Jorge Amil: pediatra da Ordem dos Médicos alvo de queixa por defender suspensão das vacinas das crianças

9 fev 2022, 08:52
Vacinação pediátrica no Centro de Vacinação do Funchal

Polémica estala na Ordem. Dezasseis médicos apresentaram queixa contra presidente do colégio da especialidade que pediu a suspensão da vacinação dos 5 aos 11 anos, assinando duas cartas abertas. E exigem uma avaliação de conduta. Bastonário diz que “a Ordem não fala a duas vozes” e que a situação “tem de acabar”. O que pode passar pela destituição de Jorge Amil

Um grupo de 16 médicos, incluindo pediatras e elementos do Gabinete de Crise contra a Covid-19 da Ordem dos Médicos, apresentou uma participação contra o presidente do colégio de especialidade de pediatria Jorge Amil, por causa do processo de vacinação das crianças dos 5 aos 11 anos.

Informações recolhidas pela CNN Portugal revelam que os clínicos em causa pedem ao Conselho Disciplinar da Ordem que faça uma “avaliação de conduta” do médico, que foi um dos signatários de duas cartas abertas onde se pedia a suspensão da vacinação das crianças. O profissional assumiu publicamente dúvidas quanto à imunização na idade pediátrica

Na participação, os médicos alegam que algumas afirmações de Jorge Amil foram feitas “sem fundamentação” e que as duas cartas, que ele e outros clínicos assinaram a pedir que a vacinação fosse suspensa, fomentaram a confusão na população, criaram hesitação dos pais em vacinar os filhos e prejudicaram a ação da Ordem dos Médicos na prevenção da doença.

Segundo os autores da queixa, pode mesmo estar em causa uma violação do código deontológico dos médicos, nomeadamente no que se refere à proteção individual e de Saúde Pública.

 

 

Na queixa, os médicos alegam que o presidente do colégio de especialidade da Ordem fez afirmações graves sobre as vacinas contra a covid-19 sem qualquer fundamentação e desvalorizou a doença nas crianças. Além disso, sendo responsável da Ordem, ao pedir a suspensão da vacinação contrariou as posições das autoridades nacionais de saúde, do próprio bastonário, do gabinete de crise da Ordem e da Direção-Geral da Saúde (DGS).

A queixa foi entregue esta segunda feira no Conselho Disciplinar da Ordem, que é presidido por Maria do Céu Machado. O caso será agora analisado pelo órgão para decidir se será aplicada alguma sanção, como pedem os autores da queixa que consideram estar em causa uma infração disciplinar.

Jorge Amil assinou uma carta aberta com mais 26 profissionais a 25 de janeiro, apelando à suspensão da vacinação nas crianças dos 5 aos 11 anos. No documento, o presidente do colégio de especialidade e os outros signatários afirmaram que as “vacinas são consideradas ineficazes para a Ómicron” e exigiram uma investigação “a mortes súbitas e síncopes em adultos jovens, adolescentes e crianças ocorridas em Portugal depois de iniciadas as campanhas de vacinação nestes grupos etários." – mas não há, em Portugal, qualquer registo desta relação fatal.

A 3 de fevereiro, véspera do fim de semana dedicado pela DGS à vacinação das segundas doses das crianças, Jorge Amil voltou a aparecer como signatário de uma outra carta aberta, a pedir de novo a suspensão do processo, agora com 91 assinaturas.

"Esta situação tem de acabar", avisa bastonário dos médicos

A situação gerou mal-estar dentro da Ordem, nomeadamente com o bastonário dos Médicos, Miguel Guimarães, que adiantou à CNN Portugal que vai convocar um Conselho Nacional Executivo – o órgão que reúne os presidentes de todos conselhos regionais – para, entre outros, analisar este assunto. 

“É preciso falar sobre esta questão, pois não faz sentido uma pessoa que assume a presidência de um colégio de especialidade ter posições publicas diferentes da instituição”, diz o bastonário, recordando que recentemente Marques Mendes, no seu comentário televisivo semanal, chegou a criticar publicamente a Ordem dos Médicos por falar a duas vozes. “Não são duas vozes, é só uma, pois o Dr. Jorge Amil não fala em nome da Ordem”, reage Miguel Guimarães. Que reconhece que, ocupando ele “o cargo que ocupa, pode levar a essas interpretações”. O bastonário admite que Jorge Amil pode até vir a ser destituído. “Isso fica dependente da análise feita pelo Conselho Nacional Executivo”.

Para o bastonário, a forma como o pediatra Jorge Amil agiu acabou por colocar em causa a própria Ordem dos Médicos. Considerando que uma pessoa não pode falar um dia como médico e no dia seguinte como presidente do colégio de especialidade, Miguel Guimarães declara que "esta situação tem de acabar”, não podendo existir a ideia de que o bastonário é a favor da vacinação e o presidente do colégio de pediatria é contra. 

“A posição da Ordem é apenas aquela que o bastonário defende. E, neste caso, a posição é apoiar a vacinação promovida pela DGS”, remata.

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