Habitualmente, associamos a transformação digital à utilização da tecnologia e meios digitais para alterar o modo como as empresas operam e fazem chegar os seus produtos e serviços aos seus clientes. Contudo, mais do que introduzir inovações tecnológicas nos seus processos operativos e de distribuição, uma empresa que se queira manter competitiva precisa de definir uma estratégia para transformar o seu modelo de negócio, no sentido de criar mais valor para os seus stakeholders, adaptando-se ao contexto, mas sem perder o foco na sua missão.
A pandemia veio acelerar o processo de adoção digital por parte das empresas, obrigando à alteração de modelos de negócio e de relação com clientes e potenciais clientes. No estudo ACEPI, “Economia Digital em Portugal 2022”, 62% das empresas portuguesas já tem presença na internet e 58% utiliza as redes sociais, um crescimento de 9 p.p. face a 2019.
Ainda que esta presença seja maioritariamente institucional ou para apresentação dos seus produtos e serviços, estes números demonstram que uma presença digital se tornou mais importante para as empresas se manterem relevantes e ampliarem o seu mercado endereçável, sobretudo se acompanhada de investimento em ações de marketing digital, como por exemplo email marketing, SEO e publicidade em redes sociais. No entanto, em média, apenas 17% do orçamento de comunicação destas empresas é aplicado a ações de marketing digital, um valor que deverá aumentar com a mudança de hábitos imposta pelas gerações nativas digitais.
Na vertente de comércio eletrónico, estima-se que este valha hoje cerca 130 mil milhões de euros, mais 35% que em 2019. Mas apenas 16% das empresas nacionais disponibilizam a possibilidade de compra online, com as pequenas e médias empresas a representarem 14% e 26% respetivamente, abaixo da média europeia.
Portugal ocupa a 15.ª posição no Índice de Digitalização da Economia e Sociedade (DESI) calculado pela CE, o que corresponde a uma subida de quatro lugares no ranking dos 27 da UE desde 2019, como resultado de uma maior adoção de tecnologias digitais e do reforço a nível das competências digitais dos recursos humanos.
As empresas portuguesas têm investido na utilização da inteligência artificial e robótica para a automação de processos, em busca de uma maior eficiência operativa. Mas existe espaço de crescimento na utilização de big data na gestão e na personalização de serviços, na adoção de serviços em cloud para maior escalabilidade e capacidade de resposta à mudança, e até mesmo investimento em serviços IoT, estes mais dependentes de boas redes de conectividade.
Adicionalmente, muitas empresas continuam a manifestar uma escassez de talento com competências necessárias, sendo por isso fundamental continuar a apostar na formação e requalificação de recursos, além da utilização de modelos de colaboração híbridos e com equipas multidisciplinares.
No contexto atual, com o aumento das taxas de juro e inflação, as empresas enfrentarão desafios adicionais nas suas decisões de investimento e o financiamento a projetos de transformação olhará ainda mais a critérios de eficiência e capacidade de geração de resultados de forma sustentável. Nesta vertente, um importante instrumento deverá ser também o Mecanismo de Recuperação e Resiliência que determina que os Estados Membros da UE deverão alocar pelo menos 20% do montante total dos seus planos a medidas que contribuam para a transição digital e seus desafios. Em Portugal, essa proporção representará 22%, o que se espera que seja suficiente para continuar a suportar a subida da competitividade da nossa economia.
Para concorrer em mercados com uma maior eficácia financeira e maior adoção digital, a resposta das empresas portuguesas terá de ser em contraciclo. Projetos de digitalização e programas de transformação em curso não poderão parar ou abrandar, devendo-se sim redefinir prioridades e reavaliar soluções tecnológicas disponíveis para uma mais eficiente e eficaz alocação de recursos e otimização de custos, sem perder o foco na criação de valor, sobretudo para os clientes.