O que aconteceu naquela noite e o que pode acontecer agora ao jogador: tudo o que se sabe sobre o caso Dani Alves

28 jan 2023, 10:00
Dani Alves (AP Photo/Andre Penner, File)

A imprensa espanhola revela o testemunho da jovem de 23 anos que acusa o jogador de a ter violado e agredido sexualmente

O jogador brasileiro Dani Alves está em prisão preventiva desde o passado dia 20 de janeiro num estabelecimento prisional em Barcelona, Espanha, por suspeitas de ter violado e agredido uma mulher na discoteca Sutton, naquela cidade, em 30 de dezembro. O futebolista nega as acusações e começou mesmo por dizer que nunca tinha visto a vítima. Entretanto, o clube onde jogava já rescindiu o seu contrato e aguarda-se agora o desenrolar do processo judicial.

O que aconteceu na noite de 30 de dezembro, segundo a vítima?

Começou por ser uma noite como tantas outras para aquela jovem de 23 anos. De acordo com o El País, depois de jantar com duas amigas num apartamento na zona alta de Barcelona, as três decidiram dirigir-se a um bar, onde lhes foi entregue uma pulseira com entrada gratuita na discoteca Sutton. Chegaram à discoteca ainda antes das 02:00, hora limite para aproveitar a entrada gratuita no estabelecimento, e trocaram umas palavras com o porteiro. “Hoje vai ter de nos deixar entrar”, disseram, em jeito de brincadeira, antes de entrarem na discoteca.

Cerca de uma hora depois, as três jovens já estavam de saída da discoteca. O porteiro reconheceu-as e, ao aperceber-se do estado agitado da vítima, perguntou o que se passava. “Mal de amores?”, questionou, devolvendo a troça inicial. A vítima começou por dizer que teve problemas com uma pessoa "muito importante", até que, depois da insistência do porteiro, acabou por lhe contar o sucedido.

Estava com as amigas na zona VIP da discoteca quando um empregado se aproximou para lhes dizer que tinham um convite de alguém para uma mesa ali perto. As jovens dizem ter ignorado o convite, mas o funcionário voltou a insistir: “Um amigo meu quer que venham para ali.”

Apesar da reticência inicial, acabaram por aceitar o convite e sentaram-se numa mesa onde se encontravam duas mulheres e dois homens. Assim que o fizeram, as outras duas mulheres que já estavam sentadas saíram da mesa. Um dos homens aproximou-se e apresentou-se às três jovens. "Sou jogador de petanca no L'Hospitalet de Llobregat”, disse, ironicamente, Dani Alves. No seu testemunho, a vítima conta que soube quem ele era momentos antes, quando chegaram à discoteca e se encontraram com um grupo de jovens mexicanos que reconheceram o jogador brasileiro, de 39 anos. “Fiquei a saber através deles”, disse aos investigadores, de acordo com a ABC.

As acusações de violação e agressão sexual

De acordo com o relato da vítima, Dani Alves estava constantemente a tocar-lhes e insistiu para que bebessem champanhe, que as três rejeitaram. A dada altura, o jogador pegou na mão da jovem e disse “vamos, vamos”. “Não sabia onde tinha de ir e estava a arrastar os pés”, contou a vítima, acreditando que o jogador estaria a falar português, porque ela “não entendia nada”.

Depois, pegou numa das mãos da jovem e aproximou-a do seu pénis. De seguida, convidou-a a entrar na casa-de-banho - que a vítima pensava ser “uma outra zona VIP”, segundo o seu relato - onde ocorreu a alegada agressão sexual. A rapariga explicou que tentou sair, mas Dani Alves não permitiu. Além da violação, a jovem acusa o jogador de a ter agredido: “Ele agarrou-me pelo pescoço e atirou-me ao chão. (...) Bateu-me na cara durante algum tempo, senti que estava a afogar-me.”

Depois da alegada violação, a jovem contou que se levantou do chão para abrir a porta, mas, mais uma vez, o jogador não permitiu. “Eu saio primeiro”, terá dito, segundo o relato da vítima, que diz não se lembrar quanto tempo demorou a sair, “por estar tão nervosa que não conseguia abrir a porta”.

Assim que saiu da casa-de-banho, começou a chorar ao ver as amigas. As três resolveram sair de imediato da discoteca, quando foram intercetadas pelo porteiro, que ativou um protocolo de atuação dos estabelecimentos noturnos perante um caso de agressão sexual, e que se revelou determinante para a acusação ao jogador. 

No âmbito deste protocolo, a jovem foi transportada para o hospital Clínic de Barcelona, onde foi observada pelos médicos e fez vários exames. De acordo com a imprensa espanhola, os relatórios médicos apontam para uma relação não consensual. Dois dias depois, apresentou queixa.

No dia 4 de janeiro, os Mossos d’Esquadra, a polícia local, confirmaram ter aberto uma investigação ao antigo jogador do FC Barcelona. Seis dias depois, o Tribunal Superior de Justiça da Catalunha disse ter aberto um processo de investigação por suspeitas de agressão sexual. 

