O consultor diz que não conhece a família das bebés e que não foi contactado com nenhum órgão de Estado, nem com a Presidência da República nem com o Governo
Acompanhado pelo seu advogado, António Andrade de Matos, o consultor José Magro revela que tentou chegar ao contacto com a médica Teresa Moreno depois de ter sido contactado por Eduardo Migliorelli, empresário brasileiro residente em Portugal. José Magro foi colega de Vítor Almeida, diretor dos Lusíadas, unidade privada onde a médica dá consultas e onde foi feito e depois desmarcado um agendamento para as bebés luso-brasileiras.
O consultor revela que não conhece a família das bebés e que não teve contacto “com o Presidente da República ou com qualquer membro da Casa Civil, nem com o primeiro-ministro ou membros do seu gabinete, nem com o secretário de Estado da Saúde, com o Hospital de Santa Maria”.
Quanto a Nuno Rebelo de Sousa, que diz conhecer profissionalmente, Magro diz que falou com Nuno Rebelo de Sousa sobre o tema, tendo o filho do Presidente da República avisado, já depois dos primeiros contactos, que iria chegar à neuropediatra “de outra forma”.
Aos deputados, José Magro explica que soube por Eduardo Migliorelli sobre as gémeas, tendo sido o empresário brasileiro a mencionar os nomes dos neuropediatras Teresa Moreno e José Pedro Vieira, este último médico no Hospital Dona Estefânia e que José Magro não contactou por não trabalhar nos Lusíadas. Só depois, e através de Eduardo Migliorelli, é que José Magro soube que Nuno Rebelo de Sousa também estava a par do caso das crianças, tendo trocado algumas mensagens e feito chamadas com o filho do Presidente da República sobre o caso entre os dias “8 e 15 de outubro” de 2019. Essas comunicações vão ser facultadas à comissão parlamentar de inquérito ao caso das gémeas tratadas com o medicamento Zolgensma.
“Aquilo que pedi [a Vítor Almeida, diretor dos Lusíadas] foi o contacto de Teresa Moreno. Em outubro de 2019, fiquei a saber que Nuno Rebelo de Sousa também pretendia o contacto da senhora Teresa Moreno. A 15 de outubro, sugeri a Nuno Rebelo de Sousa que fosse enviado um e-mail a Vitor Almeida e indiquei o meu e-mail”, diz, revelando que pediu para estar em cópia na troca de correspondência eletrónica para estar a par do caso e para “para tranquilizar a família das gémeas”.
No entanto, adianta, José Magro revela que “a 22 de outubro [2019] Nuno Rebelo de Sousa diz-me que não é mais necessário [contatos com Lusíadas], que ele vai fazer de outra forma”, mas nunca transmitiu “de que forma seria essa”. Segundo o relatório da Inspeção-Geral das Atividades em Saúde (IGAS), no dia 21 de outubro, Nuno Rebelo de Sousa remeteu um e-mail ao Presidente da República, solicitando a sua intervenção para o caso das crianças gémeas
E desde então, assegura, não se preocupou mais com o caso. “Depois de 22 de outubro [de 2019] não tive mais nenhum contacto com o caso. Só voltei a ter contacto este ano com o surgimento das notícias públicas”, diz.
O consultor José Magro deixa claro que não marcou nem desmarcou a consulta das gémeas no Hospital Lusíadas e que apenas tentou “obter o contacto da médica”, não sabendo que a mesma também trabalhava no Hospital Santa Maria. E acrescenta ainda que se envolveu neste caso para “ajudar apenas a conseguir o contacto de uma médica”.
“Fi-lo independentemente de quem me pediu, fi-lo por dever de cidadania, por sentido de humanidade e porque também sou pai e porque percebo a situação de angústia em que a família das gémeas estaria”, explica, adiantando que o fez porque foi pedido por pessoas que conhecia, neste caso, referindo-se a Eduardo Migliorelli.
José Magro trabalhou durante 40 anos em funções de gestão e atualmente é consultor empresarial. Foi funcionário da Câmara do Comércio e Indústria Luso-Brasileira, onde conheceu pessoas que diz agora estarem envolvidas neste processo, como é o caso de Nuno Rebelo de Sousa, que diz ter conhecido entre 2015 e 2017 e com quem atualmente mantém “uma relação cordial”. Entre 2009 e 2019 foi membro da Câmara do Comércio e Indústria Luso-Brasileira.