Metade das pessoas que ocupam camas covid nos hospitais não foram internadas por causa do vírus

28 jan 2022, 00:21
Covid-19

Documento do Ministério da Saúde revela que parte significativa dos doentes que estão internados nas camas dedicadas aos SARS-CoV-2 deu entrada por outros motivos que nada tem que ver com a infeção provocada pelo vírus. Bastonário dos Médicos aguarda que a DGS explique se estes doentes constam do boletim diário como casos de internamento pela Ómicron - diz que estes novos dados podem mudar a realidade que tem sido transmitida aos portugueses

Só pouco mais de 50% dos doentes que estão em camas covid nas enfermarias e unidades de cuidados intensivos de todos hospitais do país é que estão internados diretamente por causa da infeção SARS-CoV-2. Os restantes entraram com outras doenças e testaram positivo à entrada, não tendo problemas relacionados com covid-19. Os dados oficiais constam de um documento interno do Ministério da Saúde, a que a CNN Portugal teve acesso, que detalha a realidade nos hospitais relativa aos dias 13 e 20 de janeiro.

Nesse relatório, o Ministério de Marta Temido conclui que, dos internamentos totais, 41% (a 13 de janeiro) e cerca de 45% (a 20 janeiro) não foram causados diretamente pela covid.

O problema é que tudo indica que estas situações, que não estão diretamente relacionadas com o coronavírus, são incluídas no relatório diário divulgado pela DGS como sendo casos de internamento por covid, seja na enfermaria, seja nos UCI. “É preciso esclarecer isto o mais rapidamente possível pois isso pode mudar radicalmente aquilo que são os números diariamente apresentados”, diz o bastonário dos Médicos à CNN Portugal.

Miguel Guimarães diz aguardar uma resposta das autoridades. “Já questionei a Direção-Geral da Saúde sobre se os dados que constam no boletim diário refletem o número de doentes internados por outras causas mas que posteriormente testaram positivo à covid-19", sendo que Graça Freitas remeteu uma resposta “entre hoje e amanhã”, adiantou à CNN Miguel Guimarães, considerando ser “urgente” perceber se as tabelas relativas aos internamentos “refletem apenas os casos graves ou se também refletem doentes que foram internados por outros motivos”. Se este for o caso, diz, “muda radicalmente aquilo que são os números diariamente apresentados”. A resposta, diz, pode mudar a realidade que tem sido transmitida aos portugueses.

No documento é explicado que “considerada a atual situação epidemiológica associada à transmissibilidade da variante Ómicron e as suas características de severidade, o Ministério da Saúde promoveu o apuramento, junto dos hospitais, dos centros hospitalares e das unidades locais de saúde do Serviço Nacional de Saúde, através das Administrações Regionais de Saúde, da caracterização dos internamentos de doentes em camas/alas dedicadas à covid-19.” O objetivo da recolha é “perceber se se verifica a ocupação de camas afetas à covid-19 por doentes positivos para infeção pelo SARS-Cov-2 cuja admissão a internamento possa ter ocorrido por outras causa”.

Do apuramento que o Ministério da Saúde fez no dia 13 de janeiro sobre o total de internamentos em enfermaria e unidades de cuidados intensivos em camas afetas à covid-19, é relatado que 59% dos adultos e 46% é que tinham sido internadas por causa do vírus. 

Concretamente, em enfermaria só 57% dos adultos e 44% das crianças foram internados após uma infeção, de acordo com o relatório. Já em cuidados intensivos, o número de acamados por causa da covid sobe para 85%, sendo que foi verificado que o único caso pediátrico em tratamento nesta data corresponde a uma infeção anterior à entrada no hospital.

Já da recolha feita pelo Ministério da Saúde no dia 20 de janeiro, foi verificado que, do número total, só 55% dos adultos e 50% dos internamentos pediátricos ocorreram por causa de uma infeção por covid-19, sendo que nos cuidados intensivos, neste dia, o número de adultos acamados por causa direta da covid-19 foi de 80%. Também em UCI, neste dia estavam 33% dos casos de internamento pediátrico com origem na doença.

Já em enfermaria, no dia 20 de janeiro foi registado que 53% dos adultos e 51% dos internamentos pediátricos tiveram origem numa infeção por covid-19, não tendo testado positivo após a sua admissão hospitalar.

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