Três das maiores decisões que alguma vez tomará - e como abordá-las

CNN , Jessica Sooknanan
4 fev 2023, 16:00
Namorar (Pexels)

Há algumas conversas importantes que a ativista financeira Dasha Kennedy gostaria de ter tido com o ex-marido antes de se casarem quando tinham 20 e poucos anos. Não discutiram questões de dinheiro antes do casamento e não demorou muito para que isso começasse a pesar sobre eles.

"Estava a partir do que sabia superficialmente, que é uma família de duas pessoas que trabalham e com dois rendimentos. Pensei que isso era uma receita para uma casa financeiramente sólida", disse Kennedy. "Mas nós não estávamos na mesma página financeiramente."

Divorciou-se aos 25 anos e o processo de separação de 16 meses sobrecarregou-a com dívidas avassaladoras, que levaram anos a pagar enquanto trabalhava como contabilista. Agora, com 34 anos, Kennedy iniciou uma segunda carreira, criando uma comunidade online chamada The Broke Black Girl [um trocadilho com o nome do filme 'O Segredo de Brokeback Mountain', 'Brokeback Mountain' no original, uma vez que em português 'broke' significa 'sem dinheiro', e 'black girl' 'rapariga negra'], onde treina mulheres sobre literacia financeira e hábitos saudáveis de dinheiro.

Não ter conversas importantes e fazer as perguntas certas ao tomar decisões que mudam a vida - como casar, mudar de emprego e comprar casa - pode levar a dar um grande passo antes de estar pronta, alertou Kennedy. Eis, então, o que considerar antes de avançar, de acordo com os especialistas.

Fale antes de casar

Os problemas financeiros estão entre os motivos mais comuns para o stress das relações e o divórcio, de acordo com estudos, e Kennedy não tem dúvidas de que esse foi o seu caso. Ela encoraja, por isso, os casais a falar de coisas como dívidas, orçamentos e metas financeiras a longo prazo muito antes do casamento para atenuar o stress financeiro mais tarde.

"Os casais devem sempre discutir as suas expectativas para dali a cinco, 10, 20 anos. É fácil ignorar isso quando se é jovem e se vai casar, porque está entusiasmado com o que está à sua frente", observou Kennedy. "Mas os objetivos a longo prazo responsabilizam ambos. Por exemplo, uma pessoa pode querer voltar à escola ou ficar em casa com os filhos. Todas essas coisas têm impacto num casamento."

É claro que as finanças não são o único tema a discutir antes do casamento. O terapeuta familiar George James, de Filadélfia, incentiva os casais a serem sinceros e a verbalizarem sobre o que precisam de um parceiro - incluindo expectativas sobre comunicação, dinâmica familiar e intimidade.

"Encorajo as pessoas a serem assertivas. Pergunte pelo que quer e precisa na sua relação. Muitas pessoas simplesmente não são assertivas", apontou James.

James também recomenda aos casais que considerem o aconselhamento pré-matrimonial com um terapeuta. O processo pode ajudá-los a tornarem-se melhores comunicadores, o que é fundamental para uma relação de sucesso a longo prazo.

"Vão ter algumas discussões, vão passar por momentos difíceis", antecipou James, que é casado e tem dois filhos. "Mas também é isso que constrói a jornada. Quando penso na minha relação com a minha mulher, os tempos difíceis permitiram-nos ter memórias para as quais podemos olhar e dizer: 'se conseguíssemos fazer isto, penso que poderíamos fazê-lo da próxima vez que tivéssemos alguns obstáculos'".

Pesar os custos da compra de casa

Kennedy mudou-se recentemente de St. Louis, no Missouri, para Atlanta com os seus dois filhos, e, num post no Instagram, chamou à mudança "uma das coisas mais assustadoras, mas gratificantes" que já fez. Apesar de atualmente ter optado pelo arrendamento, planeia comprar uma casa dentro de alguns anos.

"O meu objetivo é construir uma casa multigeracional. Quero uma casa que permita à minha mãe, à minha avó e aos meus filhos ficar comigo durante o tempo que precisarem", contou Kennedy.

Há uma boa razão para a sua abordagem paciente: ter uma casa significa lidar com muitas despesas grandes - e muitas vezes inesperadas. Custos de manutenção mais altos do que o previsto estão entre os principais motivos pelos quais dois terços dos proprietários sentem remorso do comprador, de acordo com um estudo do Bankrate. Outras razões para o arrependimento incluem a localização e o valor da hipoteca.

