DESTINO: 80s. Mário ganhou o Torneio de Toulon com o Brasil, jogou no Fluminense, no Vasco e no São Paulo, trabalhou com Rivelino, Parreira e Zagallo, mas nada supera um golo marcado pelo Sporting nas Antas. «Tenho um amigo que deixou o carro no meio da Avenida da Liberdade para celebrar essa vitória.»
DESTINOS é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINOS.
MÁRIO: Sporting (1986 a 1988) e Estrela da Amadora (1988/89)
A meio da década de 80, Mário Marques chega a Alvalade. Já quase trintão. Traz no currículo a conquista do Torneio de Toulon com a seleção do Brasil, uma passagem importante pelo Fluminense e a ligação a figuras tão carismáticas como Rivelino, Carlos Alberto Parreira, Mário Zagallo ou Roberto Dinamite.
Médio habilidoso, esquerdino puro, Mário faz dois anos de bom nível no Sporting – de 1986 a 1988 -, participa na conquista de uma Supertaça ao Benfica (com uma vitória por 3-0 na Luz), vê de perto os históricos 7-1 no dérbi. Tudo verdade, mas a história de Mário é normalmente resumida ao golão marcado ao FC Porto no Estádio das Antas, em maio de 1987 e já no prolongamento de uma eliminatória da Taça de Portugal. Pouco tempo antes de os dragões atingirem a felicidade máxima em Viena.
O DESTINOS reencontra Mário e confirma a injustiça que normalmente lhe é feita. Mário é muito mais do que esse golo. Histórico, sim, mas apenas parte (importante) da sua riquíssima história. Aos 63 anos, o antigo médio está radicado em Portugal e vive em São João da Madeira. Fala com o Maisfutebol no dia em que fica a saber que está recuperado da covid-19.
MÁRIO EM PORTUGAL:
1986/87: 29 jogos/4 golos (4º lugar)
1987/88: 33 jogos/2 golos (4º lugar)
1988/89: 10 jogos/sem golos (8º lugar)
TOTAL: 72 jogos/6 golos
TROFÉUS: uma Supertaça
Maisfutebol – Boa tarde, Mário. Já vimos que também está em casa, confinado.
Mário Marques – Tem mesmo de ser. Tivemos um teste positivo há duas semanas, todos ficaram infetados aqui na família. Felizmente, recebi há pouco um novo resultado e já deu negativo. Estou bem, perdi sobretudo o olfato e o paladar. Eu sempre fui viciado em café, já quando jogava futebol era assim. Entrava no relvado de café na mão e adoro o cheirinho do café. Numa certa manhã percebi que não conseguia sentir o odor do café e percebi que estava algo errado. Ligámos para a Linha de Saúde 24, fizemos o teste e estávamos infetados. Estamos a torcer para que a vacina chegue a toda a população. Até lá temos de fazer o que podemos e devemos.
MF – O Mário está radicado em Portugal?
M – Vivo há um ano e meio em São João da Madeira. Apesar de tudo, estamos bem. A minha filha teve um bebé há dois dias, estamos muito felizes. Aliás, eu acho que poucos sabem mas eu já sou bisavô (risos). Uma filha do meu primeiro casamento tem uma menina e essa neta deu-me essa felicidade. Vou deixar muita família enorme. Eu tinha mesmo de voltar a Portugal.
MF – Porquê, tinha alguma ligação familiar ao nosso país?
M – O meu avô paterno e o meu pai eram de Aboim da Nóbrega, uma aldeia pequenina no concelho de Vila Verde. Os meus pais emigraram para o Brasil nos anos 50 e construíram lá uma vida nova. Os meus dois irmãos foram com eles, porque já tinham nascido em Portugal. Eu fui o único a nascer no Brasil, o resto da família era toda portuguesa. A família da minha esposa também é de cá, da zona de Oliveira de Azeméis. No Brasil fui muitos anos treinador – ABC, Portuguesa, Duque de Caxias, Olaria, Macaé, sub23 do Fluminense, Bangu -, mas já tinha decidido parar há alguns anos e passar a ser coordenador. Decidimos vir para Portugal em 2019, todos. Mesmo antes da pandemia, a insegurança no Brasil já nos assustava. Temos mais qualidade de vida cá.
MF – Deixou completamente o futebol?
M – Não, impossível (risos). Estou a colaborar com um clube da AF Aveiro, o São Vicente Pereira. Curiosamente, um rapaz mexicano que foi meu atleta no Bangu soube que eu estava em Portugal e convidou-me a colaborar com ele. Tem um projeto em Espanha só com atletas africanos e eu ajudei-o a desenvolver os futebolistas. Depois no ano passado estive no Rio Maior, como técnico, e esta época apareceu este convite do presidente do São Vicente. Infelizmente, o senhor faleceu recentemente, com leucemia. Disse que não queria ser treinador, mas que ajudaria em tudo o que posso dentro do campo. Há clubes nos distritais portugueses com uma estrutura superior à de clubes grandes brasileiros.
