Foi como um "tsunami" que já matou 95 pessoas: DANA em Espanha, a pior tempestade do século

30 out 2024, 20:00

Zona de Valência foi atingida em força por chuvas intensas. Decretados três dias de luto em Espanha

“Começou a chegar a água e veio uma onda, como se fosse um tsunami”. O relato é de Guillermo Serrano Pérez, 21 anos, que viveu de perto a pior tempestade do século em Espanha - uma depressão DANA -, e que por esta altura já fez 95 mortos, provocando um cenário caótico, quase apocalítpico, em muitas cidades da costa mediterrânica, com Valência - que tem 92 das vítimas mortais - e Málaga em destaque.

Era a poucos quilómetros da primeira, na localidade de Paiporta, que tem 25.300 habitantes, que estava Guillermo. Ele que passou a noite com os pais numa das pontes que fazem a travessia do rio: “Por volta das 20:30 começou a chegar a água”, conta à reportagem do El País, a quem disse que teve de subir, com a família, uma das pontes que cruzavam o local.

“Os carros que estavam ali parados ficaram completamente destruídos”, continua, acrescentando que o grupo com quem estava foi capaz de salvar uma mulher e o seu bebé da corrente violenta que por ali passava, e que chegaria a vários lados da grande Valência, que acordou completamente inundada num cenário que podia servir de cenário a qualquer videojogo apocalíptico.

Passaram todos a noite ali, a conversarem uns com os outros, sem dormirem, até que às 05:30 apareceram os bombeiros para resgatar o grupo.

Foi assim que ficou uma das ruas de Valencia depois da passagem da depressão DANA (Alberto Saiz/AP)

Guillermo e as pessoas com quem estava não ligaram às autoridades, mas milhares de pessoas fizeram-no de imediato. As linhas de emergência e os pedidos de socorro inundaram as redes sociais nas primeiras horas desta terça-feira, quando o tempo já previa uma DANA catastrófica a atingir a zona.

Já de madrugada, Beatriz Garrote, que ficou conhecida em Valencia por ter presidido a uma associação que ajudava vítimas do acidente de metro que afetou a cidade em 2006, partilhava uma história semelhante à de Guillermo: "Estamos presos na V30 entre a ponte da CV400 e da CV36. Estamos a ver o caudal do rio a crescer e estamos um pouco preocupados. Podem dar-nos alguma indicação?"

Acabou por escapar ilesa, mas o desespero e a aparente falta de ajuda que sentiu são um dos temas em Espanha, onde se questiona porque é que a Proteção Civil só deu o alerta vermelho quando a tempestade já se desenrolava - Guillermo e os pais tinham acabado de receber o aviso das autoridades no telemóvel minutos antes de serem atingidos pela "onda".

Como estes dois testemunhos, dezenas de pessoas passaram a noite em cima de camiões ou de carros no meio da rua, subindo também aos telhados de postos de combustível ou de lojas nas cidades, perante a subida do nível da água. Na zona de Valência havia, durante a tarde, mais de 115 mil pessoas sem eletricidade.

As queixas indicam um total colapso dos serviços de emergência, mas também das rádios, o que tornou as redes sociais essenciais para o funcionamento como postos de socorro para centena de pessoas presas. Tal e qual o que aconteceu a Beatriz.

O interior de Valência (além de Paiporta, Utiel, Chiva, Picassent ou Torrent também foram arrasadas) e a zona de Albacete foram as zonas mais atingidas, chegando a levar com 500 litros por metro quadrado. Uma borrasca como há muito não se via e que deixou todos desesperados.

“Que venham ajudar-nos, que venham, o que me preocupa são as pessoas, os habitantes, os danos materiais já são incalculáveis”, afirmou o autarca de Utiel, uma localidade de 11.600 habitantes, em declarações à Cadena SER.

Em paralelo, várias vias de comunicação como as maiores autoestradas ou as linhas ferroviárias, incluindo a alta velocidade Valência-Madrid, estão encerradas.

O ministro espanhol da Política Territorial, Ángel Victor Torres, já anunciou três dias de luto nacional, acrescentando que o governo vai declarar a zona como "altamente afetada", dando assim possibilidade para o executivo agir mais e mais rapidamente. O governante prometeu ainda fiscalizar todas as ajudas estatais e de fundos europeus que possam também se alocados à recuperação da tragédia.

O exército mobilizou vários meios aéreos e psicólogos militares, além de cães pisteiros para que se localizem pessoas desaparecidas. Isto depois de a ministra da tutela, Margarita Robles, já tinha alertado para uma situação "sem precedentes".

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