«Mourinho chamou-me e perguntou: ‘Queres mesmo sair do FC Porto?’»

25 fev 2021, 09:53

DESTINO: 90s apanha Clayton numa das suas cinco fazendas em Minas Gerais. Fez mais de 100 jogos pelos dragões e em 2003 mudou-se para o Sporting. «Cheguei lá e era o roupeiro que recolhia os passaportes antes das viagens. ‘Pensas que isto é o Porto?’»

DESTINOS é uma rubrica do Maisfutebol: recupera personagens e memórias dessa década marcante do futebol. Viagens carregadas de nostalgia e saudosismo, sempre com bom humor e imagens inesquecíveis. DESTINOS.

CLAYTON: Santa Clara (1999); FC Porto (1999 a 2003); Sporting (2003/2004); Penafiel (2004/2005 e 2006/2007); Vitória de Guimarães (2005)

Em semana de clássico FC Porto-Sporting, o DESTINOS põe a conversa em dia com um dos avançados que mais golos bonitos fez em Portugal: Clayton. Tem 45 anos, vive em Vitória da Conquista, no Brasil, e tem um negócio na área das madeiras.

Lembram-se do maravilhoso slalom em Berlim culminado com um golo ao Hertha? Lembram-se de um calcanhar (menos famoso do que o de Madjer) ao Denizlispor na caminhada para a final de Sevilha? E um pontapé em arco ao Sp. Braga? Tudo obra e graça do esquerdino que em 2003 decidiu trocar os dragões e mudar-se para Alvalade.

«Foi uma decisão errada, fiz uma temporada pífia no Sporting, devido a problemas pessoais», refere Clayton, numa das suas fazendas no estado de Minas Gerais. Comunicador fantástico, atento à liga portuguesa, o antigo avançado lança também o próximo duelo entre os seus antigos clubes e aproveita para recordar personagens inesquecíveis.

Cada palavra é, para Clayton, mais um defesa do Hertha. É só entregar-lhe a bola e ele vai por ali fora. Uma conversa feita sempre ao ataque.

Maisfutebol – Boa tarde, Clayton. Em que zona do Brasil está a viver?
Clayton – Até é interessante explicar isso. Boa tarde, tenho muitas saudades de Portugal. Bem, eu tenho residência na Bahia, mas já muito próximo do estado de Minas Gerais. Hoje estou a falar convosco numa fazenda que tenho em Minas Gerais. A cidade mais próxima está a 60 quilómetros daqui.

MF – Está no paraíso. Longe da confusão.
C – É mais ou menos isso (risos). Estou longe do futebol, mas foi o futebol que me permitiu investir nos negócios que tenho hoje. Montei uma fábrica que trata madeira, eucalipto na maioria, e vendemos a madeira tratada para aplicação rural e construção civil. Tenho cinco fazendas que fazem a extração da madeira e tenho de gerir todo esse trabalho. Na segunda e na terça estou nas fazendas, na quarta-feira vou para a fábrica e na quinta regresso à minha casa em Vitória da Conquista, a 250 quilómetros. É lá que tenho a minha esposa e a minha filha. E tenho o meu filho, o Clayton Jr., que está a jogar no Amarante, em Portugal. No dia 2 de março viajo para aí e fico 40 dias com ele. Sempre me preocupei com o futuro.

MF – Portanto, está afastado do futebol desde os 35 anos.
C – É isso, mais ou menos há dez anos. Foi nessa fase que iniciei a vida que qualifico como normal. Sempre tive os pés assentes no chão. Tenho as dores de cabeça normais de quem tem um negócio, mas não me posso queixar. Aqui no Brasil diz-se que ‘dinheiro não aguenta desaforo’ e é a coisa mais certa. Temos de cuidar bem dele. Pretendo dar uma vida boa aos meus filhos.

MF – A sua ligação ao desporto é feita através do seu filho?
C – Sem dúvida. Ele já está a fazer a segunda época em Portugal e sinto que se está a soltar. Começou no Lousada [12 jogos/3 golos] e mudou-se para o Amarante, do Campeonato de Portugal [18 jogos/4 golos]. É um clube pequeno, mas responsável e histórico. É gerido por pessoas decentes. O Clayton sabe até onde pode ir, é paciente e creio que já tem estofo para uma II Liga. Estou feliz por ele. Vive sozinho, é educado, é um menino bom, gosta de trabalhar e está a caminhar sozinho para conseguir um lugar ao sol.