MF – O seu filho Juninho está consigo no São Vicente?
M – Está, ele até chegou primeiro. Depois de jogar no Loures e marcar um golo ao Sporting na Taça de Portugal, o Juninho esteve na Sanjoanense e depois recebeu convites da Grécia e de Chipre. Mas a pandemia não permitiu nada. Felizmente o dinheiro não é problema e preferimos ficar em família, todos perto uns dos outros. O Juninho está com 30 anos.
MF – Portanto, o seu filho marcou um golo ao Sporting na taça. O Mário estava de coração dividido?
M – Não, não (risos). O Sporting convidou-me para assistir a esse jogo, mas eu avisei logo que ia torcer pela equipa do Juninho. Acabou por dar tudo certo. O Sporting venceu e o Juninho fez um golo.
VÍDEO: os melhores momentos de Mário no Sporting
MF – Como era crescer no Rio de Janeiro nos anos 60?
M – Os meus pais viviam num bairro chamado Engenho da Rainha. À volta do bairro havia sete campos de futebol, eu estava cercado por todos os lados (risos). A família do Amoroso era nossa vizinha e criámos uma grande amizade. O Zé Amoroso é tio do Márcio Amoroso, que atuou na seleção do Brasil e em vários clubes italianos. Somos muito amigos. No Rio havia grandes futebolistas por todo o lado. Comecei a jogar num clubezinho chamado Evereste, futebol de salão. Fomos vice-campeões na categoria ‘dentes de leite’ e o diretor convidou-me para jogar no Fluminense. Fiquei ligado uma década ao Flu, aprendi lá tudo. Só havia o campo das Laranjeiras e todos os escalões jogavam lá. Condições péssimas, nada a ver com o que existe hoje em dia. Estive dos 15 aos 25 anos no Flu. Depois passei por São Paulo, Inter de Limeira, Grémio, Vasco e fui vice-campeão brasileiro no pequenino Bangu.
MF – Rivelino, Parreira, Zagallo, Dinamite, toda essa gente passou pelo Mário.
M – Nossa, que lista (risos). Sabe como foi a minha estreia nos profissionais do Fluminense? Ainda estava nos juniores, à espera de viajar para um torneio em Nice, na França, e ligaram-me a dizer que o Rivelino não podia jogar o Fla-Flu no Maracanã. Veja lá, isto para um garoto de 20 anos é marcante. Mais tarde fui treinado pelo Parreira, pelo senhor Zagallo, apanhei eles todos. Com o Zagallo tínhamos nove atletas da formação na equipa. Depois ele até saiu para o Vasco da Gama.
MF – Foi alguma vez chamado às seleções do Brasil?
M – Venci o famoso Torneio de Toulon em 1980. Ganhámos à França na final. Nessa altura o selecionador era o Telé Santana e ele acompanhava-nos para todo o lado. Estava a construir a grande seleção do Mundial de 1982, um tipo especial. Na verdade tive sempre a sorte de trabalhar com grandes treinadores.
MF – O Mário só chega ao Sporting com 29 anos. Porquê tão tarde?
M – Fiquei surpreendido e feliz por essa transferência. Ninguém contratava um atleta já quase trintão. O empresário Palmeira Branco, que tinha origens em Chaves e que era o representante do Sporting no Rio de Janeiro, gostou de mim. Ele assistiu ao lado do presidente João Rocha a um jogo do Bangu para a Libertadores, contra o Deportivo Quito, no Maracanã. Eu joguei bem e durante a partida o senhor João Rocha recebeu um telefonema a dizer que o Sousa e o Jaime Pacheco tinham saído para o FC Porto. O senhor Palmeira sugeriu logo na hora o meu nome para o meio-campo do Sporting. Assim foi.
MF – O que encontrou ao chegar a Alvalade?
M – O Manuel José era muito temido por todos em Portugal (risos), mas era muito bom treinador. Vim para Portugal sem o aval dele. O Sporting estava a regressar de um torneio de Paris e ia para um torneio em Bruges. Eu estava no hotel com o Silvinho e o Negrete, outros dois reforços. Fui para a Bélgica com a equipa, não joguei o primeiro jogo e no segundo entrei para o lugar de Silvinho, como extremo esquerdo. Eu já não era extremo, jogava no meio-campo, mas o mister colocou-me lá. Correu bem, fiz dois passes para golos do Manuel Fernandes e ganhámos 2-1 ao Espanhol. Fui ganhando assim o meu espaço e jogando cada vez mais. Confesso que com 29 anos já não pensava jogar na Europa. Foi uma boa oportunidade para conviver com os meus avós.
