Sozinhas ou em grupo. Há cada vez mais crianças com menos de 10 anos a verem pornografia "violenta". O fenómeno agrava-se quando os jovens têm acesso livre a dispositivos com acesso à Internet. Os impactos do contacto com pornografia numa idade tão precoce podem arruinar a vida futura dos jovens, alertam os especialistas
Isabel prefere não usar o nome verdadeiro “para não expor as filhas”. Tem 37 anos, vive na pacatez do interior, em Manteigas, e dedica o dia à casa e às duas filhas de 13 e seis anos.
É uma mãe atenta e socorre-se das ferramentas digitais disponíveis para controlar o uso que a filha mais velha, Mariana, dá ao telemóvel. “Sempre tive o Family Link. Até para saber o paradeiro dela, em caso de alguma emergência. Iam-me aparecendo notificações de excesso de tempo em determinadas aplicações e alertas da própria aplicação se não queria reforçar os bloqueios. Pedi-lhe o telemóvel e fui ver o histórico”, começa por contar.
Isabel nem queria acreditar no que viu num aparelho usado por uma criança que tinha, na altura, apenas 12 anos: “Deparei-me com pornografia. Hardcore. E com pessoas que ela não conhecia a pedirem-lhe fotografias e ela a receber de volta fotografias de órgãos genitais masculinos”.
Isabel diz que ficou sem chão. Sabia que castigar e proibir não seriam a solução, mas não sabia o que fazer. Pediu ajuda ao diretor de turma, “que era espetacular e com quem ela tinha uma relação ótima”. “Depois, sentei-me com ela a conversar. Falámos sobre pornografia, sobre o que ela sentia quando via pornografia. Fiquei assustada, porque percebi que ela achava que o sexo era mesmo assim. Ela achava que era real e que era assim que ela tinha de aprender a fazer as coisas. Expliquei-lhe que nada daquilo era verdade, que a realidade estava muito longe de ser assim”, conta.
Mariana tem um interesse especial por carros e entrava ou era adicionada a vários grupos de WhatsApp supostamente ligados ao tema. Mas nem todos os frequentadores dessas comunidades tinham as melhores intenções. “As tentativas de contactos continuaram. Era bombardeada com mensagens. Tive de lhe explicar que o facto de estar a fazer um controlo mais apertado não tinha nada a ver com ser mãe galinha. Comecei a mostrar-lhe notícias de miúdas raptadas, violadas, etc., para ela perceber que não era falta de confiança nela nem era eu a ser mãe galinha. Os perigos são reais”, acrescenta.
O encontro travado à última hora
A partilha de pornografia com uma criança de 12 anos passou a algo ainda mais perigoso. “Um dia, recebi uma notificação no telemóvel de que ela tinha partilhado a localização com uma pessoa que não conhecia. Adiantei-me e fui eu ter com ela. Ela estava convencida que tinha marcado um encontro com um rapaz de 14 anos que era da Guarda. Tive de lhe explicar por A mais B que era impossível essa pessoa ser quem dizia ser. Como é que um rapaz de 14 anos vinha ter com ela àquele local, a uma hora em que já não havia autocarros da Guarda para Manteigas? Tive de a fazer ver que só podia ser um adulto a fazer-se passar por um adolescente”, recorda.
Mariana parece ter aprendido a lição. Agora, não atende chamadas nem responde a mensagens de números desconhecidos e “automaticamente” bloqueia os contactos que não conhece. “Ontem, por acaso, fui eu que abri… era um vídeo de um homem a masturbar-se. Chamei-a e ela disse: ‘mãe, é mais um’ e mostrou-me uma lista de uns 10 números que ela própria tinha bloqueado nos últimos dias. É assustador”, confessa.
Neste processo, Isabel percebeu que Mariana não era a única pré-adolescente de uma turma de 12 alunos que via pornografia “hardcore”. A filha contou-lhe que o fenómeno era generalizado que quase todos os colegas acediam a este tipo de conteúdos. “Oh mãe, até fazem concursos de quem geme mais alto, a fingir orgasmos”, contou-lhe Mariana na altura.
“Fiquei incrédula, porque, supostamente, são aquelas meninas ‘santinhas’, que os pais nem sonham sequer que as filhas fazem coisas dessas”, diz.
