Aliciamento de jogadores e relação do Benfica com clubes pequenos também sob investigação 

14 fev 2022, 20:02

Polícia Judiciária analisou vários casos desde 2013, investigando a tentativa do clube de subverter a verdade desportiva e vencer a todo o custo

O caso das suspeitas de corrupção desportiva é conhecido no meio judicial como o porta-aviões das investigações ao Benfica – um megaprocesso que navega em mar aberto, num absoluto silêncio, há quase cinco anos. Nasceu com estrondo no verão quente de 2017, de um ataque informático que trouxe a lume centenas de emails retirados dos servidores do clube da Luz.

Conversas entre dirigentes, empresários de futebol e ex-árbitros com alegado controlo do setor. Poder de influência sobre o que um destes, Adão Mendes, chegou a apelidar de "padres para missas…". Linguagem cifrada, que, na interpretação da Polícia Judiciária, significava "árbitros favoráveis para jogos do Benfica".

A PJ passou à lupa as incidências de várias épocas desportivas do clube, desde 2013. E o porta-aviões foi incorporando outros processos, como o caso dos Vouchers, pela oferta de prendas e faustosas refeições a árbitros e familiares, e o 'Mala Ciao', por alegado aliciamento a jogadores adversários de modo a que facilitassem, em campo, nos jogos frente ao Benfica.

A investigação abriu à lógica de um polvo… com suspeitas de que os dirigentes do Benfica, em diversas frentes, espalhavam tentáculos com um só objetivo: subverter a verdade desportiva e vencer a todo o custo, quebrando a hegemonia do FC Porto.

Além do poder junto da arbitragem, passou a investigar-se a dependência económica de pequenos clubes, como o Desportivo das Aves, o Santa Clara ou o Setúbal, face ao Benfica. Luís Filipe Vieira é suspeito de ter ajudado esses clubes, com empréstimos e transferências de jogadores a custo zero, para que essas equipas facilitassem em campo nos jogos frente ao Benfica. No caso do Santa Clara, são investigadas as transferências de Patrick, César Martins, Fábio Cardoso e Martin Chrien em condições muito favoráveis ao clube açoriano. Foram parar a Ponta Delgada pela mão de José Luís Moça, próximo de Luís Filipe Vieira, benfiquista e diretor desportivo do Aves, o que desde logo foi considerado estranho.

Também a relação do Vitória de Setúbal com os encarnados está na mira da justiça. Em causa, por exemplo, a cedência do brasileiro Luís Filipe aos sadinos em 2016. Dois anos depois, no último minuto de um jogo entre os dois clubes, o jogador saiu do banco e rapidamente provocou um penálti com uma falta cometida sobre o argentino Sálvio. O Benfica aproveitou e com isso fez o 2-1 que lhe permitiu vencer o encontro.

Quanto ao Aves, só na época de 2017/18 recebeu nove jogadores do Benfica. Uns a custo zero, outros em condições bastante favoráveis face ao que as águias já tinham gasto na aquisição desses atletas.

No processo, há ainda suspeitas por alegadas tentativas de suborno de vários jogadores do Rio Ave e do Marítimo, na época 2015/2016, por intermédio do empresário César Boaventura. As abordagens foram confirmadas à PJ por alguns dos atletas, frisando que o nome do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, era invocado por Boaventura. 

Cássio, antigo guarda-redes do Rio Ave, e Romain Salin, ex-guardião do Marítimo, prestaram depoimentos na PJ e confirmaram que foram alvo de aliciamento. No caso do Rio Ave, foram ainda denunciadas tentativas de corromper os jogadores Lionn e Marcelo, para um jogo entre os vila-condenses e o Benfica. E outros atletas, de diferentes clubes, afirmaram no inquérito que César Boaventura os abordou para prejudicarem as suas equipas frente ao Benfica.

O inquérito, que visa sobretudo factos relacionados com corrupção desportiva, está praticamente concluído e a aguardar acusação, a cargo de uma procuradora do Ministério Público do Porto.

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