MF – Viajemos até 1999 e ao momento em que chega ao FC Porto. Ainda se lembra de todo o processo?
C – Posso esquecer qualquer coisa na vida, mas disso não. Para mim era inimaginável. Hoje eu sinto a dimensão do privilégio que tive ao jogar naquele clube, ao lado de tantos craques. Estive na hora certa no clube certo. Cheguei ao Santa Clara em julho de 1999 e assinei por seis anos. Em novembro já tinha convites dos três grandes de Portugal, do Deportivo, empresários e mais empresários. Acabei por assinar com o Jorge Mendes. Adorei jogar no Santa Clara e tenho enorme respeito pela instituição. Sou grato até hoje. Mas tive de sair e ainda bem porque ganhei uma Taça UEFA, um campeonato, fiz golos aos maiores clubes da Europa, joguei a Liga dos Campeões, vivi momentos espetaculares. Assinei pelo FC Porto a 27 de novembro de 1999, a oferta era ótima e foi a melhor decisão que podia ter tomado para a minha carreira. É o clube mais importante da minha vida, apesar de todo o respeito que tenho pelos outros, incluindo o Sporting.

MF – Quais foram os melhores momentos do Clayton no FC Porto?
C – O meu primeiro golo na Champions foi logo aquele que fiz ao Hertha Berlim [21 de março de 2000], aquela grande iniciativa individual. Comecei no banco e fui lançado na partida. Aliás, o mister Fernando Santos teve a inteligência de me colocar aos poucos na equipa. Nesse jogo entrei e fiz esse golo na primeira vez que toquei na bola. Tenho também de destacar o meu golo na finalíssima da Taça de Portugal contra o Sporting [25 de maio de 2000], ao grande Peter Schmeichel, e o calcanhar ao Denizlispor, na Turquia [27 de fevereiro de 2003]. Poucos se lembram, mas também fiz um golo de livre direto à Juventus e ao Gigi Buffon, num remate meio esquisito [23 de outubro de 2001] e fiz um golo muito bonito ao Sp. Braga no campeonato [29 de abril de 2001].

VÍDEO: o golo ‘maradoniano’ de Clayton (aos 2m30s, imagens RTP)

MF – Em quatro épocas só foi uma vez campeão nacional no FC Porto.
C – Sim, mas conquistámos títulos todos os anos. Ou a taça, ou a supertaça, lutávamos por tudo até ao fim. Sempre com aquela intensidade típica do clube e isso não é fácil. O meu filho ainda hoje arregala os olhos com as histórias que lhe conto (risos). Joguei com atletas incríveis, sinto-me realizado. Não sou milionário, mas posso ir para onde quero. O futebol ensinou-me a gerir pessoas, a comandar um negócio, a saber o que fazer ao dinheiro. Foi uma escola fantástica.

MF – Que atmosfera encontrou ao chegar ao balneário do FC Porto?
C – Eu joguei no Atlético Mineiro dos 13 aos 21 anos, tornei-me profissional aos 17. Fui colega do Taffarel e do Renato Gaúcho, por exemplo. Fui ganhando alguma experiência e quando cheguei ao Santa Clara já ia com uma estrutura emocional interessante. No balneário do FC Porto abri a porta e vi o Vítor Baía, o Jorge Costa, o Capucho, o Paulinho Santos… quando havia jogos das seleções, sabe quem ficava a treinar no clube? Eu, Deco, Alessandro, Rúbens Júnior e Jardel. Ficávamos a dar voltas ao campo (risos). O plantel era riquíssimo, era só jogador de seleções. Drulovic, depois Costinha e Maniche. Não me assustei muito com eles porque já não era um menino, mas até era para assustar.

