de material militar não letal.

Os últimos dois meses

Na opinião do diplomata português, para constatar a “mudança de paradigma” basta comparar a atitude do Japão face a este conflito com aquela que teve em 2014, quando Putin anexou a Crimeia, e Tóquio só avançou com algumas ações de retaliação, modestas, por causa da forte pressão dos EUA.

O Japão abandonou a sua tradição de discrição diplomática, “não obstante Moscovo e Tóquio terem relações muito próximas a nível comercial”, e apesar de a Rússia ter um papel importante no fornecimento de petróleo e gás ao Japão, importações de importância “vital” para este país. Nipónicos e russos têm dois grandes projetos conjuntos na área da energia, mas nem isso travou o governo japonês na hora de condenar a invasão russa da Ucrânia e de avançar com sanções económicas, ao lado dos outros países do G7.

“O Japão colocou-se indiscutivelmente ao lado dos parceiros do G7”, com sanções contra empresas e pessoas da Rússia, incluindo o próprio Putin e sua entourage próxima. Segundo Vítor Sereno, a atitude do governo de Fumio Kishida é bastante distinta daquilo que acontecia no tempo de Shinzo Abe, que governou o Japão ao longo da década anterior. E o apoio à Ucrânia e condenação da Rússia tornaram-se ainda mais notórios depois da divulgação das imagens do massacre de Bucha, nota o diplomata. Tudo aponta, em sua opinião, para “uma mudança de paradigma quer político quer económico”.

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