Crédito à habitação: Portugal é exceção europeia na maturidade e no tipo de taxa. Porquê?

17 jul 2022, 12:00
Imobiliário em Portugal (Getty Images)

A resposta é clara: o baixo nível de rendimentos leva as famílias a procurar a menor prestação possível. E há duas formas de o conseguir: estendendo o empréstimo e escolhendo a taxa variável

Na Suíça, os créditos à habitação tendem a durar entre 15 a 20 anos. Em Inglaterra, o prazo médio está nos 25 anos. Na Alemanha, estendem-se entre os 25 e os 30 anos. E em Portugal?

Quase metade (42%) dos portugueses acabam por ter “maturidade compreendida entre os 36 e os 40 anos”, de acordo com dados do portal ComparaJá.pt. Portugal é, aliás, um dos poucos países que permite chegar aos 40 anos de duração neste tipo de empréstimo.

E há uma explicação simples para isto: a carteira apertada das famílias, que faz também com que os bancos levem mais tempo na hora de avaliar os pedidos, para terem a certeza de que poderão cobrar o que é devido.

“Tendo em conta que em Portugal o nível de vida é relativamente baixo, é possível perceber que as prestações mensais do crédito habitação têm de ser também mais reduzidas”, atesta João Melo, diretor de crédito habitação do ComparaJá.pt

Como pode o barato sair caro?

E isto pode sair mais caro às famílias. Como? Para permitir prestações mais baixas, tende-se a estender os prazos. Ou seja, será necessário pagar juros durante mais tempo. No fecho de contas, o empréstimo fica mais caro.

Para responder com o “frágil nível económico dos portugueses”, segundo João Melo, as famílias optam também por outra estratégia: a taxa variável, ao contrário do que acontece na maioria dos países europeus, onde a taxa fixa é a preferida.

Deste modo, os portugueses preferem ficar mais “sujeitos às oscilações do mercado” a terem de pagar mais (mas sempre o mesmo) ao final do mês. “Optando pela taxa fixa, o valor seria, à partida, mais elevado mas os portugueses estariam mais protegidos”, insiste o especialista. Por agora, a taxa variável continua a compensar, mas o cenário de subida dos juros poderá alterar a situação num futuro próximo.

Outras consequências

Com este estender da maturidade dos empréstimos, o portal ComparaJá.pt antecipa que oito em cada 10 portugueses que contraíram crédito á habitação estarão a receber a reforma e a pagar a casa ao mesmo tempo. Esta é aliás uma preocupação do Banco de Portugal, tendo em conta a quebra de rendimentos nesta fase da vida.

Esta opção de estender o crédito acaba por trazer efeitos para a estabilidade do próprio sistema financeiro, uma vez que, diz João Melo, o dinheiro emprestado pela banca nacional para a compra de um imóvel pode pertencer ao Banco Central Europeu. Isto é, se os bancos não recebem dos clientes, também não poderão amortizar tão rapidamente o que pediram emprestado ao regulador comunitário.

Em abril, o Banco de Portugal apertou as regras para o crédito à habitação, permitindo que o prazo máximo de 40 anos de empréstimo só seja possível para clientes abaixo dos 30 anos. Segundo dados do ComparaJá.pt, apenas uma em quatro pessoas avança com essa obrigação antes dos 30 anos.

Economia

Mais Economia

Mais Lidas

Patrocinados