MF – No FC Porto trabalhou com o Fernando Santos, o Octávio Machado e o José Mourinho. Consegue falar um bocadinho sobre cada um deles?
C – São três bons treinadores, de enorme grandeza. O Octávio Machado menos, por outros motivos. O Fernando Santos era um homem muito sensato, um entendedor de táticas, muito sério e muito justo. Digo sempre isto: ser treinador de táticas é fácil, o mais difícil é manter o tom de justiça. Num clube grande toda a gente ganha muito dinheiro e é difícil gerir esses egos. Aplico essa palavra ao Fernando e ao Mourinho: justiça, eles têm a noção do que é ser justo para um grupo de trabalho. Procuram conviver com os atletas sempre com a verdade. E são frontais. Um e outro.

Clayton enche José Mourinho de elogios

MF – O Fernando falhou o título em 2001 e entrou o Octávio.
C – O Octávio Machado criou impacto logo à chegada, porque teve o apoio da estrutura. Mas as alterações que quis fazer tiveram um efeito negativo, tenho de dizer isso abertamente e dou o exemplo do caso que provocou a saída do Jorge Costa. O Bicho era a referência de todos lá dentro, porque era um tipo justo, honesto e frontal. Tinha a nossa admiração e a saída dele foi impactante. O Octávio era explosivo, bom treinador, mas era de difícil trato. Era o jeito dele. Não era desonesto, nada disso, mas era truculento, não era comunicativo com o grupo. Não tive problemas com ele, até fiz muitos jogos, mas saiu na hora certa e chegou o Zé Mourinho.

MF – O clube inicia aí uma fase fantástica.
C – Ele já estava a fazer os seus milagres no Leiria, veio para o FC Porto e agitou logo o balneário: ‘no próximo ano vamos ser campeões, vamos para a Taça UEFA e na Taça UEFA veremos o que conseguimos fazer’. Assim foi, as promessas foram cumpridas. Era um treinador jovem, mas já com uma história interessantíssima. Não é por acaso que se faz um José Mourinho, vejam com quem ele trabalhou antes. Sério no trabalho, brincalhão cá fora, muito amigo dos jogadores. Ele analisava até os detalhes do contrato de cada jogador, para tentar delinear alguns objetivos. Criava também condições para as famílias se darem bem, tal como o Fernando Santos. Esses dois serão grandes até ao dia que quiserem.

MF – É com o José Mourinho que vive uma das tardes mais importantes da sua carreira, em Sevilha.
C – Eu era titular nessa equipa do Mourinho. Contra o Áustria Viena, na segunda ronda da Taça UEFA, fui eu que fiz as assistências para o primeiro golo lá e o primeiro golo cá. Infelizmente, lesionei-me nesse segundo jogo, fiquei uns tempos parado e depois não foi fácil entrar na carruagem. Não foi fácil nem chegar ao banco (risos). Ainda hoje me arrepio a falar dessa tarde, o calor, a agitação, a dimensão tão grande. Ganhar a Taça UEFA foi gigante, uma experiência única. Assistir tudo no banco ainda foi pior. Custou muito, mas o grupo era ótimo.

VÍDEO: o golaço de Clayton ao Sp. Braga (aos 15s, imagens RTP)

MF – Recorda-se das palavras do Mourinho no balneário em Sevilha?
C – Ele disse uma coisa muito simples, uma frase que depois se tornou banal em Portugal: ‘As finais não se jogam, ganham-se’. A primeira vez que ouvi isso foi com o Zé Mourinho. Tornou-se um bordão depois, mas mais importante do que isso foram os dias anteriores. Se não estivéssemos bem preparados, não havia nenhuma palavra, nenhuma droga, nada nos poderia ajudar. O Zé pediu para fazermos um estágio no Algarve, alugámos um hotel e tivemos uma semana maravilhosa em grupo. Saíamos para jantar, sem bebedeiras, nada disso. Com responsabilidade. Passeávamos à tarde, íamos um pouco ao parque aquático. O Mourinho dava liberdade, um amigo do Paulinho e do Secretário tinha um restaurante, toda essa liberdade e responsabilidade deram ao grupo uma amizade e uma união incríveis. Depois foi tudo talento e garra, a final tinha de ser nossa.