Contacto com a pornografia aos sete anos
Isabel tem outra filha, de seis anos. Com ela, revela que ainda não fala de sexualidade, mas vai “alertando”. Acho que os cuidados passam por falar cada vez mais cedo. Até porque é cada vez mais difícil privá-las do acesso às tecnologias. A mais velha já tem manuais digitais. "Eu até lhe limitava os tempos de ecrã, mas agora não posso, porque se ela tem TPCs e tem de os fazer no computador”, lamenta.
Foi com pouco mais do que a idade da filha mais nova de Isabel que o filho de Helena teve os primeiros contactos com a pornografia. Artur (nome fictício) tinha apenas sete anos. “Ele não tinha telemóvel. Só tinha sete anos, nem tinha idade para isso. Às vezes, precisava de fazer um trabalho ou outro da escola e usava o meu computador. De vez em quando, apareciam anúncios com cariz mais erótico e devem ter-lhe suscitado curiosidade. Eu também tinha arranjado um namorado novo e isso também deve ter contribuído para essa curiosidade… ver a mãe a dar beijinhos ao namorado. Uma noite, achei estranho o silêncio dele. Ele tinha-me pedido para ir jogar no meu computador e eu tinha deixado. Subi as escadas silenciosamente e quando fui a ver, ele estava a ver essas coisas”, conta Helena, 41 anos, professora.
“Fechei o computador e disse-lhe que aquelas coisas eram para meninos maiores, que não eram para idade dele. Ele disse que já tinha visto outras duas vezes, no meu computador e no do pai. Fiquei um bocadinho chocada. Nem sei descrever muito bem o estado em que fiquei e o que senti. Não tentei castigar, nem gritei com ele nem nada, mas conversei com ele”, recorda.
Artur tem agora 11 anos e frequenta o 6.º ano. A mãe não tem dúvidas de que o filho agora vê pornografia, mas não consegue prová-lo. “Acredito que ele agora veja. No telemóvel dele não, porque tem controlo parental, mas deve ver no telemóvel dos colegas. Ainda ontem me apercebi que eles devem fazer isso, porque ele veio com uma linguagem a contar coisas, que não é habitual nele”, diz.
Por isso, Helena procura conversar com o filho quando a oportunidade surge: “Sinto-me preocupada que ele não perceba o que é o sexo, que faça comparações e que se sexualize cedo demais. E acho-o ainda muito novo para isso”.
Cinco momentos chave da conversa
Alfredo Leite, licenciado em Psicologia e professor universitário, pai de três filhos, a mais nova com dez anos, fundador do centro de desenvolvimento de competências Mundo Brilhante, faz dezenas de palestras em escolas, para pais, professores e alunos. De acordo com o especialista, Isabel e Helena, fizeram tudo certo.
Segundo Alfredo Leite, se descobrir que o seu filho, criança ou pré-adolescente, vê pornografia, “não grite, não humilhe, nem entre em pânico”. Depois, procure conversar com a criança e o especialista deixa cinco momentos chave pelos quais deve passar essa conversa:
- Respire e normalize a conversa: “Percebo que estejas curioso. Também fui. Mas há coisas que não deviam aparecer tão cedo na nossa vida.”
- Pergunte com calma: “Como chegaste a isso?”, “Foi sozinho ou com amigos?” “Sentiste vergonha?” — Faça perguntas para compreender, não para acusar.
- Explique-lhe o que viu: Ajude-o a perceber que aquilo é ficção, que não mostra relações reais, que há violência, que aquilo não é amor nem prazer saudável. Traduza o vídeo em verdade.
- Instale filtros e supervisão nos aparelhos do seu filho, com o conhecimento dele: Para o proteger. Diga-lhe que é como fechar a porta de casa à noite. Não é castigo. É cuidado.
- Fale de prazer e afeto com verdade: Mostre que falar de corpo, desejo e limites é possível… e importante. A vergonha desaparece quando a conversa é verdadeira.
A psicóloga Marta Fialho alinha pelo mesmo diapasão e sublinha que “é importante que os pais promovam um diálogo aberto sobre sexualidade, facultando informações adequadas à idade da criança e que ajudem a desenvolver uma compreensão saudável e realista das relações e da sexualidade”.
“A sexualidade é um caminho bonito e natural, que deve assentar numa intimidade bonita, sendo a base a troca dos afetos e o amor. Visualizar sexualidade hardcore é facultar uma mensagem enviesada, destrutiva e pouco saudável do que deve ser uma relação sexual”, acrescenta Marta Fialho.
