Benfica-Sporting, 4-3 (crónica)

David Marques , Estádio da Luz, Lisboa
15 mai 2021, 20:10

Orgulho e Glória num dérbi bipolar

- Somos campeões!

- Até que enfim! Ao fim de 19 anos… mas parabéns.

- E a pinta com que vos ganhámos em Alvalade mesmo em cima do final do jogo? Deve ter sido difícil de digerir para vocês…

- Isso foi em janeiro e todos se lembram de como tínhamos a equipa naquele mês. Agora é que vamos ver!

- Agora deixa lá isso! É a feijões.

- Não ouviste o que o teu treinador disse? Quer continuar sem derrotas até ao fim do campeonato!

- Ok, ok. Os rapazes estão cansados da festa, mas vamos a isso! Um dérbi é sempre um dérbi.

A rivalidade histórica, insana por vezes, entre Benfica e Sporting escreve-se também de episódios como o que ficcionámos acima. Não são precisos motivos particularmente especiais para apimentarem o dérbi dos dérbi, ainda que uns, pelo contexto, possam ser cargas de importância distintas.

Orgulho e Glória frente a frente no Estádio da Luz. De um lado, a ténue esperança em (pelo menos) esticar o sonho do segundo lugar por mais umas horas e, numa temporada de desilusão, ter o alento de ser a única equipa a derrotar o consagrado campeão nesta Liga; do outro, um leão acabado de chegar da festa e em busca de se manter invicto e continuar a fazer história.

FILME, FICHA DE JOGO E VÍDEOS DOS MELHORES LANCES

Muito do que se passou no dérbi foi escrito na primeira parte. Benfica agressivo, ligado ao jogo e um Sporting longe dos níveis de concentração exigidos para um jogo destes.

No 1-0, apontado por Seferovic aos 12 minutos, ficou à vista a maior das fragilidades do Sporting durante a tarde. Sem João Palhinha e João Mário de início, o meio-campo leonino foi demasiado permeável nos 45 minutos iniciais. Daniel Bragança e Matheus Nunes não foram só curtos para fazer face à fúria encarnada; fora curtos, sobretudo quando Pizzi explorava o corredor central para dar superioridade numérica.

Até se colocar em posição confortável, a equipa de Jorge Jesus passou por raros percalços, sobretudo em situações de controlo de profundidade.

Pizzi. Pizzi. Pizzi.

Três vezes, porque o capitão dos encarnados jogou por três. Depois de ter descoberto Seferovic no 1-0, assinou o segundo com um toque de classe após assistência de calcanhar de Everton e bateu o canto que originou o 3-0 de Lucas Veríssimo. Tudo isto em 37 minutos de ampla superioridade encarnada.

A melhor notícia para o Sporting nos 45 minutos iniciais trouxe-a Pedro Gonçalves. O melhor marcador dos leões esta época reduziu já em tempo de compensação e alimentou a esperança do campeão para a etapa complementar.

Por essa altura já se sabia que João Mário e Palhinha, lançados para aquecimento logo após o 3-0, iriam a jogo no regresso dos balneários e aproximariam a equipa de Ruben Amorim da sua melhor versão, não obstante as baixas importantes de Porro e Feddal.

O Sporting, que deu três de avanço, não esteve longe de uma recuperação de contornos épicos. O que está em consonância com a alma leonina nesta época e mostra, já agora, que o Benfica está longe de ser, ainda hoje e depois da tempestade entre janeiro e fevereiro, uma equipa fiável.

No regresso dos balneários, o Benfica repôs para três a vantagem. Matheus Nunes, que baixou para o lugar de João Pereira, foi ultrapassado por Grimaldo e cometeu um penálti desnecessário quando parecia ter o lance controlado.

Seferovic fez o 4-1 e voltou a distanciar-se de Pedro Gonçalves, que aguçou o interesse do dérbi também por aí.

Já depois de ver uma bola no ferro na baliza de Helton Leite, e talvez a notar que o Sporting crescia a olhos vistos na zona intermediária, Jesus lançou Gabriel para o lugar de Taarabt.

Ainda que mais próximo do médio alemão, o brasileiro esteve longe de ser um auxílio precioso e os encarnados continuaram a perder batalhas atrás de batalhas.

Nuno Santos reduziu para 4-2 e Pedro Gonçalves fez o 4-3 na conversão de uma grande penalidade após ser carregado na área por Lucas Veríssimo.

Faltavam 12 minutos para os 90 e o dérbi passou, num ápice, de decidido a relançado.

Depois de uma primeira parte para esquecer, o Sporting puxou dos galões de campeão. Chegou-se à frente e fez peito feito a uma águia assustada. Pote esteve perto do hat-trick e do empate, Coates acabou o jogo a avançado e o Benfica declaradamente em contra-ataque.

O campeão tentou, mas caiu ao fim de 33 jornadas. Não apaga a Glória de uma época (quase) imaculada, mas o rival mostrou Orgulho num dérbi com contornos bipolares e que, por isso, transbordou de emoção.

Um dérbi é sempre um dérbi.

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