"Está provado que há mais crime", disse Moedas. Mas o que os factos provam é que o crime em Lisboa regressou aos níveis da pré-pandemia

7 ago, 18:00
Carlos Moedas no Congresso do PSD (António Pedro Santos/Lusa)

Na análise do século XXI passou a haver um antes e um depois da pandemia. Quanto a este caso concreto do crime: o que cresceu depois da pandemia deixa os indicadores mais ou menos no mesmo sítio onde estavam antes de a covid ter mudado a vida do mundo (mas só mudou temporariamente, como até nesta área da criminalidade se constata)

Os níveis de criminalidade na área da Grande Lisboa subiram 20,8% entre 2020 e 2023, facto que leva o atual autarca de Lisboa a afirmar que está "muito preocupado, mas sem querer preocupar as pessoas". "Está provado que há mais crime", afirmou ainda Carlos Moedas numa entrevista ao DN. No entanto, uma outra análise também conclui isto: a criminalidade na capital está a regressar aos níveis registados antes da pandemia.

Mas vamos por partes: nessa mesma entrevista, o autarca sublinhou o que diz ser o aumento da insegurança na cidade, mas sem apresentar números ou citar fontes que sustentem essas afirmações. Contactada pela CNN Portugal, fonte oficial da Câmara de Lisboa esclarece que as frases do autarca têm por base o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) referente ao ano de 2023.

O relatório, apresentado no passado mês de maio, foi elaborado pelo Sistema de Segurança Interna - com recurso a informações fornecidas por todas as forças de segurança em Portugal - e foi claro ao concluir que em 2023, em Lisboa assim como no país, houve efetivamente mais crime em comparação a 2022.

 

Segundo o RASI, a criminalidade geral no distrito de Lisboa aumentou 6,6% em 2023, tendo os órgãos de Polícia Criminal (GNR, PSP, PJ, SEF, Polícia Marítima, ASAE, Autoridade Tributária e Polícia Judiciária Militar) recebido 88.369 queixas, mais 5.501 participações que no ano anterior.

Também a criminalidade violenta e grave - onde se incluem crimes como homicídio, rapto, violação, roubo, entre outros -, aumentou 1,2%, registando-se 5.208 crimes, mais 62 do que em 2022.

No entanto, alargando a análise ao período pré-pandemia, é possível verificar dois factos: uma redução, no distrito de Lisboa, de 17,2% em 2020 dos índices de criminalidade geral e de 18,7% dos indices de criminalidade violenta e grave; e uma aproximação gradual, a partir de 2021, aos valores pré-pandemia.

 

Carlos Moedas, na entrevista ao DN, reforçou a necessidade de mais policiamento para Lisboa, mostrando-se contra o fecho de esquadras e defendendo a criação de mais duas ou, pelo menos, "um sítio onde a polícia possa estar", avançando que estão já no papel dois espaços, um na Praça da Alegria e outro na Mouraria.

O presidente da autarquia recorre aos dados do RASI, sabe-se agora, como argumento para sublinhar a necessidade de mais polícias na rua, lamentando que apesar de já ter pedido "mais 200 polícias municipais" só recebeu 25.

Leitura diferente tem a Polícia de Segurança Pública, que emitiu, no final de julho, uma nota à imprensa negando o aumento da criminalidade em zonas específicas da cidade de Lisboa e do Porto.

Esta justificação, por parte da PSP, surge em resposta às preocupações que têm sido tornadas públicas tanto por Carlos Moedas como pelo presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, relativamente ao sentimento de insegurança em zonas críticas das cidades, nomeadamente na zona do Ramalde, no Porto e na zona de Santa Maria Maior, em Lisboa.

O porta-voz da PSP, Sérgio Soares, explica à CNN que, após análise interna de dados provisórios relativos a 2024, disponibilizados por diversas forças de segurança, aquele órgão policial chegou à conclusão de que - comparativamente a 2023 -, na freguesia de Ramalde existiu, "de facto, um aumento da criminalidade geral", mas "a criminalidade violenta e grave diminuiu" e que na freguesia de Santa Maria Maior, em Lisboa, "tanto a criminalidade geral como a criminalidade violenta e grave diminuíram".

Sérgio Soares reforçou, no entanto, que estes dados são de caráter provisório e dizem apenas respeitos às duas freguesias anteriormente mencionadas, acrescentando que "os dados oficiais serão divulgados no RASI de 2024" que, de acordo com a Lei de Segurança Interna, tem de ser apresentado até dia 31 de março do ano seguinte ao qual o mesmo se reporta.

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