Os impactos do contacto com a pornografia tão cedo
Os especialistas não têm dúvidas de que o contacto com a pornografia em tão tenra idade tem impactos no presente, mas também na vida futura da criança. Manuel Ferreira de Magalhães, médico pediatra no Centro Materno Infantil do Porto e também no Hospital dos Lusíadas, sublinha que os impactos podem ser do foro emocional, psicológico e até sexual. “Tudo o que seja acelerar o comportamento sexual da criança, seja por danças, seja por coisas que ouvem, seja por conteúdo explícito que veem, vai fazer com que esteja exposta a algo que não consegue compreender e com que normalize comportamentos que não devem ser normalizados. Até porque a pornografia que está disponível é, muitas vezes e cada vez mais, uma pornografia violenta, que não corresponde à realidade. Vai fazer com que aquela criança tenha uma aprendizagem sexual que não é verdadeira, com riscos para futuros, para quando iniciar a sua prática sexual”, lembra o pediatra.
Manuel Magalhães recorda o caso que já lhe passou pelo consultório e que prova que os impactos psicológicos imediatos são evidentes e não podem ser descurados: “A criança vinha absolutamente alterada, porque não conseguiu compreender aquilo e achou muito agressivo. Estamos a falar de uma criança de oito anos e foi bastante problemático a resolver aquela situação”.
O médico diz mesmo que há estudos que apontam para que as crianças que foram expostas a conteúdos sexuais explícito e violentos antes do momento certo (“estamos a falar sempre antes do momento certo, porque, na verdade, na adolescência isto é normal e é saudável até desde com limites e que não seja um vício”) são “crianças que têm mais tendência à depressão e que têm menos ligação, menos vínculo com os próprios pais”. “São, portanto, situações que estão longe de ser as ideais para uma criança crescer em termos emocionais, com impacto para o futuro na sua saúde mental”, reforça.
A isto tudo, Alfredo Leite acrescenta impactos “na saúde física”: “Muitos jovens entram em padrões de masturbação compulsiva, dificuldades de sono, falta de energia, alterações de humor e vício digital”.
A psicóloga Marta Fialho acrescenta que “um dos problemas identificados é que, quanto maior exposição a conteúdos pornográficos, maior o risco de levar a uma compulsão sexual inadequada, em forma de masturbação e/ou com um parceiro(a) sexual”.
Estudo feito por jovens sobre os jovens
O fenómeno preocupa os próprios adolescente. Pelo menos os mais velhos. No Agrupamento de Escolas Professor Armando de Lucena, cinco alunas do 12º ano levaram a cabo, no âmbito da disciplina de sociologia, um inquérito sobre a sexualidade na comunidade escolar. O estudo, realizado por Alina Stovpet, Iris Godinho, Maria Ferreira, Madalena Craveiro e Micaela Oliveira, coordenadas pelo professor Jorge Rocha, incluiu várias perguntas sobre o acesso e o consumo de pornografia.
Dos 192 alunos inquiridos, 28,6% assumem que já consumiram deliberadamente conteúdos pornográficos. “A elevada taxa de não resposta (14,1%) - 27 alunos - também é indicativa de uma certa relutância ou desconforto ao abordar o assunto publicamente”, notam.
No mesmo inquérito, as autoras concluem que quase 60% dos alunos inquiridos acreditam que o consumo de pornografia tem impacto nas suas ideias sobre relações sexuais e mais de 69% acreditam que o consumo deste tipo de conteúdos influencia as suas expectativas sobre a sua própria vida sexual.
Os “tropeções” e o efeito grupo
Mas o que leva crianças de 9 ou 10 anos a procurar conteúdos pornográficos? Alfredo Leite é perentório na resposta: “Na maioria das vezes, não procuram… tropeçam”. “Escrevem mal uma palavra no Google, clicam num link no WhatsApp da turma, ou ouvem colegas a falar. A curiosidade é natural e saudável. O problema é quando encontram um vídeo violento, frio, desumanizante. Outros procuram ativamente, mas não bem por desejo, procuram validação, excitação rápida, ou fuga emocional…E vão parar à pornografia”, acrescenta o psicólogo.
