Manuel Carmo Gomes: “Andam a insinuar que eu quero que as pessoas se infetem. É falso e muito injusto”

31 dez 2021, 08:20
Manuel Carmo Gomes

Epidemiologista garante que nunca defendeu a infeção natural como estratégia de imunidade de grupo, apela a mudanças na forma de rastrear e diz que as pessoas devem evitar ser contagiadas

Numa altura em que começa a existir alguma divisão entre os peritos quanto à ideia da imunização natural da população com a Ómicron, o epidemiologista Manuel Carmo Gomes garante, em declarações à CNN Portugal, que nunca defendeu que essa fosse a forma de atingir a imunidade de grupo. “Aliás, não existe imunidade de grupo com os coronavírus”, mesmo que sejam todos infetados, avisa o especialista, sublinhando que as características deste vírus não o permitem.

Carmo Gomes esclarece que o que explicou foi que a Ómicron vai permitir uma imunidade natural às pessoas. “Mas não defendo que seja preferível apanhar”, alega, acrescentando: “Deve-se evitar apanhar, em especial quem não tem a terceira dose, mantendo-se as regras de distanciamento e todas as habituais recomendações”.  

Por isso, contesta a ideia que se criou de que é um adepto da chamada disseminação e imunização natural como a nova forma de enfrentar a pandemia: “Anda para aí gente a insinuar que quero que as pessoas se infetem, o que não só é falso como é muito injusto”.

"É impossível rastrear tudo"

Na sua opinião, o mais urgente é que se façam mudanças na forma de rastrear. “O que eu disse é que é urgente reforçar a primeira linha de defesa, a Linha de Saúde 24, e que devemos deixar de querer detetar exaustivamente todos os contactos de casos. É impossível rastrear tudo com a Ómicron”.

Para o perito e membro da Comissão Técnica de Vacinação da Direção-geral de Saúde, o país tem de ser “muito mais seletivo nos rastreios, encurtar o período de isolamento, o que  já foi feito, desburocratizar o trabalho da medicina familiar e desdramatizar os números de casos”. Ou seja, resume, é preciso “mudar para um paradigma de equilíbrio entre, por um lado, atrasar a propagação e, por outro, não ficar agarrado à obsessão de rastreio exaustivo que põe de rastos a Saúde Pública e os médicos de família”.

O epidemiologista apela ainda que as autoridades de saúde façam “uma grande campanha informativa sobre como proceder quando se foi contacto de caso confirmado ou quando se tem sintomas”. “As pessoas têm de ter as orientações que a Linha de Saúde 24 não está a conseguir dar, senão vão para os centros de Saúde ou para os hospitais desnecessariamente”.

E a razão é simples, afirma: “A Ómicron vai infetar um enorme número de pessoas imunizando-as naturalmente, quer queiramos quer não, é inevitável”.

 

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