Porque Cristóvão Colombo não foi o herói sobre quem aprendemos na escola

CNN , Alicia Lee (artigo originalmente publicado em junho de 2020)
3 ago 2022, 08:00
Cristóvão Colombo

A 3 de agosto de 1492, Cristóvão Colombo partia de Palos de la Frontera, em Espanha, rumo à América. Para assinalar a data, recordamos outra visão da História

“Em 1492, Colombo navegou no oceano azul.”

Há muito que esta é a frase usada para apresentar Cristóvão Colombo aos alunos do ensino básico dos EUA.

Os alunos aprendem que foi Colombo quem descobriu as Américas, cruzando o Atlântico nos seus três navios: Niña, Pinta e Santa Maria. O explorador italiano é até celebrado em outubro, durante um feriado federal com o seu nome.

Mas o homem reconhecido por descobrir o “Novo Mundo” é há muito considerado uma figura controversa na história dos EUA pelo tratamento às comunidades indígenas que encontrou e pelo papel que teve na violenta colonização às custas das mesmas.

Dezenas de cidades e estados - como o Minnesota, o Alasca, o Vermont e o Oregon - já substituíram o Dia de Colombo pelo Dia dos Povos Indígenas.

Em resposta aos protestos e aos debates por todo o país em torno da desigualdade racial, os norte-americanos começaram a derrubar estátuas de Colombo para consciencializar para a crueldade usada por ele contra os povos indígenas.

Então, o que fez realmente Colombo e porque está a ser rotulado como um “tirano” em vez do herói em quem fomos ensinados a acreditar?

“Devemos questionar porque é que nós, enquanto norte- americanos, continuamos a celebrá-lo sem conhecer a verdadeira história do seu legado, e porque é que existe sequer um feriado”, disse à CNN em 2016 Leo Killsback, cidadão da Nação Cheyenne do Norte e professor assistente de Estudo Indígenas Americanos da Universidade do Arizona.

Ele não foi o primeiro a descobrir as Américas

Não há dúvida de que as viagens de Colombo tiveram um “impacto histórico inegável, desencadeando a grande era da exploração do Atlântico, o comércio e, eventualmente, a colonização pelos europeus”, segundo o historiador David M. Perry, que escreveu um artigo de opinião para a CNN sobre o Dia de Colombo, em 2015.

Mas Colombo não foi o primeiro a descobrir o Novo Mundo. Os povos indígenas já lá viviam há séculos quando ele chegou em 1492 e Leif Eriksson e os vikings já tinham pisado o continente cinco séculos antes.

Ele escravizou os nativos

Durante as suas viagens pelas ilhas das Caraíbas e pelas costas da América Central e do Sul, Colombo encontrou povos indígenas aos quais chamou “índios”.

Colombo e os seus homens escravizaram muitos desses nativos e trataram-nos com extrema violência e brutalidade, segundo o History.com.

Ao longo dos seus anos nas Américas, Colombo obrigou os nativos a trabalhar para assim obter lucros. Mais tarde, enviou milhares de “índios” Taino para serem vendidos em Espanha e muitos deles morreram durante a viagem. Os nativos que não foram vendidos como escravos foram obrigados a procurar ouro nas minas e a trabalhar nas plantações.

Enquanto foi governador do que hoje é a República Dominicana, Colombo matou muitos nativos em resposta à revolta dos mesmos, segundo o History.com. Para evitar mais rebeliões, os cadáveres eram desfilados pelas ruas.

Ele trouxe novas doenças

As sociedades indígenas das Américas “foram dizimadas pela exposição a doenças do Velho Mundo, desmoronando sob o peso das epidemias”, escreveu Perry no seu editorial da CNN.

A população Taino não estava imune a doenças como a varíola, o sarampo e a gripe, que foram levadas para a ilha de Hispaniola por Colombo e os seus homens. Em 1492, havia cerca de 250.000 indígenas em Hispaniola, mas em 1517, restavam apenas 14.000, segundo a Fundação de Pesquisa Médica do Oklahoma.

Alguns historiadores acreditam que o impacto dos colonos europeus e africanos no Novo Mundo pode ter matado até 90% das populações nativas e foi mais letal do que a Peste Negra na Europa medieval, segundo a FPMO.

E.U.A.

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