Em 2020, e a falar para o mundo, Zelensky disse em Davos que "a preocupação não chega"

23 mai 2022, 09:47
Imagens de Zelensky circulam em Davos (Markus Schreiber/AP)

Presidente ucraniano vai ser uma das estrelas da reunião do Fórum Económico Mundial, onde já esteve há dois anos. Na altura, com uma guerra a decorrer no Donbass, avisou que era preciso fazer mais

O presidente da Ucrânia vai ser a grande figura da reunião do Fórum Económico Mundial em Davos, na Suíça. Volodymyr Zelensky vai abrir o encontro com uma intervenção por vídeo, num discurso que vai ter muito mais atenção que aquele que fez em janeiro de 2020.

Na altura, e quando já havia guerra entre separatistas pró-russos e forças ucranianas nas regiões de Donetsk e Lugansk, bem como a anexação da Crimeia por parte da Rússia, Volodymyr Zelensky mostrava-se preocupado com a posição do resto do mundo, dizendo que a preocupação não chegava, que era preciso mais.

“A guerra está a decorrer no meu país pelo sexto ano. Há seis anos, a Rússia anexou parte do território, apesar das centenas de páginas de Direito Internacional e das organizações criadas para o proteger”, disse na altura.

O ucraniano referia-se a “uma nova normalidade”, afirmando que “a preocupação mundial não chega”, falando numa estrutura mundial fraca e vulnerável, uma vez que várias organizações não desempenhavam o papel para o qual foram criadas.

Durante o discurso, e questionado por Klaus Schwab, fundador do Fórum Económico Mundial, sobre como esperava que a guerra se desenrolasse, Volodymyr Zelensky dizia chefiar um governo "pronto para parar a guerra hoje". Não aconteceu, e à altura já se contavam 14 mil mortos.

A outra parte do discurso foi utilizada para tentar captar investimento, mas sem nunca esquecer a presença russa, nomeadamente na Crimeia: "Qual é o desafio para quem perdeu parte do seu terriório. Eu respondo: ser um líder da Europa Central e de Leste."

Pode ver o discurso de Volodymyr Zelensky em 2020 aqui.

O que vai dizer Zelensky

Depois de um ano em que a reunião foi realizada por via online, por causa da covid-19, líderes mundiais voltam a juntar-se fisicamente, e numa situação inédita: é a primeira vez que o encontro vai decorrer em simultâneo com uma guerra na Europa.

De acordo com a Sky News, que falou com uma deputada ucraniana que faz parte da delegação do país, a dependência europeia face ao petróleo e gás natural russos vai ser um dos pontos essenciais. Volodymyr Zelensky vai dizer que a compra desses bens serve para financiar violações e homicídios de crianças ucranianas. Ivana Kylmpush-Tsintsadze diz que é necessário um embargo total aos combustíveis fósseis vindos da Rússia, o que se deve conjugar com um reforço das sanções já em vigor.

A mensagem de Ivana Kylmpush-Tsintsadze, que faz parte da maior delegação diplomática a sair de Kiev desde o início da guerra, vai passar por convencer os líderes mundiais de que a compra de energia russa pode incentivar crimes de guerra.

E é isso que Volodymyr Zelensky vai reforçar, quando, na manhã desta segunda-feira, se dirigir ao seu público, em vídeo.

“Estamos aqui para deixar uma mensagem do nosso país. A necessidade de nos mantermos juntos e desistirmos de tentar fazer os negócios do costume com a Federação Russa serve para protegermos tudo aquilo em que acreditamos, na prosperidade, na democracia, na liberdade”, afirmou a deputada, apontando que aqueles valores são “tão importantes como os governos e as pessoas” na hora de fazer negócios.

Um dos países que mais tem a perder com um eventual embargo ao petróleo e gás natural russos é a Alemanha. E foi lá que Ivana Kylmpush-Tsintsadze teve “um dia difícil de conversações”, ainda que tenha deixado Berlim com “uma pequena esperança de que [os alemães] estejam a considerar um embargo total”.

“Se pagarem às empresas russas pelo petróleo e gás natural estão a dar-lhes recursos para continuarem a destruir as nossas cidades, as nossas vilas, para matarem as nossas crianças, violarem as nossas mulheres, idosos, bebés, recém-nascidos e destruírem o país”, acrescentou.

A 51.ª edição, que decorre deste domingo até quinta-feira, 26 de maio, será "a mais oportuna desde a sua criação" por todos os problemas que o mundo enfrenta e que põem à prova governos e negócios, indicaram os organizadores.

Nesta reunião são esperados mais de 2.500 participantes, incluindo cerca de 50 chefes de Estado e de Governo, mais do que os que participaram na edição anterior.

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