MF – Como assim?
M – Eles viviam em Portugal e só conheci o meu avô em 1984, dois anos antes de assinar pelo Sporting. Vim numa digressão com o Vasco e fizemos três jogos: Benfica, Belenenses e Boavista. Então o meu tio levou o meu avô ao Estádio do Bessa, para me conhecer. Ele nem sabia o que era futebol, nunca tinha visto um jogo. ‘O que fazem todos esses rapazes atrás da bola tanto tempo?’ O meu tio só se ria. Adoro o Sporting e acho que esta época o título não escapa.
MF – Está a gostar do trabalho do Rúben Amorim?
M – Muito, tem a estrelinha dos grandes treinadores. Virámos à frente no Natal, este ano o fantasma não apareceu. O Rúben tem sabido mesclar os meninos da formação com atletas mais experientes.
MF – Na segunda-feira teremos um Sporting-Benfica. Esteve em algum dérbi?
M – Joguei a final da Taça de Portugal em 1987, que perdemos 2-1, golos do Diamantino. Ele estava com tudo nesse dia (risos). Isso foi depois de eliminarmos o FC Porto nas Antas com aquele golo meu. O Benfica tinha uma equipa mais composta, mas nós tínhamos atletas que podiam desequilibrar. Ah, ganhámos a Supertaça contra o Benfica – 3-0 na Luz e 1-0 em Alvalade – e, curiosamente, não joguei nos famosos 7-1. Mas estava lá em Alvalade.
MF – Essa é a temporada em que o Mário fez o golão nas Antas.
M – Ui, a pancadaria que eu vi nesse dia. Atrás da baliza onde eu fiz o golo estava a Força Verde, uma claque do Sporting. Tinha lá muitos amigos e muitos deles ainda me dizem: ‘porra, Mário, apanhei por sua causa’ ou ‘foi a primeira vez que apanhei e gostei’. O Estádio das Antas estava em obras e o pessoal do Porto começou a mandar pedras para a torcida do Sporting. O senhor Reinaldo Teles, que faleceu recentemente, é que me ajudou a chegar ao balneário. Eu marquei e fui substituído pelo Litos logo a seguir.
VÍDEO: o famoso golo de Mário nas Antas (aos 5m12s, imagens RTP)
MF – Mas esses problemas já vinham das semanas anteriores.
M – Isso mesmo, porque o Sporting tinha ganhado ao FC Porto por 2-0 em Alvalade. Os adeptos do Sporting exibiram lenços brancos ao Porto no final do clássico. O Benfica aproveitou esse resultado e foi campeão. O que é engraçado é que eu tenho amigos portistas e sei que eles no jogo das Antas queriam mostrar um enorme lençol branco ao Sporting. Não eram lenços, era um lençol gigante mesmo. Mas o meu golo estragou-lhes os planos (risos). Eu soube desta história num encontro de guarda-redes que o Helton fez em Canidelo. Esses adeptos do FC Porto estavam lá e vieram contar-me essa história. ‘A nossa vontade era bater-te!’, tudo na boa. Contaram-me a história toda a rir e a dizer que tiveram de enrolar o lençol gigante e levá-lo para casa. Mas pior ainda foi para mim!
MF – O Mário ficou ferido?
M – Os adeptos do FC Porto partiram os vidros do nosso autocarro à saída. Não me aleijei, mas foi muito difícil sair de lá. Não sei se se recordam, mas havia uma rampinha no parque antigo das Antas e tínhamos de subir isso para sair. Eu vim fora do autocarro e tentei abrir o portão e foi uma confusão.
MF – Lembra-se de todos os pormenores desse golo que ficou marcado na sua carreira?
M - Tudo começou numa falta mal cobrada pelo… acho que o Jaime Magalhães. A bola chegou ao Duílio e ele abriu na direita, para o Marlon Brandão. O Marlon foi para cima do lateral e, a dada altura, travou. Olhou para o meio e viu-me. Parei a bola de pé esquerdo, dei um, dois, três toques e rematei de fora da área. O Mly era um gigante, mas aí ficou a olhar. Há jogadores que ficam marcados por ganharem um campeonato, eu fiquei marcado por esse golo.
MF – O Mário viveu então dois jogos históricos: o dos 7-1 e o do golão nas Antas.
M – Para mim, o jogo nas Antas foi mais marcante. Por ter estado lá dentro. Em casa do FC Porto, o FC Porto a ser campeão europeu poucos dias depois, uma equipa fortíssima. Nos 7-1 saiu tudo, tudo bem. Nunca mais vai acontecer, nem para um lado, nem para o outro. O Manel [Manuel Fernandes] pensava e a bola entrava, ele metia a cabeça e a bola entrava. Saía tudo bem. Tive a sorte de ganhar jogos ao FC Porto e ao Benfica, apesar de nunca ter sido campeão. Dei felicidade aos sportinguistas sem ter ganho um grande título. Eu adorava ir ao bingo com o Marlon Brandão e via isso nos adeptos, eles eram sempre incríveis connosco.
