Decorar o interior do frigorífico com molduras e flores? Sim, é uma tendência

CNN , Scottie Andrew
13 out 2024, 16:00
Este é o princípio central do paisagismo aplicado a uma nova realidade: até um frigorífico pode ficar lindo (Lynzi Judish)

Há quem a adore, há quem a odeie. E você, de que lado fica?

Lynzi Judish já tinha decorado praticamente todos os cantos da casa onde vive em Nova Iorque, do teto da sala de jantar, sem esquecer um pequeno observatório que tem no último andar.

Só lhe faltava enfeitar a parte de dentro do frigorífico.

Foi assim que Lynzi Judish começou uma nova tendência: fridgescaping. A expressão em inglês mistura as palavras ‘fridge’ [frigorífico] com ‘landscaping’ [paisagismo]. E descreve o ato de decorar o interior de um frigorífico como se de qualquer outra divisão da casa se tratasse. É uma tendência que tanto conquista como enfurece quem se cruza com ela na rede social TikTok. Há os que se derretem com as cenas românticas a baixas temperaturas e os que se revoltam com a aparente futilidade que é fazer a curadoria de um espaço que passa despercebido à maioria das pessoas.

As paisagens criadas por Lynzi Judish no frigorífico incluem produtos arranjados com muito cuidado, como um ramo de espargos num vaso, recipientes de armazenamento cheios de charme, tais como jarras de vidro rosa e antigos pratos de cerâmica para manteiga - “qualquer coisa que embeleze a nossa comida”, diz.

Nos últimos tempos, Lynzi Judish começou a aplicar temas nas suas composições, inspirando-se em séries como “Bridgerton” (ou “Fridgerton”, como lhe chama). Ou seja, trocando garrafas de molhos e caixas feias por decorações seguras para as baixas temperaturas, como molduras e estatuetas.

Lynzi Judish admite que tamanho esforço na decoração do frigorífico “talvez possa parecer excessivo”. Muitas das pessoas que se cruzam com estas paisagens frigoríficas não compreendem porque se coloca um busto de porcelana, luzes ou flores frescas ao lado de uma taça de pimentos ou de um jarro de sumo de laranja.

“Sinto que criei um pedaço de raiva involuntária”, confessa.

‘Fridgescaping’, uma arte que divide

A decoração do interior dos frigoríficos não nasceu no TikTok. Lynzi Judish dá créditos a Kathy Perdue, uma designer reformada e antiga blogger na área do estilo de vida, que cunhou o termo “fridgescaping” em 2011 numa publicação feita no seu blogue.

A versão de Kathy Perdue destas paisagens frigoríficas era muito mais contida que a interpretação do TikTok. A mulher limitou-se a limpar o frigorífico antes de uma ida às compras e a armazenar depois os produtos em recipientes elegantes.

“Porque não colocarmos os nossos produtos do dia a dia em recipientes bonitos, para termos algo para olhar quando abrimos a porta do frigorífico?”, escreveu Kathy Perdue.

As paisagens frigoríficas de Lynzi Judish implicam organizar os produtos com cuidado, juntando depois flores frescas e outros pequenos objetos (Lynzi Judish)

As paisagens frigoríficas mais populares no TikTok hoje em dia têm mais em comum com uma vitrina de loja no Natal do que com a abordagem de Kathy Perdue.

A decoração de frigoríficos ganhou um peso tal que Rebecca Bingham, que publica sobre as suas descobertas em feiras e lojas de segunda mão, não tinha a certeza se os vídeos que andava a ver eram “a sério ou não”. Apesar disso, aproveitou a inspiração e criou a sua paisagem frigorífica “exagerada” com velas, jarras, um pequeno espelho e bordados. Quase havia mais bugiganga do que produtos no frigorífico.

Ainda assim, a paisagem frigorífica que criou era apenas uma brincadeira. Rebecca Bingham tirou tudo depois de fazer um vídeo, uma vez que a maioria dos objetos não era adequada para os alimentos. Foi então que percebeu que o seu vídeo era um comentário não intencional sobre os custos cada vez maiores dos bens alimentares - parecia mais fácil encher o frigorífico com objetos aleatórios do que com comida.

“O ‘fridgescaping’ é algo fácil de satirizar, porque pega em algo básico e prático como o armazenamento de comida e transforma-o num ato estilizado, quase performativo”, justifica Rebecca Bingham. “Quando vemos frigoríficos arrumados desta maneira, como se fossem exposições de museus, organizado por cores e com objetos que não são comida, isso evidencia o absurdo que é fazer algo funcional parecer perfeito para as redes sociais”.

Os críticos do ‘fridgescaping’ questionam a inconveniência e a aparente frivolidade de estender a decoração de interiores a um dos espaços mais íntimos de uma cozinha. Um coro de críticos encontrou recentemente os vídeos de Lynzi Judish, depois de estes terem aparecido num fórum do Reddit onde os utilizadores apresentavam os motivos para o seu desacordo. Um dos utilizadores contou que disse à mulher que esta tendência era “estúpida”, levando-a a remover todas as decorações do frigorífico, embora atuando de uma forma distante a nível emocional.

Lynzi Judish reconhece que o “fridgescaping” “não será algo que funcione para a maioria das pessoas”. É antes um processo complicado: a sua primeira paisagem frigorífica levou-lhe horas, apenas para uma limpeza a fundo e para preparar os produtos. Judish testa todos os recipientes antes de os colocar no frigorífico. 

A paisagem frigorífica de Lynzi Judish inspirada na floresta é uma das mais complexas, com pequenas flores por todo o lado (Lynzi Judish)

Contudo, para Lynzi Judish, esta tendência é algo que funciona. À CNN, conta que guardar os alimentos de uma forma que os deixa sempre à vista a motiva a comê-los antes de se estragarem.

“Nunca me senti mais saudável, o que é um efeito colateral muito pouco expectável”, descreve.

Lynzi Judish prepara as suas listas de compras com base nos temas, o que significa que cozinha coisas diferentes todas as semanas. Quando o seu frigorífico se transformou numa floresta encantada, encheu-o com flores comestíveis do seu próprio jardim, que “comia como uma fada”. Já para um frigorífico inspirado nas viagens no tempo da série “Outlander”, escolheu produtos que estariam disponíveis nas colónias americanas antes da Guerra da Independência dos Estados Unidos.

E embora seja um trabalho duro criar um novo tema a cada duas semanas, abrir o frigorífico tem-lhe dado todos os dias, segundo a própria, uma injeção instantânea de dopamina.

Rebecca Bingham, que na sua conta defende um “consumo consciente” e incentiva os seguidores e comprarem apenas coisas “que tem um lugar e um propósito”, concorda que esta tendência pode “às vezes, parecer contrária a estes princípios”.

Em última análise, diz, não vale a pena ganhar raiva a esta tendência. Para concluir que é melhor apreciá.la como uma “tendência divertida, uma brincadeira”.

Bustos, molduras e tigelas ornamentadas levam o ambiente da série “Bridgerton” para o frigorífico de Lynzi Judish. É aquilo a que chama “Fridgerton” (Lynzi Judish)

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