Dia dos Namorados: como manter acesa a chama do amor

CNN , Sara Algoe
14 fev 2023, 09:28
Casal (Getty Images)

Nota editorial | Sara Algoe é professora de psicologia e neurociência na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill. É fundadora e diretora do The Love Consortium

Lembra-se da última vez que se apaixonou? Se é como a maioria de nós, provavelmente queria passar todos os momentos com a pessoa com quem se apaixonou – sentar-se ao lado dela, rir-se com ela durante um jantar ou arranjar momentos para fazer sexo com ela em dias extremamente ocupados. 

Nós apreciamos a companhia da pessoa que amamos. Esta preferência por passar tempo com alguém que amamos não é exclusiva dos seres humanos – também pode ser observada nos primatas e nos arganazes-do-campo. E a ciência mostra que o tempo que passamos com alguém que amamos pode ser bom para nós. 

Mas ao fim de alguns anos, muitos de nós se sentem estáveis na relação, e outras prioridades começam a roubar-nos tempo. Se calhar voltamos a ficar até tarde no escritório a trabalhar; se calhar apareceram filhos; ou, então, já preferimos ficar acordados na sala a terminar uma série de televisão do que ir para o quarto com a pessoa com quem vivemos. Mas e se conseguíssemos reacender os motivos que nos levaram a aproximarmo-nos daquela pessoa e recuperar aqueles minutos roubados ao resto da vida de que tanto gostávamos? 

A investigação científica na área do comportamento humano, reunida ao longo de décadas, sugere que talvez seja mais difícil do que se imagina. As pessoas acomodam-se a certos hábitos e, por melhores intenções que tenham, têm dificuldade em mudar. 

Recentemente, eu e os meus colaboradores experimentámos uma nova abordagem para ajudar as pessoas a conquistarem mais tempo com a pessoa amada: trabalhar com a natureza humana em vez de contra a natureza humana. 
Vejam como.

Pensámos que se incentivássemos as pessoas a efectivamente agradecer aos seus parceiros nos momentos em que se sentiam agradecidos, isso aproximaria os casais, que voltariam a passar mais tempo juntos. Porquê gratidão? É uma emoção que nos pode fazer lembrar as coisas que nós tanto gostávamos naquela pessoa quando a conhecemos. 

Para isso, desenvolvemos uma técnica rápida para ajudar as pessoas a demonstrar essa gratidão. Era pedido aos participantes do estudo que elaborassem um plano para agradecerem ao seu parceiro ou parceira quando achassem que fosse o momento (A literatura científica noutras áreas comportamentais, tais como a actividade física e a reciclagem, mostra que elaborar um plano diminui a importância da força de vontade, tornando mais fácil concretizarmos aquilo que já estamos motivados para fazer.)

É importante frisar que não se tratava de uma sessão que levasse muito tempo. O exercício demorava menos de cinco minutos e era feito de forma auto-orientada apenas uma vez, por um dos membros do casal. 

Elaborar o plano, em si, tinha logo um impacto positivo - os participantes percebiam que havia muitas coisas que o outro fazia pelas quais se sentiam gratos. Relataram sentir-se gratos por coisas como uma massagem nas costas, o facto do outro os fazer rir, um elogio, serem ouvidos quando estavam preocupados, serem cuidados quando estavam doentes, passarem tempo com a família, por terem uma refeição preparada para eles ou, até, companhia para assistir a uma competição desportiva.  

Descobrimos que esta técnica funcionava ao longo da nossa experiência de cinco semanas. Os casais participantes aumentaram o tempo que passavam com a pessoa amada, em média, 68 minutos por dia, por comparação com o grupo de controlo (cujos casais não foram encorajados a alterar nada durante essas cinco semanas) Exprimir gratidão aproximou, em termos práticos, os casais. 

Sabemos o que os casais fizeram com esses minutos extra de tempo juntos durante 35 dias. Os casais contaram-nos que passaram bastante mais tempo a fazerem coisas os dois, que dormiram mais na mesma cama ou que, simplesmente, passaram mais tempo numa mesma divisão cada um na sua actividade, por comparação aos participantes do grupo de controlo. 

Em alguns dias, passavam juntos muito mais do que uma hora, outros dias menos. Suspeito que aproveitassem o tempo que podiam, tomando o pequeno-almoço os dois um dia, outro dia chegando a casa mais cedo em vez de ficarem no escritório a trabalhar até tarde. Às vezes, passavam o dia inteiro juntos. 
Agradecer pelas coisas que se aprecia no outro aproximou-os. E não foram necessárias horas e semanas de treino nem foi preciso aprenderem uma série de novas competências. A gratidão punha em marcha um movimento positivo. 

O que é que eu quero dizer com movimento positivo? Bem, o mero facto do nosso parceiro ou parceira fazer algo que nos beneficia nem sempre significa que sentimos gratidão (Desculpa, amor!) A investigação mostra que reservamos essa resposta emocional para quando temos a percepção de que o outro fez um grande gesto. 

Mas quando sentimos gratidão, essa pequena explosão emocional dirige a nossa atenção para o que nós amamos no parceiro e motiva-nos a demonstrar que gostamos dele, precisamente, muitas vezes,  agradecendo. Por sua vez, ouvir um obrigado faz com que o outro se sinta bem em relação a si próprio e em relação ao casal. Era por causa desses sentimos que, num dos estudos sobre relações românticas, eu podia prever a probabilidade de acontecer, mais tarde, no meu laboratório, um beijo espontâneo! 

Para que tudo acontecesse naturalmente, era preciso que as pessoas reparassem nos momentos em que sentem gratidão na vida do dia-a-dia e, então, expressarem realmente essa gratidão. Para isso, recorremos ao planeamento "se-então". Esta é uma técnica que ajuda as pessoas a identificar oportunidades de fazerem alguma coisa que já sabem fazer - como agradecer - e estabelecerem um plano para o fazerem quando a oportunidade aparecer. O exercício é feito para que seja fácil lembrar: "Se o meu parceiro fizer alguma coisa que me agrada, então eu vou agradecer."

Na vida quotidiana, os casais fazem coisas um pelo outro constantemente e há muitas oportunidades para agradecer. 

É preciso frisar que ainda estamos a perceber como é que esta abordagem pode funcionar para toda a gente. Neste estudo, resultou melhor para dois terços dos casais, que já tinham mais tendência para agradecerem um ao outro nas suas vidas quotidianas. Temos que continuar a trabalhar para ajudar o outro terço. (As tarefas não prejudicaram a relação deles, mas não temos evidência de que tenham tido efeito positivo). 

Também estamos a tentar capitalizar o conceito de autenticidade. A primeira vez que a minha equipa tentou transformar relações a partir da ideia de agradecimento, as pessoas tinham que se sentar frente a frente, várias vezes ao longo de um mês, e agradecerem ao outro. Não funcionou, e acho que foi porque estávamos a forçar algo que deve surgir naturalmente. 
 

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