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Correspondente nos Estados Unidos da América

Insolência na derrota

1 fev 2022, 16:51

O presidente do CDS demitiu-se e o do PSD deixou a porta aberta. A dirigente do BE foge ao assunto e a do PAN agarra-se. Do líder do PCP nem uma palavra. A democracia também vive de líderes que assumem responsabilidades

Muitas sondagens estavam erradas, ou tinham margens de erro elevadas, e deram a quem ia perder a ilusão de que resultados melhores se avizinhavam. Mas, face à realidade, é engolir em seco, endireitar as costas e seguir com verticalidade.

O CDS perdeu, nestas eleições, 60% dos votos obtidos em 2019.

O descalabro – e o facto de o seu eleitorado estar muito disperso – levou a que o partido democrata-cristão, tendo mais votos do que o Livre  e o PAN, não conseguisse, pela primeira vez, eleger um só deputado. O seu presidente demitiu-se. Ainda que, ao sair, tivesse responsabilizado a oposição interna pelo desastre, o que pode ser discutido, o líder do CDS fez o que se espera de uma pessoa com integridade política: assumiu as responsabilidades.

O PSD manteve, percentualmente, a votação de 2019, mas perdeu todos os seus distritos.

Apesar de ter conseguido mais eleitores, a percentagem total não se alterou porque votaram mais pessoas em 2022, do que há pouco mais de dois anos. O presidente do PSD – não sem, antes, se embaraçar a falar alemão e do facto dubiamente relevante de ter cumprido o orçamento de campanha – não se demitiu mas deixou a porta aberta ao admitir que, face a uma maioria absoluta do PS, não lhe resta palco político. O processo de sucessão será reatado em devido tempo e o partido decidirá da utilidade do líder.

O BE perdeu mais de 50% dos seus votos.

Francisco Louçã deixou o BE com um eleitorado de 500 mil pessoas, e a nova liderança reduziu-o a menos de metade. Mas a sua líder recusa-se a assumir um fim de ciclo, querendo com isso referir-se ao seu ciclo e à sua manutenção no topo do Bloco. Pretende manter uma relevância, hoje, inexistente depois de o seu partido, acusado de irresponsabilidade e sobrevivendo de manobras mediáticas e causas fracturantes, ter sido enxovalhado pelo Chega.

O PAN perdeu 50% dos seus eleitores.

A sua líder agarra-se ao único lugar conseguido pelo partido, no Parlamento, apesar de ter menos votos do que o CDS, fruto de uma menor dispersão de eleitores. Podia passar o assento parlamentar para o nome seguinte na lista. Mas não o fez, nem deu indicação de que o fará, apesar de se poder argumentar que as acusações de hipocrisia que lhe foram feitas na pré-campanha desacreditaram a liderança do PAN e contribuíram para afundar o partido.

O PCP perdeu quase 30% de votos.

Apesar do seu histórico de resultados descendentes, em eleições consecutivas, o secretário-geral do PCP disse que as derrotas não tombam o partido e não deu sinal de que tenciona assumir responsabilidades. Na mais hermética e menos democrática estrutura partidária portuguesa, o assunto será tratado em segredo, em reunião próxima. Mas não há, publicamente, humildade de admitir que o PCP é um partido em erosão sistemática, pelo qual quase 96% dos portugueses se desinteressaram. É prisioneiro do seu passado e sustentado pela capacidade de chantagem política que lhe advém do controle de alguns sindicatos críticos.

Entre os derrotados à esquerda, quanto a líderes, nada de novo... a não ser a arrogância, a dar lugar à ânsia do poder, ainda que diminuído.

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