Exclusivo: há três sensores de glicose à espera de aprovação final no Infarmed

31 out, 21:15

Diabéticos em França, Bélgica e no Reino Unido já têm alternativas acessíveis e abastecimento regular de sensores de glicose, enquanto em Portugal os doentes têm de percorrer, às vezes quilómetros, para conseguir um dispositivo

O Infarmed garante que três novos sensores de medição de açúcar no sangue estão em fase final de comparticipação. A chegada destes dispositivos poderá finalmente resolver a crise de abastecimento que tem levado milhares de diabéticos portugueses a fazer quilómetros e bater de porta em porta nas farmácias.

Atualmente, o Freestyle Libre é o único sensor comparticipado em Portugal. Mas este dispositivo é fornecido diretamente pelo laboratório, sem passar pelos armazenistas habituais. “Este é o único dispositivo que conheço que não está disponível em armazém”, explica “André”, um armazenista que falou sob anonimato.

Segundo a presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), Ema Paulino, normalmente, os medicamentos e dispositivos "estão incluídos num sistema de distribuição em que são utilizados distribuidores farmacêuticos”, aos quais as farmácias fazem pedidos todos os dias. Garante também que esses medicamentos e dispositivos chegam, “por exemplo, no dia a seguir ou, muitas vezes, até em poucas horas”.

Porém, no caso do Freestyle Libre, foi o laboratório que determinou a quantidade enviada a cada farmácia, com base no histórico de pedidos. “Muitas farmácias já identificaram aqui desequilíbrios em relação às quantidades que necessitavam anteriormente e às quantidades que necessitam hoje em dia”, acrescenta Ema Paulino.

O programa Exclusivo, da TVI (do mesmo grupo da CNN Portugal), tentou aceder ao contrato celebrado entre o Estado e a farmacêutica responsável pelo Freestyle Libre, mas o documento nunca foi cedido. Questionado, o Infarmed esclareceu que o contrato “apenas regula a comparticipação” e não define o regime de distribuição.

O Exclusivo viajou por três países europeus para perceber se o problema de escassez se repete além-fronteiras. Não acontece.

Em França, o sensor custa cerca de 45 euros, é comparticipado a 100% mediante receita médica e já existe concorrência, com o Dexcom One disponível nas farmácias.

“Tivemos momentos de tensão no abastecimento deste produto, porque foi utilizado sobretudo por desportistas ou por pessoas que vieram de propósito adquiri-lo em França porque não o encontravam no seu país de origem e tivemos stocks bastante reduzidos. Mas a situação normalizou, até porque agora temos um concorrente, que é o Dexcom One”, explica um farmacêutico francês.

Na Bélgica, o Freestyle Libre 2 é fornecido pelos hospitais aos doentes, o que garante estabilidade de stock. As farmácias vendem apenas em casos pontuais, e o produto não é comparticipado quando comprado diretamente, custando cerca de 70 euros. “É muito raro vendermos o sensor. Temos stock para uma urgência, mas é muito raro visto o custo de 70 euros que não é comparticipado pelo Estado porque o hospital fornece”, refere Ana de Sousa, uma farmacêutica portuguesa a trabalhar em Bruxelas.

No Reino Unido, o Serviço Nacional de Saúde comparticipa o sensor. “São estes que temos: 69,99 libras (79,79 €) e há uma nova versão - o FreeStyle Libre 2 Plus - porque esta vai ser descontinuada , custa cerca de 84 libras (95,76€). Encontramos um sensor alternativo que é um pouco mais barato, chama-se Dexcom que também vem dos Estados Unidos. Custa entre 44 e 49 libras (entre 50 e 55€), cerca de metade do preço, o que provavelmente é mais razoável também”, aponta um farmacêutico britânico.

Em janeiro deste ano, o Infarmed anunciou auditorias para avaliar a falta de medicamentos e sensores para diabetes. Dez meses depois, as ações ainda estão em curso. A autoridade garante que existe um acompanhamento constante para ajustar medidas e facilitar o acesso a novas alternativas comparticipadas.

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