Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen já estudam uma solução para a variante que volta a colocar o mundo em suspenso
A variante da covid-19 apeldiada de Omicron está a deixar o mundo em suspenso. Muitos países já aplicaram restrições em relação a voos vindos de África, como foi o caso de Portugal, que suspendeu as ligações aéreas de e para Moçambique.
A incerteza em torno da mutação B.1.1.529 deve-se, em parte, ao desconhecimento em relação à eficácia das vacinas presentes nos mercados, numa altura em que a Europa parece caminhar de forma clara para uma quinta vaga, que já levou países como Alemanha ou os Países Baixos a aumentarem o nível de restrições.
Na União Europeia, e por extensão, em Portugal, quatro vacinas foram aprovadas para administração: Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen. Mas o que dizem estas farmacêuticas sobre a nova variante?
As quatro empresas já anunciaram que estão em andamento estudos próprios para atestar a eficácia da vacina na nova variante, que tem mais de 30 mutações, mas há mesmo quem apresente já um plano B. A Pfizer afirmou que, caso se verifique que a vacina não é eficaz contra a Omicron, vai desenvolver uma nova dose com capacidade para combater a nova mutação no espaço de 100 dias.
Para aferir isso, a farmacêutica norte-americana pede duas semanas, tempo no qual vai analisar os efeitos da vacina na variante: "A Pfizer e a BioNTech tomaram medidas há meses para poderem adaptar a vacina em seis semanas e começar a exportá-la em 100 dias, em caso de surgir uma variante", afirmou a empresa num comunicado.
A Moderna alerta para um "risco potencialmente significativo" perante a nova variante, temendo que a vacina produzida possa afetar a eficácia do produto.
"A variante recentemente descoberta inclui mutações vistas na variante Delta que podem aumentar a transmissibilidade e as mutações das variantes Beta e Delta, que podem escapar à imunidade", pode ler-se na nota da farmacêutica, que fala num "risco" elevado pela combinação de mutações.
Acautelando uma eventual resistência à vacina atual, a Moderna afirma que está a trabalhar de forma rápida para aferir a eficácia em neutralizar a nova variante, esperando novos dados nas próximas semanas.
Caso a vacina atualmente disponível no mercado, que inclui a dose de reforço, seja insuficiente, a empresa admite um cenário em que possa ser dada uma dose de reforço maior.
Outra possível solução, também em avaliação, é uma dose de reforço polivalente, situação que está a ser estudada com dois produtos diferentes. Uma terceira via é uma dose de reforço destinada em concreto para a variante Omicron.
"Temos três linhas de defesa nas quais avançamos em paralelo", explica o diretor-executivo da Moderna, Stephane Bancel.
A AstraZeneca tem já em curso um estudo no Botsuana e no Esuatíni, dois dos países considerados de risco, ainda que no caso do último ainda não existam casos confirmados. Acredita a farmacêutica britânica que, tendo sido naquela zona que surgiu a variante, se possa chegar a uma conclusão sobre a origem.
"Como no caso de qualquer nova variante, estamos a tentar perceber mais e qual o impacto na vacina", garantiu a empresa, que também vai testar um medicamento recentemente anunciado.
A Johnson & Johnson, que em Portugal entra pela subsidiária Janssen, já está a desenvolver estudos para aferir a eficácia da vacina.
"Estamos a acompanhar de perto a nova variante da covid-19 e a testar a eficácia da nossa vacina", sublinhou a gigante norte-americana, que promete trabalhar com "rapidez".
A triplicação da Delta e a urgência de medicamentos
O Centro Europeu de Controlo e Prevenção de Doenças (ECDC, na sigla original) foi rápido a alertar que a nova variante suscita “sérias preocupações de que possa reduzir significativamente a eficácia das vacinas e aumentar o risco de reinfeções”. Até agora só um caso da mutação foi detetado na Europa, mais concretamente na Bélgica, mas os especialistas dizem que é altamente provável que a variante acabe por chegar Portugal.
"Portugal não fugirá à regra, há essa probabilidade [de ser apenas uma questão de tempo]", afirma Vítor Borges, investigador no Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge, que explica à CNN Portugal que as mutações existentes fazem prever uma consequência na eficácia das vacinas.
Esta é uma variante que deriva da Delta, mutação que, por si só, já era mais contagiosa e resistente. De acordo com o especialista, a Omicron tem três vezes mais mutações (serão mais de 30), as quais podem ter um impacto na eficácia das vacinas.
"Com esta combinação de mutações pode-se prever que possa ter impacto na efetividade da vacina", acrescenta Vítor Borges, que lembra que tudo é ainda "muito incerto", uma vez que a variante é muito recente.
Em Portugal a chegada da variante já está a ser preparada, e a situação já foi mesmo discutida na reunião do Infarmed que decorreu a 19 de novembro, como disse o Presidente da República.
É nesse sentido que a Direção-Geral da Saúde pede uma atenção redobrada ao cumprimento das medidas de segurança. No relatório das Linhas Vermelhas publicado esta sexta-feira, aquela autoridade pede muita atenção à Omicron, até porque a tendência da pandemia em Portugal é "crescente".
O também investigador Miguel Castanho diz que é necessário esperar para que se perceba melhor o que está em causa com a Omicron, mas refere que é prudente manter uma atitude vigilante nesta fase.
Sobre o maior número de mutações, explica o especialista que são esperadas mudanças, mas que não é ainda possível prever quais.
"Temos focado sempre a questão sempre nas vacinas, e foi um erro desde o início. Existe outro vetor, os medicamentos, que não têm nada que ver com a proteína spike", lembrou.
Assim, diz Miguel Castanho que é necessária uma maior aposta em novos medicamentos contra o vírus, até porque existem algumas partes do mundo, como é o caso de África, onde a vacinação ainda não atingiu valores suficientemente elevados.
Com mais de 100 casos identificados em cinco países (África do Sul, Hong Kong, Israel, Bélgica e Botsuana), a variante Omicron provocou por estes dias um autêntico terramoto social, mas também a economia foi afetada. Resta esperar pelos novos estudos para que se perceba quais os reais efeitos.