MF – Quem era o seu melhor amigo no clube?
C – Dava-me bem com tanta gente. O clube tinha um ambiente muito familiar. Ainda hoje vou ao Dragão, ao museu, vou ao centro de treinos e tenho sempre as portas abertas. O clube diz-me muito. Fiquei muito triste, muito sentido mesmo, com a morte do senhor Reinaldo Teles. Ele não estava ali como um diretor, ele era amigo dos jogadores. Foi um grande homem, um grande senhor, e foi uma grande perda. Tenho grande respeito por ele. O senhor Reinaldo simbolizava tudo o que era o clube.

MF – Sábado teremos um clássico FC Porto-Sporting e o Clayton jogou vários clássicos. Que memória tem desses duelos?
C – Há uma coisa importante para referir. Todos os jogadores que chegavam ao Porto eram injetados com a mesma frase: ‘Nós somos os maiores, nós somos os melhores, mas temos de provar diariamente isso’. Jogar na Luz, jogar em Alvalade, era sempre para ganhar. Com respeito, até porque os adversários eram fortes. Eu também joguei no Sporting, um clube enorme, com uma claque doida pelo clube, tenho grande respeito pela instituição. Até poderia falar mal de uma ou outra pessoa, mas o clube é gigante. Mas as pessoas do Norte, não desmerecendo as de Lisboa, encaram tudo de forma diferente. A forma de encarar a vida, de estar na vida, é diferente. Eu vi isso. Uns são mais ‘pedreira’, outros são mais leves, mais suaves. O Porto entra sempre para ganhar, não se curvava a ninguém. Por isso está sempre metido na Champions, na pior das hipóteses na Taça UEFA.

MF – Explique-nos a sua saída em 2003 do FC Porto. Por que saiu nessa altura, quando era um atleta importante e o José Mourinho estava a fazer uma grande equipa?
C – Foi uma decisão errada, mas foi só minha. Tinha jogado pouco na Taça UEFA, depois da lesão, e senti que tinha de mudar. O Cristiano Ronaldo estava de saída, isso era certo, e fui para o Sporting. O Mourinho chamou-me e perguntou: ‘Tu queres mesmo sair? Tu fazes parte do meu plantel’. Ouvi isso da boca do José Mourinho. Hoje, posso dizer, jamais sairia do FC Porto e teria terminado a minha carreira lá. Pelo ímpeto, pela vontade de jogar mais, decidi assim. Não deveria ter saído e a opção foi minha. Saí do FC Porto e fiquei com a carrinha - que o clube dava para rodar - até ao fim do ano, entreguei quando eu quis. Vejam bem como era o clube. Foi uma decisão errada.

Clayton em ação na Liga dos Campeões 

MF – No Sporting tinha o Fernando Santos, que o conhecia bem. Esse foi um dos motivos que o levou a decidir-se pela mudança?
C – Seria isso, sim. Mas andava com problemas pessoais, fiz uma época pífia. Não joguei mais porque não provei que merecia jogar mais. Não foi o treinador, não foi o ambiente. O ambiente era ótimo. Eu é que não estive ao nível que era necessário para ser titular lá. A minha passagem pífia só teve um culpado, eu. Tanto assim é que no ano seguinte fui emprestado a um clube mais pequeno, o Penafiel, e tive uma produção bastante expressiva para o clube que era e para a idade em que eu estava.

MF – De forma resumida consegue identificar as maiores diferenças entre FC Porto e Sporting, enquanto clubes?
C – Só fiquei um ano no Sporting e vou dar um exemplo para que se perceba bem a mentalidade interna do clube em 2003. Nunca contei isso publicamente. Tivemos um jogo na Taça UEFA e a pessoa que veio recolher os nossos passaportes era um roupeiro. Por ingenuidade, perguntei assim: ‘Mas é você que também trata dessas coisas?’ A resposta dele foi esta: ‘Aqui não é o Porto’. Essa diferença interna distinguia bem as duas equipas, porque no FC Porto havia sempre alguém especializado para tratar das coisas. E, atenção, o meu Sporting tinha uma grande equipa: Sá Pinto, João Pinto, Pedro Barbosa, Liedson, Polga, Rochemback, Cristiano Ronaldo, Beto, Paulo Bento, Rui Bento, Ricardo, Custódio, o menino Cristiano que já era um monstro. Não era na equipa que estava o problema, era no clube. ‘Lá no Porto é que há muita gente para tratar dessas coisas’. Isso faz a diferença, começa por aí. Não quero que as pessoas do Sporting se chateiem comigo. As claques, os estádios, é tudo igual e maravilhoso. Mas esses pormenores eram diferentes. E na Europa o FC Porto tinha e tem um espaço que o Sporting não tinha. Ao longo da época fui percebendo que a ideia no Sporting era que no Porto era tudo mais organizado.

