Jordan Neely gritou que tinha fome e morreu estrangulado no metro de Nova Iorque: "Assassinaram alguém que precisava de ajuda"

CNN Portugal , MCP
5 mai 2023, 15:54
Jordan Neely (Juan Vasquez)

Era conhecido por fazer imitações de Michael Jackson e tinha problemas de saúde mental. Quem o conhecia assegura: "era boa pessoa" e "não merecia o que lhe aconteceu"

Jordan Neely, um sem-abrigo de 30 anos, foi morto no metro de Nova Iorque, na tarde de segunda-feira, por um passageiro que o atirou ao chão e sufocou ao longo de 15 minutos, com a ajuda de mais dois homens. Antes, segundo as testemunhas no local, estaria a revelar um comportamento agressivo.

O incidente foi captado em vídeo e tem gerado o debate entre os nova-iorquinos sobre o grau de ameaça que Jordan representava para os passageiros, as políticas de Nova Iorque quanto aos sem-abrigo, racismo e saúde mental.

Como tudo aconteceu

A confusão instalou-se na linha F do metro de Nova Iorque. Jordan Neely, antigo dançarino de rua e que imitava Michael Jackson, revelava um comportamento agressivo, falando num tom mais alto. “Disse que não comeu, não bebeu, estava cansado e não se importava se fosse parar à prisão”, relatou o jornalista Juan Alberto Vasquez, que estava presente no momento, ao New York Post. “Despiu o casaco e atirou-o para o chão”.

Foi nesse instante que um jovem de 24 anos, veterano da Marinha, se lançou por trás de Neely, derrubou-o e estrangulou-o ao longo de 15 minutos, segundo o jornalista. 

O vídeo que Juan Vasquez gravou mostra os três minutos finais: Neely já no chão, sem força e com três homens a bloqueá-lo, enquanto algumas pessoas observam. Apesar dos esforços posteriores dos serviços de emergência, acabou por morrer no local.

O veterano foi levado sob custódia policial, mas saiu em liberdade e sem acusações.

"Assassinaram alguém que precisava de ajuda"

A testemunha, Juan Vasquez, garante que Neely “não atacou fisicamente ninguém antes de ser derrubado”. “Acho que, de certa forma, é bom que os cidadãos queiram intervir e ajudar, mas acho que há que usar a moderação”, refletiu.”Isto nunca teria acontecido se a polícia tivesse aparecido em cinco minutos”.

Esta quarta-feira, cerca de 30 pessoas reuniram-se para uma vigília em homenagem à vítima numa plataforma do metro, criticando tanto a atuação dos passageiros como a falta de ajuda para com a vítima.
 

“Foi um linchamento horrível – o assassinato de alguém que precisava de ajuda”, disse a estudante Shifa Rahman, que acredita que o episódio envolveu questões raciais. “Ele estava num ponto de desespero e um cidadão, por preconceito racial, agiu para suprimir isso” refere.

Para a ativista Alice O'Malley, o ex-fuzileiro naval tinha o dever de saber como travar alguém, se necessário, mas sem matar. “Ele estava fraco, disse que não tinha comido nem bebido. Estava perder o juízo. E tinha três homens sobre ele. Querem-me dizer que aqueles três homens não poderiam tê-lo contido até a próxima paragem? É Nova Iorque, mandavam-no sair do metro”, disse O'Malley.

O pai de Neely, Andre Zachery, em conversa com o Daily News, contou que a mãe de Jordan, Christie Neely, também morreu nas mãos de outra pessoa quando o seu filho tinha 14 anos. A mãe foi encontrada numa mala, na beira de uma estrada do Bronx, em 2007. Foi morta pelo seu parceiro, Shawn Southerland, que foi condenado em 2012 e sentenciado a 30 anos de prisão.

Foi a partir daí que os problemas surgiram. Para a tia materna, Carolyn Neely, o jovem mudou a partir da morte da mãe e a sua saúde mental degradou-se.

Ao Daily News, um dos vizinhos de Neely explicou como a representação do rei da pop ajudou o dançarino a lidar com os seus problemas mentais. “Ele sabia como se mover, como fazer o moonwalk. Sempre ficou feliz por fazer isso. Até fazia isso quando se preparava para ir trabalhar. Ele costumava ser fantástico”, partilha.

Como os mais próximos o viam

“Fantástico” “talentoso” “gentil”, que o diga o seu clube de fãs. O Michael Jackson das ruas de Nova Iorque acumulou seguidores nas ruas e na internet, que admiravam a sua aptidão para a dança, a ponto de criarem um grupo no Facebook para partilhar as suas coreografias.

“Eles estão a retratá-lo como alguém que ele não é”, disse um vizinho sobre as críticas negativas que viu em alguns meios de comunicação. “Ele não merecia o que aconteceu e realmente não merecia a maneira como o andam a retratar”.

Larry Malcolm Smith foi um amigo que conheceu Neely há uma década, enquanto os dois viviam num orfanato. Segundo ele, nessa altura, Neely chegava a dividir o dinheiro que ganhava com as danças na rua para ajudar outras crianças a comprar comida ou cortar o cabelo.

“Amo o meu sobrinho Jordan Neely, era um negro muito talentoso que adorava dançar. Performance era a praia dele”, escreveu Carolyn, numa angariação de fundos online para pagar o funeral.

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