Já Marta Fialho destaca fatores como “curiosidade natural” ou o “acesso fácil à tecnologia”, mas vai mais longe: “A ausência de educação sexual nas escolas ou dentro do núcleo familiar, faz com que a criança procure respostas para as suas dúvidas noutros sítios”. “A instabilidade emocional de certos jovens relacionados com a autoestima, relação com o corpo ou em saber lidar com o sexo oposto, levam a criança a visualizar pornografia numa tentativa de aprender formas de agradar o outro e/ou de uma boa performance sexual futura. Situações de isolamento, tédio e humor depressivo, podem aumentar a procura de prazer imediato para aliviar o vazio sentido e promover bem-estar”, acrescenta ainda a psicóloga.
Muitas destas crianças vêm pornografia em grupo e não de uma forma isolada. O que leva Alfredo Leite a concluir que “ver pornografia em grupo, entre os 9 e os 12 anos, é menos sobre sexo e mais sobre identidade… É um ritual silencioso: ‘se vires isto, és dos nossos’”. “Querem pertencer, parecer crescidos, provar coragem. Mas ao fazerem isso, saltam etapas internas: não compreendem o que veem, mas fingem que sim. Riem, copiam, imitam. E o cérebro pode registar como se fosse normal”, alerta o especialista, acrescentado que “a pornografia pode estar a substituir o espaço do afeto, do toque, do consentimento, da espera”.
Mas, afinal quando é o momento certo?
Ver pornografia numa idade tão precoce pode trazer problemas, como alertam os especialistas. Mas há uma idade em que a curiosidade é natural e até saudável. “Esta procura é normal quando se inicia puberdade e existe um pico hormonal. Aí sim, existe maturação dos órgãos sexuais, existe vontade e o cérebro começa-se a preparar-se para receber isto. Ainda assim, é importante pensar-se na educação sexual nas escolas, é importante os pais anteciparem isto e conversarem com os filhos”, sublinha o pediatra Manuel Ferreira de Magalhães.
E mesmo no momento certo, há o limite do saudável, como ressalva o pediatra: “não pode aquele adolescente estar todos os dias com vontade de ver pornografia ou de se masturbar. A masturbação é saudável, é exploração do corpo. Mas deixa de ser saudável quando se torna uma dependência”.
Alfredo Leite concorda que “ver pornografia aos 15 ou 16 anos não é, por si só, um problema grave”. Mas é preciso contexto. Não é preocupante “se o adolescente tem relações afetivas reais, fala sobre emoções, sabe distinguir fantasia de realidade e não mostra sinais de compulsão ou isolamento”.
“Mas se o jovem usa pornografia todos os dias, evita relações reais, mostra desconforto em falar do tema e está cada vez mais fechado ou agressivo, então é hora de intervir com apoio”, acrescenta Alfredo Leite.
Já a psicóloga Marta Fialho considera que “não existe uma idade certa para o despertar da curiosidade sexual”. “Depende do nível de desenvolvimento sexual do jovem, da sua estabilidade emocional e maturidade”, sublinha.
“A pornografia já não está escondida atrás de um balcão de um quiosque”
Tito de Morais e Cristiane Miranda, fundadores da plataforma Agarrados à Net, garantem que nem todas as ferramentas digitais de proteção parental juntas podem impedir uma criança de ver conteúdos pornográficos.
“Há controlos parentais que podem impedir que os nossos filhos vejam nos telemóveis deles. Mas vão ver no telemóvel dos amigos. É preciso estar consciente que a internet tem coisas boas, mas também têm coisas que nem os adultos deviam ver, quanto mais as crianças”, diz Cristiane Miranda.
Os dois especialistas lembram que o diálogo entre pais e filhos é a melhor arma para os malefícios que a internet por esconder e nunca é cedo demais para começar a falar com as crianças. “A partir do momento em que os pais põem um dispositivo com internet na mão dos filhos, têm de estar preparados para falar de tudo com eles. ‘Ahhh não vamos falar de pornografia por que é abrir uma caixinha de pandora’. A caixinha de pandora está aberta e foi aberta pelas redes sociais”, resume Cristiane Miranda.
Tito de Morais admite que a curiosidade dos adolescentes sempre os levou a aceder a conteúdos pornográficos. “No meu tempo comprávamos as revistas, que escondíamos debaixo do colchão. E, às vezes, quando tentava comprar, o senhor do quiosque dizia ‘isto não é para a tua idade, rapaz!’ e íamos embora de mãos a abanar. Hoje, a pornografia não está escondida atrás de um balcão de um quiosque. Hoje, para se aceder a pornografia, não se precisa de pagar nada, não se precisa de ter 18 anos. Está acessível a qualquer um”, lembra.
