Médico Francisco Sampaio adiantou que a mãe das bebés se queixava da falta de produtos de apoio, no entanto, as bebés também já tinham recebido uma prescrição de duas cadeiras de rodas elétricas por parte do Centro de Reabilitação de Alcoitão quando foi feito o pedido pelo Hospital de Santa Maria
Francisco Sampaio, diretor do Serviço de Medicina Física e Reabilitação (MFR) do Hospital de Santa Maria, revelou esta sexta-feira que não entregou as cadeiras de rodas elétricas prescritas às gémeas lusobrasileiras pelo hospital por saber que as bebés tinham produtos semelhantes no Brasil.
“Expliquei que não iria entregar as cadeiras porque sabia que [as crianças] tinham cadeiras equivalentes, e que não era uma boa gestão do dinheiro público”, disse Francisco Sampaio na comissão parlamentar de inquérito ao caso das bebés tratadas com o medicamento Zolgensma.
As cadeiras de rodas foram prescritas a 20 de fevereiro de 2023 pelo serviço de Fisiatria do Hospital de Santa Maria, tendo chegado a esta unidade hospitalar no final de 2023. No entanto, no ato de validação da prescrição destas duas cadeiras, o médico considerou o valor “um pouco elevado”, tendo levado o tema ao Conselho de Administração do hospital. As duas cadeiras tiveram um custo de cerca de 26 mil euros.
“Foi durante esse período que precisei de perceber o que se passava neste inusitado caso”, que na altura já era público e tendo em conta que, à data, as crianças pareciam ter cadeiras semelhantes no Brasil. “Isso levantou-me um problema enorme”, contou.
A família das crianças acabou por nunca levantar estas duas cadeiras de rodas compradas pelo Santa Maria, que “ficaram à guarda do serviço, no sentido de lhes dar melhor uso”. “As cadeiras prescritas por Santa Maria, foram entregues em Santa Maria e nunca saíram de Santa Maria. Não me parecia que fosse uma boa gestão de dinheiro público”, destacou, dizendo que “o que a direção do hospital [Santa Maria] fez foi tomar uma deliberação no sentido de não se entregar as cadeiras e fornecê-las a quem delas necessitar”, disse.
O médico fisiatra Francisco Sampaio adiantou ainda que Daniela Martins, a mãe das bebés, queixava-se da falta de produtos de apoio, no entanto, as bebés também já tinham recebido uma prescrição de duas cadeiras de rodas elétricas por parte do Centro de Reabilitação de Alcoitão, onde estavam a ser seguidas. Esta duplicação de prescrição foi amplamente criticada pela deputada do PS Ana Abrunhosa, mas o médico criticou mais do que uma vez "o formalismo da lei", que faz com que não haja coordenação entre o SNS e o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão (gerido pela Santa Casa de Misericórdia de Lisboa, sob a tutela do Ministério da Segurança Social).
Numa declaração inicial antes de ser questionado pelos deputados, Francisco Sampaio explicou que tomou conhecimento do caso das gémeas deu-se em 2023, aquando da prescrição das cadeiras de rodas para as bebés. O médico adiantou ainda que nunca recebeu qualquer pressão ou qualquer contacto para fazer o que quer que fosse, seja por parte do conselho de administração ou tutela. O médico afirmou ainda que nunca contactou com as gémeas ou com os familiares das mesmas neste este “caso insólito e complexo”.