Subvariante BA.2 da Ómicron pode ser mais grave e resistente a tratamento. O que diz o último estudo

CNN , Brenda Goodman
20 fev 2022, 17:00
Covid-19. Foto: Niels Christian Vilmann/AP

O vírus BA.2 - uma subvariante da variante Ómicron do coronavírus - não está apenas a espalhar-se mais depressa do que o seu primo distante, mas também pode causar doenças mais graves e parece capaz de contornar algumas das principais armas que temos contra a covid-19, segundo sugere uma nova pesquisa.

Novas experiências de laboratório do Japão mostram que a BA.2 pode ter características que a tornam tão propícia a causar doenças graves como as variantes mais antigas da covid-19, incluindo a Delta.

E, tal como a Ómicron, parece escapar em larga medida à imunidade criada pelas vacinas. Uma injeção de reforço renova a proteção, tornando a doença após a infeção cerca de 74% menos provável.

A BA.2 também é resistente a alguns tratamentos, incluindo o sotrovimab, o anticorpo monoclonal que está a ser atualmente usado contra a Ómicron.

As descobertas foram publicadas na quarta-feira como um estudo de pré-impressão no servidor bioRxiv antes da revisão por pares. Normalmente, antes de um estudo ser publicado numa revista médica, este é analisado ao pormenor por especialistas independentes. As pré-impressões permitem que a pesquisa seja partilhada mais rapidamente, mas são publicadas antes desta camada adicional de revisão.

"Pode ser, do ponto de vista humano, um vírus pior que a subvariante BA.1 e ser capaz de se transmitir mais depressa e causar doenças piores", afirma Daniel Rhoads, chefe da secção de Microbiologia da Cleveland Clinic, em Ohio. Rhoads reviu o estudo, mas não esteve envolvido na pesquisa.

A BA.2 sofreu uma grande mutação comparativamente ao vírus original causador de Covid que surgiu em Wuhan, na China. Também apresenta dezenas de alterações genéticas diferentes da variante Ómicron original, tornando-a tão distinta do vírus pandémico mais recente tal como as variantes Alfa, Beta, Gama e Delta eram umas das outras.

Kei Sato, investigador da Universidade de Tóquio que conduziu o estudo, argumenta que estas descobertas provam que a BA.2 não deve ser considerada um tipo de Ómicron e que precisa de ser controlada mais atentamente.

"Como sabe, a BA.2 é apelidade de 'Ómicron furtiva'", afirmou Sato à CNN. Isto deve-se ao facto de não aparecer em testes PCR como uma falha no gene alvo S, como a Ómicron. Portanto, os laboratórios têm de tomar medidas extra e sequenciar o vírus para encontrar esta variante.

"Estabelecer um método para detetar especificamente a BA.2 será a primeira coisa" que muitos países têm de fazer, afirma.

"Parece que esta poderá ser uma nova letra grega", concordou Deborah Fuller, virologista da Faculdade de Medicina da Universidade de Washington, que reviu o estudo, mas não participou na pesquisa.

Dados contraditórios do mundo real sobre a gravidade da subvariante

A BA.2 é cerca de 30% a 50% mais contagiosa que a Ómicron. Foi detetada em 74 países e em 47 estados dos EUA.

Os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA estimam que cerca de 4% dos norte-americanos com Covid-19, agora, têm infeções causadas pela BA.2, mas muitas outras partes do mundo têm mais experiência com esta variante. Tornou-se dominante em, pelo menos, 10 outros países: Bangladesh, Brunei, China, Dinamarca, Guam, Índia, Montenegro, Nepal, Paquistão e Filipinas, de acordo com o relatório epidemiológico semanal da Organização Mundial da Saúde.

Porém, há provas contraditórias sobre a gravidade da BA.2 no mundo real. As hospitalizações continuam a diminuir em países onde a BA.2 consolidou presença, como a África do Sul e o Reino Unido. No entanto, na Dinamarca, onde a BA.2 se tornou a principal causa de infeções, as hospitalizações e mortes estão a aumentar, segundo a OMS.

Resistente a tratamentos com anticorpos monoclonais

O novo estudo descobriu que a BA.2 consegue duplicar-se nas células mais rapidamente do que a BA.1, a versão original da Ómicron. Também faz com que as células se unam mais facilmente. Isto permite que o vírus crie aglomerados maiores de células, chamados sincícios, do que a BA.1. É uma situação preocupante, porque estes aglomerados tornam-se fábricas de produção de mais cópias do vírus. A variante Delta também criava sincícios facilmente, o que se crê que é uma das razões pelas quais era tão destrutiva para os pulmões.

Quando os investigadores infetaram hamsters com BA.2 e BA.1, os animais infetados com BA.2 ficaram mais doentes e tiveram pior função pulmonar. Em amostras de tecidos, os pulmões de hamsters infetados com BA.2 tiveram mais danos do que aqueles infetados com BA.1.

Semelhante à Ómicron original, a BA.2 conseguiu vencer os anticorpos no sangue de pessoas que foram vacinadas contra a Covid-19. Também era resistente aos anticorpos de pessoas que foram infetadas com Covid-19 no início da pandemia, incluindo as variantes Alfa e Delta. E a BA.2 demonstrou ser quase completamente resistente a alguns tratamentos com anticorpos monoclonais.

Contudo, havia um lado positivo: os anticorpos no sangue de pessoas que tiveram Ómicron recentemente também pareciam ter alguma proteção contra a BA.2, especialmente se também tivessem sido vacinadas.

E isto levanta um ponto importante, afirma Fuller. Embora a BA.2 pareça mais contagiosa e patogénica que a Ómicron, pode não vir a causar uma onda mais devastadora de infeções por Covid-19.

“Uma das ressalvas em que temos de pensar à medida que obtemos novas variantes que podem parecer mais perigosas é o facto de que há duas versões da mesma história”, explica Fuller.

O vírus é importante, afirma, mas como seus possíveis hospedeiros, nós também somos. "O nosso sistema imunitário também está a evoluir. E isso é o que está a repeli-lo", explicou. De momento, afirma, estamos numa corrida contra o vírus e a questão-chave é: quem está na liderança?

"O que queremos, em última análise, é que o hospedeiro esteja à frente do vírus. Por outras palavras, que a nossa imunidade esteja um passo à frente da próxima variante que aparecer e não sei se chegámos a esse ponto", afirmou.

Por este motivo, explica Fuller, ela sente que ainda não está na altura de as comunidades levantarem a obrigação do uso da máscara.

"Antes desta subvariante aparecer, estávamos a cerca de 3 metros da meta", afirmou. "Tirar as máscaras agora não é uma boa ideia. Apenas irá prolongar a situação. Vamos chegar à meta."

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