“Além disso, a pornografia de hoje é extremamente violenta. Hoje, eles vêm vídeos com animais, vídeos que promovem o incesto, que promovem a pornografia de menores”, acrescenta Cristiane Miranda.
“O monstro é o silêncio dos adultos”
Também para o psicólogo Alfredo Leite o diálogo é a única chave para a proteção das crianças. “A pornografia não é o monstro. O monstro é o silêncio adulto, a ausência de diálogo, a ideia de que ‘isso passa’. E não passa. Molda”, alerta.
Alfredo Leite deixa alguns conselhos para os pais:
- Fale do corpo e do prazer antes da internet o fazer.
- Use filtros nos dispositivos e ensine a ética do digital.
- Crie um pacto familiar sobre o que se vê e se partilha.
- Valorize as relações reais e o toque com respeito.
- Esteja presente, escute sem julgar, e diga: “podes sempre falar comigo”.
“A boa educação sexual começa quando alguém diz: ‘O que viste não é o fim. É o começo de uma conversa que eu quero ter contigo’”, resume o especialista.
Os responsáveis pelo projeto Agarrados à Net garantem que não querem entrar por “abordagens de culpabilização dos pais”, mas consideram “os pais ainda estão muito a dormir”: “Quem está a educar os nossos jovens é a internet e as redes sociais”.
Tito de Morais lembra que há países onde a legislação para proteger as crianças de conteúdos potencialmente perigosos disponíveis na Internet está muito mais avançada do que em Portugal. “É o caso do Reino Unido ou da Austrália, por exemplo. A União Europeia está agora a trabalhar para processar quatro sites de cariz pornográfico por falta de medidas para impedir as crianças de acederem. Mas estas empresas adotam as multas que lhes possam ser impostas como custos operacionais. Enquanto não começarmos a meter na cadeia os responsáveis pelo acesso destes conteúdos por menores, as coisas não vão começar a mudar”, diz.
“Nós até podemos obrigar os sites a terem este tipo de regulamentação, mas isso não vai impedir que enviem aos nossos filhos conteúdos pornográficos”, acrescenta Cristiane Miranda.
Os números preocupantes
Em Portugal, há poucos estudos sobre o consumo de pornografia pelos mais jovens. Mas, lá fora, há anos que o fenómeno é alvo dos investigadores. Cristiane Miranda lembra que “um estudo recente feito no Reino Unido” dá conta de “crianças com quatro anos expostas a conteúdos pornográficos”.
O estudo Adolescentes e Pornografia: uma Revisão de 20 Anos de Pesquisa, publicado em 2016 no The Journal of Sex Research, já tem quase 10 anos, mas ainda vem corroborar o que os especialistas ouvidos para este artigo sublinham. O perfil do adolescente que utiliza pornografia com mais frequência é “do sexo masculino, (…) e têm relações familiares fracas ou problemáticas”. “O consumo de pornografia estava associado a atitudes sexuais mais permissivas e tendia a estar ligado a crenças sexuais estereotipadas de género mais fortes. Também parece estar relacionado com a ocorrência de relações sexuais, maior experiência com comportamentos sexuais casuais e mais agressão sexual, tanto em termos de perpetração como de vitimização”, acrescenta o artigo do The Journal of Sex Research.
No ano passado, a Academia Americana de Pediatria (AAP), publicou um alerta sobre os malefícios do consumo de pornografia em crianças de tenra idade. De acordo com a AAP, a idade media com que os jovens são expostos a conteúdos pornográficos é de 12 anos. Setenta e três por cento dos adolescentes admitem já ter consumido pornografia. Cinquenta e dois por cento reportam terem assistido a conteúdos pornográficos violentos e 58% dos adolescentes que admitem ter tido contacto com pornografia online, dizem que foi “por acidente”.
O site dos Serviços de Saúde de Alberta, no Canadá, publicou alguns factos sobre o consumo de pornografia por menores. O site cita um estudo canadiano feito junto de 470 adolescentes, que dá conta de que 98% deles foram expostos a pornografia. A idade media é 12 anos, mas um terço dessas crianças tiveram contacto com pornografia com 10 anos ou menos.