Quatro coisas que a Rússia pode fazer com o incumprimento a aproximar-se

CNN , Julia Horowitz
16 mar 2022, 22:34
Banco Central da Rússia. Andrey Rudakov/Bloomberg/Getty Images

As duras sanções contra a Rússia, após a invasão da Ucrânia, estão a alimentar um momento de grande incerteza para os mercados financeiros. Apesar de os verdadeiros efeitos dos esforços para punir a 11.ª maior economia mundial ainda serem desconhecidos, chegámos a um momento crucial.

O que está a acontecer: o tempo poderia começar a contar para a Rússia na quarta-feira, no seu primeiro incumprimento da dívida internacional desde a revolução bolchevique. Os investidores já avisaram que este desfecho, impensável há apenas alguns meses, pode perturbar o sistema financeiro de formas inesperadas.

“Esta é claramente uma história importante a ter em conta”, disse recentemente Jim Reid, estratega do Deutsche Bank, aos clientes.

Na quarta-feira, Moscovo tem de entregar 117 milhões em pagamentos de juro sobre obrigações do Estado denominadas em dólares. Apesar de a Rússia ter emitido obrigações que podem ser reembolsadas em várias moedas, desde 2018, esses pagamentos têm de ser feitos em dólares dos EUA.

Isto não teria sido um problema antes da guerra. Mas as sanções sem precedentes do Ocidente cortaram o acesso da Rússia a metade das suas reservas cambiais, cerca de 315 mil milhões de dólares, segundo Anton Siluanov, o Ministro das Finanças do país.

Durante o fim de semana, Siluanov disse que a Rússia iria pagar aos credores dos “países hostis” em rublos. Na terça-feira, a agência de crédito Fitch Ratings disse que se Moscovo fosse por esse caminho, poderia incorrer em incumprimento da dívida soberana.

A situação pode desenrolar-se de algumas formas a partir daqui, disse-me Timothy Ash, estratega soberano da BlueBay Asset Management.

  1. A Rússia cumpre as suas obrigações na íntegra e em dólares.
  2. A Rússia poderia pagar, mas favorecer locais em detrimento de estrangeiros. Isso continuaria a constituir um incumprimento. “Não pode pagar a uns credores e a outros não”, disse Ash.
  3. A Rússia poderia pagar em rublos. Isso despoletaria um incumprimento, segundo enfatizou Fitch.
  4. A Rússia poderia não fazer nada, pelo menos, por agora. Aí, entraria num período de tolerância de 30 dias, antes de ser declarado um incumprimento. Ash diz que é possível o governo de Putin entrar por este caminho para “gerar inquietação”.

Porque interessa? Se o governo russo incorrer em incumprimento, despoletará uma confusão para determinar que investidores emprestaram dinheiro a Moscovo e se as suas potenciais perdas podem vir a ter efeitos em cadeia prejudiciais.

Os investidores ocidentais estão menos expostos à Rússia do que anteriormente. As sanções que se seguiram à anexação da Crimeia, em 2014, encorajaram-nos a reduzir a sua exposição. As entidades russas devem cerca de 121 mil milhões de dólares a bancos internacionais, de acordo com o Banco de Pagamentos Internacionais.

JPMorgan estima que a Rússia tinha cerca de 40 mil milhões de dólares de dívidas em moeda estrangeira no final do ano passado, com cerca de metade detida por investidores estrangeiros.

“Um incumprimento é um desastre para a Rússia”, disse Ash, destacando que a comunidade internacional tem pouco interesse em ajudar e que é possível que o país perca acesso a financiamento estrangeiro durante algum tempo. “Não penso que seja um desastre para mercados internacionais”, acrescentou.

Durante o fim de semana, Kristalina Georgieva, diretora executiva do Fundo Monetário Internacional, também disse que é pouco provável que se desenvolva uma crise financeira, “por agora”.

Mas a saga vai demorar algum tempo a evoluir, principalmente com a aproximação de mais pagamentos. Um pagamento muito maior, de dois mil milhões de dólares, agendado para o início de abril, poderia dar ainda mais dores de cabeça para Moscovo.

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