Boavista-FC Porto: da supertaça pelo “correio” à festa do campeão

24 fev 2017, 10:31
FC Porto-Boavista (Lusa)

Albertino, Tulipa e Manuel José estiveram dos dois lados e recordam duelos dos últimos 40 anos entre Boavista e FC Porto

Décadas de rivalidade, mais de uma centena (133) confrontos, ainda assim, na atualidade o Boavista-FC Porto é um dérbi desigual.

Apesar do desequilíbrio no valor dos plantéis e nos resultados recentes indiciar o favoritismo portista para a deslocação ao Bessa (domingo, às 20h15), num importantíssimo jogo da jornada 23, o grande duelo da Invicta não deixa de ser um jogo de tripla. Mais do que isso: é um embate de muitas memórias e destinos cruzados que o Maisfutebol foi resgatar com três jogadores que estiveram dos dois lados da barricada.

O dérbi que inventou a Supertaça

Qual é o dérbi que lhes ficou na memória?

Albertino Pereira (Boavista: 1976 a 1979; FC Porto: 1979 a 1982), cuja contratação pelo Boavista numa jogada de antecipação ao FC Porto empurrou Pinto da Costa para a chefia do departamento de futebol portista, em 1976, lembra-se dos grandes dérbis.

Há, no entanto, um que se tornou especial, quando ao fim de três épocas trocou finalmente o Bessa pelas Antas: além dos quatro mil contos e da cedência de Óscar os axadrezados tiveram como compensação a receita de um jogo particular nas Antas. Como o Boavista era detentor da Taça e o FC Porto do campeonato assim germinou por acaso a Supertaça Cândido de Oliveira, numa primeira edição (1979) atribulada.

Albertino transferiu-se do Boavista para o FC Porto em 1979 

«O Boavista venceu-nos nas Antas, mas a taça foi entregue pelo “correio”… O capitão deles teria de ir lá acima à tribuna receber o troféu, mas os sócios do FC Porto zangados com o resultado acabaram por bloquear a passagem e aquilo só se resolveu entregando-o mais tarde. Não foi bonito, mas eram tempos em que a rivalidade fervia mais…», recorda o antigo avançado ao Maisfutebol.

É uma história com quase 40 anos, mas que atesta bem os tempos em que a rivalidade entre os emblemas portuenses era mais acicatada.

Manuel Tulipa (FC Porto, escalões jovens: 1986 a 1991; Boavista: 1996/97), por sua vez, recorda um dérbi em que ficou a torcer por fora porque estava emprestado pelo FC Porto ao Boavista: «Foi em 1996/97… Perdemos 2-0 no Bessa com o Fernando Mendes a resolver aquilo com dois golos de livre na primeira parte. Nessa altura, os jogos eram mais renhidos. O Boavista estava em crescendo e já tinha as bases do clube que viria a ser campeão nacional. O estádio estava quase sempre cheio e o clube tinha a possibilidade de ter um grande plantel, com alguns jogadores internacionais. Hoje, ainda está a refazer o seu caminho para voltar a esse patamar.»

Tulipa jogou nos escalões jovens do FC Porto de 1986 a 1991 e nos seniores do Boavista em 1996/97)

Mais recente ainda é a recordação de Manuel José, ex-capitão do Paços, agora no Gondomar, que em 2005/06 jogou pelo Boavista, depois da formação toda no FC Porto, onde até chegou a jogar com José Mourinho (2002/03).

«Esse dérbi no Bessa foi na última jornada, o jogo de consagração do FC Porto como campeão nacional (sob o comando de Co Adriaanse, o primeiro do “tetra”). Foi um empate (1-1). Na primeira volta perdermos 1-0 no Dragão com o jogo a ser resolvido com uma trivela do Quaresma. O César Peixoto aleijou-se, saiu lesionado e o Vítor Baía fez duas ou três defesas fantásticas… O Boavista deu muita luta nesse jogo.»

Dragão favorito, mas «num dérbi tudo ferve»

Manuel José (FC Porto, escalões jovens: de 1991 a 2001 e seniores em 2002/03; Boavista em 2005/06) reconhece que também no seu tempo os valores dos plantéis eram mais equilibrados. «Na minha equipa tinha por exemplo a jogar ao meu lado o João Vieira Pinto. Atualmente, não há nenhum jogador dessa craveira no Boavista.»

Desta vez, o FC Porto é favorito, sustenta Manuel José. «O Boavista está ainda a reerguer-se. Está a fazer um campeonato tranquilo e a um ponto dos 30 que podem garantir já a manutenção. Aliás, está a três pontos do sexto lugar, que pode dar acesso à Liga Europa – dependendo da final da Taça. Mas naturalmente o FC Porto é favorito em qualquer campo nacional, exeto quando joga fora com Benfica ou Sporting. Está a um ponto do Benfica e motivado para atacar o título.»

Manuel José fez toda a formação no FC Porto; jogou nos seniores do Boavista em 2005/06

Tulipa concorda que os tempos são distintos e que as diferenças se acentuaram em relação à sua era: «Desta vez, o FC Porto tem uma grande percentagem de favoritismo: pela qualidade do plantel e pelo momento. Às vezes, há surpresas. O FC Porto teve o jogo da Liga dos Campeões a meio da semana, o técnico do Boavista está a fazer um bom trabalho e não vai entregar o jogo. Há no entanto diferenças evidentes. O processo de recuperação do Boavista demora o seu tempo. Não é como na altura em que eu jogava, em que, exeto com os grandes, quase todos os jogos eram para ganhar e o clube andava sempre perto dos primeiros lugares.»

Albertino não alinha por uma tese diferente, mas salienta que há coisas que não mudam, independentemente dos momentos das duas equipas: «O FC Porto é mais favorito agora, mas ainda há pouco tempo empatou a zeros no Dragão naquele jogo do temporal, em que o Maicon foi expulso. Mas um dérbi é um jogo terrível. Sempre. Tudo ferve dentro e fora de campo.»

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