Não existem. O decrescimento é uma fraude perigosa.
O decrescimento é um movimento social e académico que defende que cada vez haverá menos recursos disponíveis, menos energia, e mais danos ecológicos ao planeta devido à acção humana. As soluções mais comuns passam pela diminuição populacional e a conversão radical dos estilos de vida actuais para outros com muito mais austeridade. Não há um único movimento coeso de decrescimento. É uma salada de ideias, e pode significar várias coisas para cada um dos seus defensores. É muito popular na vasta maioria dos partidos europeus ditos ecológicos. A minha opinião é que não há partidos ecologistas na Europa, há partidos a tentar brincar à jardinagem.
Uma análise recente a 561 publicações sobre decrescimento revelou resultados devastadores para o movimento. Sumariado pelo historiador Rutger Bregman, a meta-análise tem três conclusões principais. Primeiro, poucos estudos usaram dados quantitativos ou qualitativos. Segundo, os estudos que até usam dados tendem a usar amostras pequenas ou de casos que não são representativos da realidade. Finalmente, em terceiro, a larga maioria dos estudos, quase 90%, são opiniões e não análises. Agora demonstrado cientificamente, o decrescimento é uma fraude académica.
“Prometeu é o mais eminente santo e mártir do calendário filosófico”. A frase é de Karl Marx. Prometeu foi o titã da mitologia grega que roubou o fogo aos deuses do Olimpo e o ofereceu aos humanos. Zeus condenou-o a uma eternidade de tormento, acorrentando Prometeu a uma rocha onde todos os dias uma águia comeria o seu fígado, que regenerava durante a noite. Prometeu oferecera aos humanos o dom do conhecimento, da tecnologia, e acima de tudo, da civilização. Não é por acaso que Prometeu é talvez o maior símbolo dos primeiros Marxistas. Mais energia e melhor tecnologia implicam mais produção. Mais produção implica mais para redistribuir. Marx era um maximalista da energia, defendendo abundância para todos. Trotsky diz mesmo que o Homem, graças à tecnologia, reconstruirá a Terra à sua imagem, movendo florestas e montanhas, através da construção em larga escala de ferrovias e de minas. O que é curioso é que a larga maioria dos Marxistas actuais se diga apoiante do decrescimento. Este texto não é uma defesa da filosofia de Marx, mas uma crítica a quem, dizendo-se Marxista, apoie o decrescimento. O Marxista actual tem pouco em comum com a praxis original. Dizer-se Marxista é hoje uma forma de “épater le bourgeoisie”(chocar a burguesia), “como se uma tatuagem facial para causar choque se tratasse”, como diz o jornalista Leigh Phillips. Phillips continua: “Se os ditos Marxistas atuais lessem os textos dos Marxistas originais, ficariam chocados”. É meramente performativo, como o ambientalismo tradicional.
Há um antes e depois na história do ambientalismo em Portugal, com a publicação do texto “O Ambientalista Simplório” do jornalista Luís Ribeiro. O jornalista desmonta brilhantemente e de forma humorística o poço de contradições que o ambientalista comum defende: não quer minas mas quer produtos de mineração, grita para que se oiçam os cientistas mas acaba por ignorá-los completamente, entre outras pérolas. Está comprovado que a oposição a ferramentas com provas dadas contra as alterações climáticas, como a energia nuclear ou os alimentos geneticamente modificados, são reveladores de desconhecimento profundo acerca da matéria. O que seria engraçado se não fosse trágico, pois são gritos de guerra para o decrescentista. À lista de atitudes simplórias, eu acrescentaria ainda: manifestam-se contra medidas de austeridade, mas querem impor a maior das austeridades aos outros através do decrescimento. E é por isso que a energia tem sido um tópico importante nos últimos tempos. No final do dia, a questão não é acerca do consumo de energia em si. É acerca de controlo. É acerca da imposição de estilos de vida. Energia é qualidade de vida. Mas há quem não queira essa qualidade de vida para o seu semelhante. As audiências actuais, cada vez mais informadas, riem-se das ideias dos ambientalistas bem estabelecidos da nossa praça, como João Joanaz de Melo, neste debate comigo na CNN. Joanaz de Melo defende menos para os outros, mas nunca desenvolve a ideia. Ao ser confrontado e ao repetir-se sucessivamente, a audiência ri-se. Não há qualquer ideia tangível. O problema é que é uma opinião de alguém que tem muito tempo de antena, dando a parecer que o decrescimento é uma ideia popular e consensual. É, no entanto, apenas mais uma opinião, que o próprio Joanaz de Melo, professor universitário, não consegue levar além da repetição ad nauseam de “as pessoas têm de consumir menos”, indo em linha com o estudo apresentado no início deste texto.
