Dalai Lama celebra 90 anos e prepara sucessão espiritual

Agência Lusa , DCT
27 jun, 06:18
Dalai Lama

A sucessão é um tema especialmente sensível entre os jovens tibetanos. “É absurdo que um Estado ateu como a China queira nomear um líder espiritual”, comentou Kunga Tashi, engenheiro de 23 anos radicado em Bangalore. “É claramente uma questão política”, apontou

As palavras do Dalai Lama são aguardadas com expectativa pelos tibetanos, à medida que o líder espiritual comemora 90 anos no próximo mês, data que deverá aproveitar para lançar pistas sobre a delicada questão da sucessão.

As celebrações arrancaram na segunda-feira em McLeod Ganj, nos contrafortes dos Himalaias do lado da Índia, onde o líder tibetano vive exilado desde 1959, após fugir da repressão chinesa no Tibete, escreveu hoje a agência de notícias France-Presse (AFP).

O ponto alto das comemorações é esperado na quarta-feira, quando se espera que o laureado com o Prémio Nobel da Paz em 1989 dirija uma mensagem à comunidade tibetana. Nada foi antecipado quanto ao conteúdo da intervenção, mas Dalai Lama já indicou que pretende aproveitar a ocasião para abordar o futuro da sua posição.

Nascido em 1935, Tenzin Gyatso foi reconhecido aos dois anos como a 14.ª reencarnação do Dalai Lama, em conformidade com a tradição budista. Em 2011, abdicou de todas as responsabilidades políticas, transferindo o poder para um governo tibetano no exílio, eleito democraticamente.

“Enquanto estiver física e mentalmente apto, considero importante estabelecer as regras para designar o próximo Dalai Lama”, afirmou o líder espiritual em 2011. “As pessoas devem decidir se o ciclo das reencarnações deve continuar”, disse.

Apesar de o atual titular ter sugerido que poderá não haver sucessor, a maioria dos tibetanos defende a continuidade.

“O ciclo da reencarnação de Sua Santidade deve prosseguir”, afirmou Sakina Batt, uma antiga funcionária tibetana que vive no Nepal, citada pela AFP. “O futuro dos tibetanos depende da sua unidade e resiliência”, disse.

“Este desejo não é partilhado apenas pelos tibetanos dentro ou fora do Tibete, mas também por todos os que, no mundo, têm ligação a Dalai Lama”, acrescentou Dawa Tashi, ativista pela independência que passou vários anos em prisões chinesas.

Muitos tibetanos receiam que a China - que anexou o Tibete em 1950 - tente nomear um sucessor controlado por Pequim. “Os chineses vão escolher outro Dalai Lama, é evidente”, antecipou o tradutor do atual líder espiritual, Thupten Jinpa. “Será ridículo, mas eles vão fazê-lo”, acrescentou.

A memória do precedente de 1995 permanece viva: nesse ano, a China deteve uma criança de seis anos reconhecida pelo Dalai Lama como Panchen Lama, segunda figura do budismo tibetano, e nomeou outro menino da sua escolha, amplamente rejeitado pelos tibetanos como “falso Panchen”.

O Dalai Lama excluiu categoricamente a possibilidade de o seu sucessor ser designado por Pequim. “Nascerá necessariamente no mundo livre”, garantiu.

A sucessão é um tema especialmente sensível entre os jovens tibetanos. “É absurdo que um Estado ateu como a China queira nomear um líder espiritual”, comentou Kunga Tashi, engenheiro de 23 anos radicado em Bangalore. “É claramente uma questão política”, apontou.

“Hoje, muitos jovens tibetanos priorizam o sucesso pessoal em detrimento da luta coletiva”, lamentou Geshema Tenzin Kunsel, religiosa residente em Dharamshala, sede do governo tibetano no exílio. “Preocupo-me com o nosso futuro sem ele”, contou.

Entre os seus apoiantes, a expectativa é que o Dalai Lama clarifique o processo de sucessão e assegure a continuidade da instituição. “Se ainda não alcançámos um Tibete livre, estivemos mais perto graças a Sua Santidade”, declarou Sonam Topgyal, estudante universitário em Nova Deli. “Com o nosso governo democrático no exílio e o apoio da Índia, acredito que ultrapassaremos esta transição”, apontou.

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