MF – As pessoas falam sempre do seu golo nas Antas, mas haverá outros grandes momentos no Sporting para recordar.
M – Claro. Lembro-me de fazer uma grande exibição e um golo em Braga, onde já era muito difícil vencer. Em Barcelona perdemos 1-0 e acho que joguei muito bem, contra o Marítimo noutra derrota também. Lembro-me de jogos duríssimos no Restelo, em Faro, era sempre complicado ganhar lá. Há o golo do famoso golo do Duílio, que tinha o filho no hospital. Participei na jogada. Eu falava muito com o Oceano e dizia-lhe ‘Oceano, eu quero ver-te a fazer um golo’ (risos). Eu nunca me escondi nos jogos, adorava viver com emoções fortes, vibrava bastante. Joguei em grandes equipas no Brasil e não era no Sporting que ia ter medo. Ainda hoje, quando posso, almoço com o Oceano no restaurante que frequentávamos na Quinta do Lambert. Os donos ainda são os mesmos, a dona Olívia, a dona Eva, o senhor Nelson. São os momentos que levamos do futebol. O Mário Jorge também era um grande amigo, o meu xará.
MF – O Mário fez 62 jogos em duas épocas no Sporting, mas saiu. Por opção sua ou foi dispensado?
M – No dia em que cheguei a Lisboa, o presidente João Rocha chamou-me ao gabinete e perguntou: ‘Mário, achas que tens condições de jogar nesta equipa?’ Foi no dia de um jogo com o Arsenal, o clube de onde vinha o Ralph Meade. Eu disse que sim, que tinha condições. Mas não percebi o alcance da questão. Até que o presidente me disse que ia abandonar o clube. O homem que me tinha contratado. Fiquei preocupado, mas ele disse-me que me continuaria a ajudar. Entrou o presidente Amado de Freitas e depois o Jorge Gonçalves. E o senhor Jorge quis mudar tudo, com uma ideia nova. Ainda fiz a pré-época em Tróia, o Frank Rijkaard esteve lá a treinar connosco e o treinador era o Pedro Rocha. Quando voltámos a Lisboa, o supervisor chamou-me. Eu já o conhecia da seleção do Brasil em Toulon e do Fluminense. Disse-me que o clube ia ter novos atletas brasileiros e que só ficaria o João Luís e o Paulinho Cascavel.
MF – Foi nessa altura que se mudou para o Estrela da Amadora.
M – Fui eu, o Duílio e o Marlon Brandão para lá. O Boavista e o Vitória de Guimarães também me queriam, mas eu preferi ficar na zona de Lisboa e senti que estava na hora de fazer um bom contrato. Eu tinha mais um ano de ligação com o Sporting, fiquei triste, mas saí. O futebol é assim, no ano anterior até tinham dispensado o Manuel Fernandes. Uma das grandes figuras do clube. Quem sou eu ao lado do Manel no Sporting? Ele era o tipo com mais moral do clube. É assim. Achei que estava na hora de ganhar um bom dinheirinho, porque não tinha feito um bom contrato com o Sporting.
MF – O contrato no Estrela da Amadora era superior ao do Sporting?
M – Era, bem superior. Fui ganhar mais dinheiro do que ganhava em Alvalade. O presidente do Estrela era o José Gomes, o Armando Biscoito tinha saído do Sporting e era um dos dirigentes. Infelizmente tive uma pubalgia e não joguei tanto como eu queria [dez jogos oficiais]. Tinha mais um ano de contrato, mas senti que não estava a ajudar e fui falar com o treinador João Alves. Voltei ao Brasil, para o América. Nem sempre os que jogam mais vezes são os elementos mais importantes, mas achei melhor sair do Estrela. O Virgílio, no Sporting, era fundamental e não jogava sempre. Lateral direito, central, lateral esquerdo, espetacular. O Gabriel era a mesma coisa. Não só os titulares são importantes, os líderes podem ser outros.
MF – Quem eram as personagens mais engraçadas?
M – O Fernando Mendes. Chamávamos o Fernando de ‘Passarinho’. Estava sempre a voar, não prestava atenção a nada. Hoje vejo-o a comentar futebol e pergunto-lhe: ‘tens a certeza que queres dizer isso?’. Mas sabe qual é a história mais engraçada? Fiz muita gente sorrir, mas há uma que incrível. Um grande amigo estava de carro na baixa lisboeta quando eu fiz o golo ao FC Porto. Ficou tão maluco que saiu do carro, deixou-o lá e não quis saber de mais nada. O carro ficou sem ninguém na Avenida da Liberdade.
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