Para se preparar para ter casa própria, Kennedy disse que é importante compreender todos os custos.

"É preciso considerar inspeções, reparações, impostos, adiantamentos... É muito mais do que o pagamento de uma hipoteca", alertou.

Kennedy aconselha os seus clientes a gastar cerca de 25% dos seus rendimentos mensais no pagamento da hipoteca, o que deixará dinheiro para contas, reparações e despesas inesperadas. Também incentiva as pessoas a manterem-se atentas aos seus créditos antes de abordarem os bancos para um empréstimo.

"Faça uma avaliação de como está atualmente a gerir as suas contas. Hábitos saudáveis permitem aos credores ver que tipo de proprietário será", sublinhou Kennedy. "Isso irá definitivamente ajudá-lo a aumentar as suas hipóteses de aprovação quando estiver a tentar comprar uma casa."

E embora haja muitos benefícios na compra de uma casa, Kennedy lembrou que não há nada de errado em arrendar.

"A compra de uma casa é uma das maiores decisões que irá tomar. A maioria das pessoas veem-na como um investimento financeiro. Mas pode não ser para todos. E isso não tem problema", defendeu.

Identifique a motivação para mudar de emprego

Quando Kennedy decidiu mudar de carreira em 2019, deixando o seu emprego em contabilidade para gerir a The Broke Black Girl a tempo inteiro, sentiu que não era opção manter o status quo.

"Penso que se tivesse ficado naquele papel, teria levado um grande golpe na minha autoestima. E não seria capaz de ajudar realmente as pessoas da forma que queria ajudar", argumentou.

Todos os empregos são temporários, por isso é importante saber quando chegou a hora de explorar outras opções, disse J.T. O'Donnell, fundadora e CEO da empresa de desenvolvimento profissional Work It Daily.

"Penso que quando acorda e a motivação já não o está a guiar, é preciso sentar-se e perguntar a si próprio, com o que é que está insatisfeito", disse O'Donnell à CNN. "O erro que vejo as pessoas cometer é enterrarem esse sentimento. Isso afeta o seu trabalho e quando dão por isso estão infelizes."

As principais razões para a geração Z e millennial para deixar o trabalho foram o salário, o esgotamento e a sensação de que o local de trabalho era prejudicial para a sua saúde mental, de acordo com um estudo da Deloitte de 2022. O'Donnell lembra que é importante conversar com o seu chefe se sentir que há algo que pode ser feito para melhorar a sua situação no trabalho.

"Ou talvez você esteja a perceber: 'uau, este não é o lugar certo para mim ou o tipo certo de trabalho para mim'", observou O'Donnell. "É quando é altura de começar a procurar um novo emprego."

Ela encoraja as pessoas a criar uma "lista de entrevistas" antes de mudar de emprego, com os seguintes passos:

  • Passo 1: "Encontre 10 empresas que respeite e admire. Não que tenha ouvido dizer que são um ótimo local para trabalhar, mas pelas quais tem realmente esse sentimento."
  • Passo 2: "Anote o porquê de as admirar. Cada uma dessas empresas tem um lugar na sua lista porque adora o produto que vendem, ou o serviço que prestam, ou os clientes que atendem, ou a sua abordagem. Há algo nelas que a atrai."
  • Passo 3: "Pergunte a si mesmo como começou a admirá-las. Isso torna-se vital, porque é onde foi buscar a sua motivação para fazer o trabalho e para estar ligado à empresa."
  • Passo 4: “Agora, olhe para os padrões. Dez empresas que admira e que sabe que são importantes, melhores, diferentes, seja lá o que for - aquela história de conexão. Verá padrões.”

O'Donnell disse que este exercício pode ajudar os candidatos a emprego a descobrir o que os motiva a trabalhar, aumentando as hipóteses de serem felizes no seu próximo papel.

E mudar de emprego também pode compensar. Metade dos trabalhadores norte-americanos que mudaram de emprego entre abril de 2021 e março de 2022 tiveram um aumento de 9,7% ou mais em relação aos seus rendimentos um ano antes, de acordo com a Pew Research.

"Se quer ter uma ótima carreira toda a vida, procure sempre um emprego", disse O'Donnell. "Procure empresas que fazem coisas que são importantes para si."

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