Viu estas crianças? São mais de seis mil e estão neste momento desaparecidas

25 mai 2023, 07:01
Em memória de Etan Patz, desaparecido em 1979 (Emmanuel Dunand/AFP/GettyImages)

Milhares de crianças desaparecem todos os anos, em todo o mundo. A grande maioria regressa a casa sã e salva. Outras continuam perdidas para sempre. Há histórias, que por diferentes motivos, se tornaram únicas. Como a de Etan, o rapaz de seis anos de quem se perdeu o rasto no primeiro dia em que os pais o deixaram ir sozinho para a escola

Os dados da International Centre for Missing & Exploited Children (Centro Internacional de Crianças Desaparecidas e Exploradas) revelam milhares de desaparecimentos todos os anos. A maioria das situações acaba por ser resolvida e ter um final feliz, mas outras não. São vítimas de crimes ou crianças a quem se perdeu o rasto.

A organização tem uma lista de crianças desaparecidas, e apela a que se veja as imagens para  ajudar a encontrá-las. São 6068 menores de quem se perdeu o rasto. Umas desapareceram este ano, mas outras são procuradas desde 1953. Ligado a Portugal apenas aparece o nome de Madeleine McCann.

Estes mais de seis mil casos são aqueles em que nunca se desvendou o paradeiro do menor, sendo que o número de crianças que desaparecem em todo o mundo e depois são encontradas é muito maior.

Em 2022, por exemplo, foram dadas como desaparecidas mais de 30 mil menores no Canadá e mais de 26 mil na Coreia do Sul. Em 2021, na França, eram mais de 40 mil e na Alemanha, também em 2021, foram quase 84 mil. No mesmo ano, nos Estados Unidos desapareceram 359 mil menores. 

E há histórias que por diferentes motivos se tornaram únicas. Outras passaram fronteiras e uniram o mundo em ondas de choque. Fosse pela incerteza do que aconteceu ou pelo final feliz.

Etan Patz

Etan Patz desapareceu a 25 de maio de 1979. Tinha seis anos e vivia em Nova Iorque, no bairro de Soho. Aquele era o primeiro dia que os pais autorizavam Etan a ir sozinho para a escola. Devia ter apanhado o autocarro, mas nunca mais foi visto. Nem o seu corpo encontrado.

Em 1983, o então Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, decidiu dedicar este dia – 25 de maio -– a todas as crianças desaparecidas. Um ano depois, o dia ganha dimensão internacional. Em Portugal foi assinalado pela primeira vez em 2004 por iniciativa do Instituto de Apoio à Criança (IAC).

Foi o rosto de Etan o primeiro a aparecer em milhões de pacotes de leite em 1984 numa campanha inédita levada a cabo pelo Conselho Nacional de Segurança Infantil. Apesar de não existirem certezas do seu destino, em 2017, mesmo sem o corpo do menor ter sido encontrado, um homem acabou condenado em tribunal pela sua morte: Pedro Hernandez.

Depois de um primeiro julgamento anulado por falta de acordo entre o júri, Pedro Hernandez, de 56 anos na altura, acabou condenado. Não foi uma decisão pacífica entre os membros do júri porque não havia provas físicas que ligassem ambos, mas a confissão de ser responsável pela morte do menino, gravada em vídeo, terá sido determinante.

No vídeo descrevia que tinha levado Etan para a cave da loja onde trabalhava, perto da casa do menor e da paragem de autocarro, e que o tinha estrangulado. Depois teria colocado Etan num saco de plástico, e em seguida numa caixa que colocou, depois, no lixo. Convencera Etan a ir com ele, na altura com 18 anos, com a oferta de uma bebida.

Foi o cunhado do próprio que o denunciou Pedro Hernandez em 2012. Primeiro aos detetives e depois a um procurador. A mesma confissão feita duas vezes, ambas registadas em vídeo.

A partir daquele dia, o mundo ficou em alerta e muitos pais passaram a proteger mais os filhos. Até as autoridades mudaram a sua forma de encarar estes casos e de os investigar. Nada voltaria a ser igual.

Elisabeth Fritzl

Elisabeth Fritzl tinha 18 anos quando desapareceu em Amstetten, na Áustria. Foi a 28 de agosto de 1984. O pai, Josef Fritzl, fechou-a numa cave junto à casa onde residiam. A mãe apresentou uma queixa por desaparecimento junto das autoridades, que durante semanas procuraram a jovem. Mas, obrigada pelo pai, escreveu uma carta a dizer que tinha fugido de casa.

Durante 24 anos esteve presa naquela cave e teve sete filhos do próprio pai. Um dos bebés morreu pouco tempo depois de nascer. Três crianças ficaram com a mãe na cave e outras três, Josef Fritzl disse à mulher que tinham sido deixadas à porta de casa pela filha porque não podia cuidar delas. 

Uma das crianças que estava na cave, que já tinha 19 anos e nunca tinha visto a luz do dia ficou gravemente doente em 2008. Elisabeth conseguiu convencer o pai a chamar uma ambulância. É então que médicos e autoridades acabam por desvendar o pesadelo vivido por Elisabeth. Foi violada pelo pai mais de três mil vezes. Um ano depois, em 2009, Josef Fritzl foi condenado a prisão perpétua.

Elisabeth vive com os filhos em local desconhecido e nunca deu uma entrevista sobre o seu passado.

Natascha Kampusch

Tinha 10 anos quando foi raptada no caminho para a escola, em 1998, por Wolfgang Priklopil. O desaparecimento de Natascha Kampusch foi um dos casos que se tornou conhecido em todo o mundo, mas só quando conseguiu fugir do cativeiro onde viveu oito longos anos.

Foi mantida fechada, numa cela, sem janelas, por baixo de uma garagem na cidade de Viena, na Áustria. Era agredida e abusada sexualmente, consoante a vontade do raptor.

Em agosto de 2006, estava no jardim da casa a limpar o carro de Wolfgang Priklopil. Ao ver que este estava distraído ao telefone, decidiu fugir e pedir ajuda a uma vizinha. Pouco tempo depois, o raptor suicidou-se. O regresso à vida normal ainda é um caminho. Escreveu dois livros e um deles transformou-se em filme.

Uma história de sobrevivência, que teve um final feliz. E mesmo que seja estranho para alguns, hoje é dona da casa onde esteve “presa” toda a adolescência.

Ben Needham

Ben Needham tinha 21 meses quando desapareceu na ilha de Kos na Grécia, a 24 de julho de 1991. Passaram décadas e a mãe ainda não desistiu de o procurar. Estava a brincar no jardim em frente à casa dos avós e nunca mais foi visto.

A polícia acredita que ele morreu num acidente envolvendo maquinaria pesada e que o responsável escondeu o corpo. 

A mãe prefere acreditar que ele ainda está vivo, porque não há provas da morte da criança. A quinta onde residiam os avós estava a ser renovada na época. O facto de as buscas não terem encontrado provas de um acidente não significa que este não tenha acontecido, alegaram as autoridades.

Após o desaparecimento e depois de semanas de buscas, a primeira hipótese foi a tese de rapto. Anos mais tarde, em 2012, a polícia começou a investigar a possibilidade de ter sido um acidente e de o corpo ter sido escondido. Foram feitas novas buscas, que envolveram escavações, mas nada foi encontrado. Regressaram em 2016 e, com mais escavações, encontraram um carrinho de brincar amarelo, que estaria com o menino na altura que desapareceu. Mas nada mais.

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