MF – No sábado o Sporting visita o Dragão numa posição muito confortável. O que antecipa para este FC Porto-Sporting?
C – É um jogo bom para o Sporting ter cabeça. Pode jogar mais tranquilo e com menos pressão. O FC Porto não pode perder mais pontos, se quiser ser campeão. Vai jogar em casa, sim, mas não pode ter o apoio daqueles adeptos que são sempre inflamados. A pandemia roubou essa grandeza ao futebol, um jogo grande parece um jogo-treino. O Sporting está totalmente moralizado. Tem jogado bem e quando não joga bem consegue ter a sorte do jogo. O Porto não tem estado bem nos últimos jogos, ganhou ao Marítimo e tem de ganhar agora. O Sporting não tem de ganhar e essa é a maior diferença.

MF – Conhece bem os treinadores?
C – Conheço e gosto muito de ver a forma como o Sérgio Conceição está nos jogos. Do treino não posso falar, não vejo. Prepara bem a equipa, tem o sangue na veia, o espirito do dragão e admiro-o muito. Adoro o Corona no FC Porto. O Sporting tem três/quatro peças decisivas e que estão confiantes. Vai ser um jogo interessantíssimo, daqueles clássicos que não podemos mesmo perder.

MF – Chegou a cruzar-se com o Sérgio Conceição no FC Porto?
C – Não, por muito pouco. Ele saiu em 1998 e eu cheguei em 1999. Depois saí em 2003 e ele voltou em 2004. Foi pena, sempre o admirei como jogador. Fantástico. Vontade, qualidade, a imagem do FC Porto, fazia a linha direita toda, um puro sangue. Tenho pena de não ter tido o privilégio de jogar com o Sérgio.

MF – Há pouco falou do Cristiano Ronaldo. Quanto tempo esteve com ele no Sporting?
C – Cerca de dois meses e meio. Os testes médicos, a pré-época, alguns treinos e jogos de preparação. Ele era muito novo, falava pouco com ele, era muito aplicado. Lembro-me de ele estar no balneário e de dizer que era diferente, depois subia ao relvado e dava-nos voltas de avanço quando era para correr. Corria, corria, ‘deixem-me, deixem-me’. Os deuses do futebol ajudaram-no, mas ele sempre adorou trabalhar e cada uma daquelas Bolas de Ouro foram muito merecidas. Poderiam até ter sido mais.

MF – Olha para trás e sente que tudo valeu a pena no futebol?
C – Olhe só, eu tive o prazer de defrontar o Real Madrid de Zidane, Figo, Roberto Carlos, Ronaldo Fenómeno, Makelele, Hierro, puxa a vida. A Juventus, o Bayern, o Barcelona de Rivaldo, Kluivert, Guardiola, Luis Enrique, enfim. Se eu contasse os detalhes de tudo isso, a nossa conversa não acabava mais. A minha carreira foi fantástica, nunca pensei chegar onde cheguei. E fiz muitos amigos. É um prazer estar com os meus antigos camaradas, vou muitas vezes a Portugal. Sabe quanto tempo durou o meu almoço com o Jorge Andrade na minha última visita ao vosso país?

MF – Muitas horas, de certeza.
C – Foi das 11 da manhã às duas da manhã. A meio do almoço apareceu o treinador Manuel Fernandes. Vimos também o filho dele, o Tiago Fernandes, que era só um menino quando eu estava no Sporting. É fantástico falar sobre estas coisas e recordar tudo o que eu vivi no futebol.

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