Dani Alves estava no México na altura e acedeu voluntariamente ao pedido dos investigadores de voar para Barcelona, para esclarecer o seu alegado envolvimento na agressão sexual. 

O que diz Dani Alves?

Nas últimas semanas, o jogador já deu vários testemunhos diferentes, alterando sempre a sua versão dos acontecimentos. Numa primeira vez, Dani Alves negou as acusações num vídeo ao programa "Y ahora Sonsoles", da Antena 3, no qual garantiu nunca ter visto a vítima. “Gostaria de, primeiro, negar tudo. Eu estava ali, naquele lugar, com mais gente, a divertir-me. Toda a gente sabe que eu adoro dançar. A aproveitar, mas sem invadir o espaço dos outros. E, quando uma pessoa vai à casa-de-banho, não pergunta quem lá está”, defendeu-se. 

“Sinto muito, mas não sei quem é essa senhora, não sei quem é, nunca a vi na minha vida. Durante todos estes anos, nunca invadi o espaço de ninguém, muito menos sem autorização, como o iria fazer com uma mulher ou uma menina? Por Deus, não. Já chega, porque magoam, principalmente aos meus, porque eles sabem quem eu sou”, acrescentou.

Entretanto, alterou esta versão num interrogatório das autoridades, declarando que a jovem ter-se-à atirado para cima dele quando estava sentado na casa de banho. Mas houve ainda outra versão: os dois terão tido relações sexuais consentidas, com o jogador a referir que não o tinha dito para proteger a mulher. Esta constante alteração da sua versão dos acontecimentos não terá abonado a seu favor perante o juiz.

Além disso, as declarações de várias testemunhas que estavam no local também não ajudaram o futebolista. Entre eles estão amigos da vítima, alguns deles funcionários da discoteca, que acusam Daniel Alves de ter estado a tentar seduzir a mulher durante o tempo que passaram juntos.

A detenção (e rescisão) do jogador

Quando chegou a Barcelona, no dia 20 de janeiro, Dani Alves foi detido pela polícia local e levado para a esquadra. Depois de várias horas sob custódia policial, apresentou-se a tribunal, onde, após 45 minutos de depoimento, em que "incorreu em inúmeras contradições", tanto a procuradoria privada - exercida pela vítima - como o Ministério Público solicitaram a sua prisão preventiva. O juiz concordou, alegando elevado risco de fuga. “O magistrado ordenou a prisão preventiva sem direito a fiança, pelo processo em curso por crime de agressão sexual”, pode ler-se num comunicado do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha.

Saída de Dani Alves do tribunal de Barcelona (AP/Joan Mateu Parra)

De acordo com a imprensa espanhola, a polícia analisou diversas provas incriminatórias, entre as quais vestígios de ADN e impressões digitais. Há também imagens da segurança da discoteca Sutton que, embora não forneçam informações sobre a violação - não há câmaras na casa-de-banho da área VIP - mostram "o estado de espírito" da jovem antes e depois do ocorrido.

No mesmo dia, o clube mexicano Pumas rescindiu contrato com o jogador, que vestia as cores da equipa desde julho do ano passado.

Entretanto, a mulher de Dani Alves, Joana Sanz, apagou algumas das fotos do atleta do seu perfil nas redes sociais, deixando apenas as fotografias relacionadas com publicidade. A modelo espanhola abordou recentemente o assunto perante os seus seguidores, sem mencionar o nome do jogador, agradecendo apenas o apoio que tem vindo a receber nas últimas semanas e classificando toda esta situação como uma "tempestade".

O que pode acontecer agora?

Depois de passar os primeiros dias na prisão Brians 1, em Barcelona, o jogador foi transferido para o Brians 2, um outro estabelecimento prisional perto da cidade, por “questões de segurança”, dada a sua notoriedade.

A transferência surge depois das notícias que dão conta da contratação de um dos advogados mais famosos de Espanha para reforçar a sua equipa de defesa de Dani Alves processo. Trata-se de Cristóbal Martell, um advogado que tem estado por detrás de vários casos com grande repercussão mediática nos últimos anos. Não só defendeu Lionel Messi num processo em que o jogador era acusado de fraude fiscal, como chegou a acordo com a Justiça espanhola, em 2016, quando o Barcelona foi condenado por crimes fiscais na contratação de Neymar.

Neste momento, a principal reivindicação da defesa é que as medidas de coação passem a ser menos severas do que a prisão preventiva, sugerindo como alternativa o pagamento de uma fiança, em função dos rendimentos do jogador, a retirada do passaporte, a proibição de deixar o país ou apresentações periódicas no tribunal, para além de ficar impossibilitado de comunicar com a vítima.

O processo ainda está numa fase inicial, mas, uma vez concluída esta etapa, poderá avançar-se para um julgamento formal. Se for considerado culpado, o jogador enfrenta uma pena de prisão que poderá variar entre quatro e 12 anos.

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