Isto traz-nos de volta ao estudo. Olhando para o mapa das publicações analisadas, vemos que a larga maioria dos autores vem de países industrializados. Claro que ninguém no sul global é apologista do decrescimento. A larga maioria das pessoas do sul global exige e merece uma qualidade de vida idêntica à nossa. Se tirarem alguma coisa deste texto, que seja a magnífica Ted Talk de Hans Rosling, que explica de modo fantástico o que eu tento expor:
Rosling explica que o mundo precisa de mais e melhor crescimento. Que graças a ter acesso a uma máquina de lavar roupa, uma absoluta novidade na altura, a sua mãe tinha tempo de o levar à biblioteca em vez de ficar em casa a lavar roupa à mão. A educação de Rosling foi possível graças ao crescimento. Rosling mostra ainda que, de todos os seus alunos que defendem o decrescimento, nenhum fez tarefas manuais árduas ou está disposto a fazê-las. A mensagem final de Rosling é bela: é possível retirar os nossos semelhantes de uma vida de trabalho árduo para que desfrutem ao máximo das suas vidas, e para que merecidamente desenvolvam o seu potencial. Rosling acaba por agradecer à tecnologia, à industrialização, e à central de energia, entre outros, por nos permitirem ser a melhor versão de nós próprios. É curioso como a ideia de decrescimento acaba por romantizar o trabalho manual árduo (para os outros). Exige-se que o pobre permaneça pobre e que a mulher volte a uma vida de trabalho manual árduo. A falta de energia tem um efeito desproporcional em mulheres e meninas, afetando-as mais severamente. O decrescimento é uma visão intrinsecamente neo-colonialista e anti-feminista, exatamente o oposto do que os seus defensores advogam.
Recentemente, a União Europeia financiou 10M€ em estudos em decrescimento e até foi a anfitriã da conferência Para além do crescimento. Na minha humilde opinião, a UE tem cometido erros graves nas suas políticas ambientais e industriais. A Europa sofre de uma vaga de desindustrialização e, consequentemente, de uma erosão do estado social, que necessita da primeira para se manter forte. Será esta uma maneira de “mover os postes”? Redefinir o conceito de prosperidade romantizando o passado? É um tema a acompanhar. O que é certo é que existe ampla literatura científica contra o conceito de decrescimento que a UE parece ignorar. Um estudo na revista Nature demonstra que os efeitos do decrescimento, uma vez postos em prática, são nefastos. Um diminuir de emissões mínimo em países industrializados e condenar milhares de milhões à pobreza extrema. Que foi o que vimos exatamente durante a pandemia! Atravessámos por esse grande laboratório global. Alguém quer voltar a repetir? A UE ignora ainda os exemplos que tem dentro de portas. Muitos dos seus países já desacoplaram crescimento económico do seu PIB. Ainda permanece a questão se “este fenómeno será rápido e abrangente o suficiente”, como enuncia Hannah Ritchie da Our World in Data. Mas cai por terra a ideia de que é impossível fazê-lo.
A Europa Central escapou moderadamente ilesa às recentes cheias. Houve danos materiais, mas em termos de vidas humanas, muitas foram salvas devido a projetos de adaptação a catástrofes. Estes projetos precisam de energia e matérias-primas. E é provável que precisemos de mais energia e materiais para realizar mais e melhores projetos de adaptação. Em locais de baixa energia, como em África, a história é, muito infelizmente, outra. Milhares de pessoas faleceram e milhões estão deslocadas na África Central devido a cheias. É imperativo obter mais energia de baixo impacto para salvar vidas, e limpa de modo a evitar as alterações climáticas que as propiciam. É preciso crescer de forma sustentável.
Em vez de tentar ditar a vida dos nossos concidadãos, deveríamos tentar elevá-la. Todos os dias. E aos defensores do decrescimento dizer: tu primeiro.