Primeiro a má notícia: o Credit Suisse pode "transformar-se rapidamente num problema de todos". Agora a boa: o turbilhão em curso até pode beneficiar as famílias

15 mar 2023, 17:17
Edifício do banco Credit Suisse em Basileia, na Suiça. 25 outubro 2022. Foto: Fabrice Coffrini/AFP via Getty Images

Perdas no sector bancário têm-se alastrado a quase todos os bancos europeus mas nenhum banco está a sofrer tanto quanto o Credit Suisse. Especialistas admitem o risco de contágio, mas sublinham que a crise pode ter um efeito colateral inesperadamente positivo para as famílias

A queda estrondosa do Silicon Valley Bank enviou ondas de choque por todo o sistema bancário mundial e na Europa a queda de confiança fez-se sentir com força no Credit Suisse, uma das maiores instituições financeiras do mundo. Os especialistas acreditam que o risco de contágio para outros bancos é uma possibilidade real porque o sector vive da confiança, mas sublinham que, no meio do turbilhão, pode existir “uma boa notícia para as famílias”.

“A interligação na banca é muito grande, pelo que o problema de um pode transformar-se rapidamente num problema de todos, uma vez que o sistema, como tudo na vida, vive da confiança. O sector financeiro é mais específico, uma vez que é fácil transferir montantes elevados de dinheiro em segundos, pelo que qualquer falta de confiança pode ter um efeito catastrófico”, explica o CEO da Optimize, Pedro Lino.

E nenhuma notícia abalou tanto a confiança dos investidores no Credit Suisse como o anúncio por parte dos sauditas que detêm uma posição de 10% no banco de apoiar a instituição. O mercado foi rápido a reagir e, esta quarta-feira, as ações do banco afundavam 24%, para atingir mais um mínimo histórico. Os investidores temem, no entanto, que os problemas que o banco suíço atravessa possam estar presentes noutras instituições europeias e alguns dos principais bancos franceses e alemães registam perdas superiores a 10%. Em Portugal, é o BCP quem comanda as perdas, com o preço das suas ações a descer 8,2%. 

“A confiança tem-se esbatido ao longo dos anos e já para o último aumento de capital foi necessária a participação da Arabia Saudita, o que também demonstra alguma dificuldade em captar investidores europeus. O CEO tem transmitido que o plano de reestruturação está em curso, mas o mercado está a ficar impaciente”, afirma Pedro Lino.

As perdas têm sido tão profundas que obrigaram o CEO do Credit Suisse, Ulrich Koerner, a vir a público garantir que a empresa tem uma base de liquidez “muito, muito forte” e que cumprirá todas as exigências regulatórias. Com os holofotes postos em cima da estabilidade financeira da banca europeia, Governos e reguladores devem também começar a ser pressionados para intervir e criar planos de contingência para precaver contra vários cenários.

“Se um qualquer banco com impacto sistémico tiver dificuldades sérias, é provável que isso provoque uma situação de receio em todo o sistema. Porém, os governos, os supervisores e a própria indústria também sabem disso e não creio estar a ser demasiadamente otimista em considerar que não só a monitorização está a ser feita como haverá planos de contingência a vários níveis para evitar uma situação desse tipo”, considera Filipe Garcia, presidente da Informação de Mercados Financeiros.

Mas toda a atenção recai sobre os bancos centrais. O colapso do Silicon Valley Bank (SVB), que ficou marcado pelo facto de o banco ter investido uma parte demasiado grande em títulos de longo prazo que desvalorizaram com a subida das taxas de juro, levantou o debate sobre a possibilidade de os bancos centrais virem a alterar por completo a sua política monetária. Visto pelos analistas como “a primeira vítima” da subida das taxas de juro, o impacto da queda do SVB já veio alterar as perspetivas que o mercado tem sobre a subida dos juros pela Reserva Federal. Agora, os especialistas acreditam que o Banco Central Europeu está a assistir com atenção à situação do Credit Suisse.

“O BCE também estará pressionado não apenas pelo SVB mas também pelo Credit Suisse, que tem um impacto na banca europeia - se a situação não for bem gerida pode espoletar uma crise de confiança. O mercado espera agora que o BCE termine a sua subida dos juros nos 3,3/3,25% contra os 4%, o que não deixa de ser uma boa notícia para as famílias, que finalmente vão ver um teto nas suas prestações à habitação”, refere Pedro Lino.

Na semana passada, as principais projeções apontavam para uma taxa Euribor a seis meses a 4,25%, nos próximos seis meses. Agora, essa projeção encontra-se abaixo, nos 3,75%. O impacto também se sente do outro lado do Atlântico, onde as expectativas estão a baixar em relação ao aumento esperado de 50 pontos das taxas de juro do dólar, na próxima reunião. Segundo o banco de investimentos Goldman Sachs, existe mesmo a possibilidade de a instituição liderada por Jerome Powell não mexer nas taxas. No entanto, na Europa todos os olhos estão postos na próxima reunião do BCE, que ocorre esta quinta-feira e onde é esperado um aumento de 50 pontos.

“O colapso de qualquer banco relevante teria, hoje em dia, impacto muito significativo, mas diria que é improvável que isso seja permitido (…) A reunião do BCE desta quinta-feira vai ajudar-nos a perceber em maior extensão qual a perspetiva dos Bancos Centrais”, destaca Filipe Garcia.

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